Lisboa - Bonga: “Quero lembrar, sobretudo, na minha qualidade de kota, de mais velho com 74 anos, que no tempo colonial as prisões estavam cheias de nacionalistas e o povo africano reagia com veemência. E nós hoje parece que ficamos um tanto ou quanto adormecidos perante os acontecimentos”, afirmou Bonga ao Rede Angola.

 

Fonte: RA

 

Bonga: “O povo reagia, em surdina, com a música, com manifestações nos musseques, com panfletos. E agora o que é que se passa? Como é que esse povo, que faz parte da mesma família, não reage como reagia no tempo colonial? Então, não era suposto a independência trazer melhorias do ponto de vista da democracia e da liberdade?”, questionou o músico que tem mais de 40 anos de carreira.

 

 

Paulo Flores lamentou hoje a condenação dos 17 activistas, afirmando que lhe “parece um caso de corte de liberdade onde os jovens não podem expressar o seu sentimento sobre tudo o que há de errado no país”. “Como cidadão, a condenação deixa-me mais triste e com a certeza de que o país vai no caminho errado”, disse, adiantando que viu “desde o início uma reacção excessiva”. “Tinha esperança de que, se calhar, houvesse bom senso de fazer as coisas de maneira pacífica. À primeira vista não contava com isso”, finalizou.

 

João Pinto: O jurista, professor universitário e deputado do MPLA, João Pinto, disse ao Rede Angola que “a justiça angolana demonstrou que não é pressionável”. “Estes jovens não foram detidos por estarem reunidos. Eles foram detidos por prepararem actos que podem colocar em causa as instituições do país: e não podemos nos esquecer que a nossa sociedade vive um período pós-conflito. A democracia tem regras, por vezes fastidiosas, mas temos de acreditar nas instituições.

 

A condenação de hoje é passível de recurso para o Tribunal Supremo e para o Tribunal Constitucional, em última instância”, afirma João Pinto. O deputado do MPLA diz-se “triste com a condenação”, frisando que os activistas “poderiam estar a dar o seu contributo ao país de outra forma”. “Estas situações são, sobretudo, desgastantes para as suas famílias. Também me parece que as pressões sobre o juiz foram muito fortes: desde a União Europeia, a deputados portugueses e brasileiros, meios de comunicação. O problema é que as pessoas confundem política com justiça”.

 

“Independentemente desta decisão que tomaram, e tomaram porque estavam numa corda bamba, estavam num dilema, foram tantos prejuízos causados internamente e externamente na esfera do tribunal e até mesmo no nome do titular do executivo, o senhor presidente da República, tiveram que encontrar uma solução, e só se lembraram desta. Se não condenassem sairiam mal na fotografia. Então optaram pelo mais gravoso.