Luanda - O clima entre as tribos políticas em Angola está cada vez mais tenso, face aos elevados índices de desemprego, pobreza, injustiça, fome, má gestão da coisa pública, discriminação e corrupção institucional.

Fonte: Folha8

O murmúrio de contestação campeia em cada beco, carreiro, ruela dos recônditos pontos do nosso sofrido país e, se as eleições gerais fossem hoje, seguramente, que José Eduardo dos Santos perderia, como cabeça de lista e concomitantemente, o MPLA, não conseguiriam sequer passar a fasquia dos 20% das intenções de votos.

O F8 fez uma sondagem, durante dois meses e meio por dez (10) províncias: Luanda, Huíla, Huambo, Bié, Cabinda, Zaire, Malanje, Uíge, Kwanza Sul e Lunda Norte, inquirindo um universo de cerca de 5100 eleitores.


A reprovação ao Titular do Poder Executivo e ao MPLA recuou a níveis nunca antes conhecidos, quando antes do final de 2014, tinha um nível de aprovação de 61% dos angolanos, para 20% hoje.


Esses números, já do conhecimento do próprio partido no poder, representam o pior índice de contestação popular ao MPLA, habituado a políticas de aliciamento e corrupção, mas, no actual contexto, muito dificilmente, conseguirá reverter o âmbito da reprovação geral das suas políticas, pelos cidadãos, desde 2012, registados pelo F8.


Para isso contribuiu a má política económica, a criação de monopólios partidocratas na economia, as injustiças contra os amantes da democracia, o acesso selectivo aos melhores empregos e aos financiamentos bancários, o fim das actividades liberais, impondo severos impostos aos pequenos e médios comerciantes, o roubo descarado dos fiscais aos produtos das zungueiras e ambulantes, a mando dos governadores do partido no poder.

Assim, as respostas dos entrevistados aos quesitos;

1) Como vê o desempenho do Titular do Poder Executivo;
2) O que acha sobre a Economia;
3) Que opinião tem sobre a Saúde Pública;
4) Como considera o sistema de Educação;
5) Aprova o sistema de Ensino Superior e o fim da democracia nas universidades públicas;
6) Que opinião tem sobre o sistema bancário;
7) Confia no sistema de Justiça;
8) Quem considera ser o grande responsável pela corrupção;
9) Acredita na democracia em Angola;
10) Que opinião tem do MPLA;
11) Que Opinião tem da UNITA;
12) Que opinião tem da CASA–CE;
13) Que opinião tem do PRS;
14) Que opinião tem da FNLA;
15) Que opinião tem dos outros partidos da oposição?

encaminharam-se para gráficos de reprovação, entre Agosto de 2015 a Fevereiro de 2016, a índices de 45% para 20% contra o Titular do Poder Executivo, a quem a maioria considera ter um desempenho ruim, enquanto o partido no poder, MPLA, está com 22%, contra 38% da UNITA e 35% da CASA-CE, existindo uma taxa de 10% a 12% que consideram positivo o desempenho do Presidente Dos Santos e do MPLA, enquanto 2% não opina, por temer represálias.

“Sr. jornalista, fica só assim, pois eles têm tudo e não brincam, se os miúdos por lerem um livro estão na cadeia, nós povo, como será?”.

Na realidade o desempenho de José Eduardo dos Santos, com o poder absoluto que detém não tem estado a mobilizar novos votantes, pois a sua aceitação é muito baixa e uma faixa de 4,5%, não acredita na capacidade dele reverter a situação através de meios democráticos.

O inquérito foi realizado nas 10 províncias por um conjunto de sessenta (60) inquiridores voluntaries, coordenados pelo director do F8, entre Agosto de 2015 e Fevereiro de 2016, com 3.841 entrevistas em 85 localidades entre províncias e municípios.

A margem de erro da pesquisa é muito reduzida. para mais ou para menos, considerando um nível de confiança de 90% e o período corresponde às prisões dos 15+1 jovens políticos, ao massacre no Monte Sumi e à prisão de José Julino Kalupeteka, as prisões de Marcos Mavungo e Arão Tempo, a crise do sistema bancário e o alto nível de desemprego.

Na pesquisa ficou patente ser, para a maioria dos inquiridos, o Presidente Eduardo dos Santos o responsável pelos altos níveis de corrupção, que enriqueceram o seu clã, logo é visto como o factor de instabilidade, principalmente, por considerarem, também, ser a UGP um exército privado, que atemoriza, os próprios dirigentes do MPLA e da oposição.

Sobre a má gestão da política económica, 80% dos inquiridos defende que a Assembleia Nacional deveria abrir um processo judicial contra o Presidente da República, face aos escândalos financeiros envolvendo os filhos e membros do seu gabinete, enquanto 15% defende as políticas seguidas por Dos Santos e o MPLA, mas 5% não tem opinião.


Esses resultados mostram um clima de saturação e rejeição, em relação aos 40 anos de gestão do MPLA e 36 de poder, sem nunca ter sido nominalmente eleito, do Presidente José Eduardo dos Santos, que antes da crise: 2014, tinha uma aceitação de 51%, contra 28% contrários.

À pergunta se acreditam numa saída voluntária do poder de Eduardo dos Santos, 76% dizem que não. “Ele só sairá do poder morto, através de um golpe palaciano ou de uma revolução”, diz essa esmagadora maioria, sendo que os restantes partilham que sim, 24%, e os que não respondem os restantes.


Como se pode verificar, hoje uma maioria dos angolanos, podendo expressar-se livremente, não vota na manutenção de José Eduardo dos Santos no poder, tanto que mesmo no nível de aceitação, o MPLA tem mais apoiantes; 38%, contra 12% do actual presidente.

Chivukuvuku e Samakuva lideram preferências

Os inquiridos questionados sobre quem seriam os políticos mais bem posicionados para substituir Dos Santos, na Presidência da República, quer no interior do partido no poder como nos da oposição, o nome mais citado é o de Abel Chivukuvuku, com 48%, Isaías Samakuva 36% e Fernando da Piedade Dias dos Santos com 12%

Entre os cidadãos com menos instrução, em Luanda, Benguela, Bié, Cabinda e Lubango, o mais popular é Abel Chivukuvuku, com 47% enquanto nas restantes Samakuva lidera com 39,5% e Fernando da Piedade Dias dos Santos, em Malanje obtém a preferência de 19%.

No segmento universitário e feminino a simpatia por Chivukuvuku é bastante elevada, chegando a casa dos 51%, cabendo a Samakuva 25% e 10% optam por Nandó.

Corrupção segundo mal depois da guerra

José Eduardo dos Santos é o pai da criança: “a corrupção é o segundo mal depois da guerra”, mas infelizmente quem deveria dar combate cerrado a este mal, como apregoou, num discurso que leu, talvez, sem alma, por ter sido escrito por terceiro, aparece, em todas as pautas, acusado de ser o padrinho desta ferida que corrói a sociedade.

A corrupção é o principal problema do país e aquele que mais revolta causa aos inquiridos, convictos de não haver combate, por estar institucionalmente alojada, por beneficiar a família do Presidente da República, cujos filhos são bilionária e milionários, para além da elite partidocrata, um universo de cerca de 3% da população, mas que controla 80% da riqueza do país. Por este motivo 90% não tem dúvidas, que a única solução para salvar o país da hecatombe é uma mudança de regime.


Uma situação tão grave, como o país está a atravessar, não se resolve com paliativos, mas com saídas radicais. Os autóctones angolanos, cônscios do momento devem ser capazes de se libertarem do “colonialismo partidocrata e poder absoluto de um homem só”, nas urnas, em 2017, se ainda acreditam, que através do voto útil, seja possível, uma alternância de regime.


F8 apurou, no entanto, através do presente inquérito, que 75% dos eleitores não acredita na actual democracia, que de participativa apenas tem o texto constitucional, porque na prática, dizem, não existir transparência das eleições, por vício de todo sistema; eleitoral, judicial e executivo, pelo que, ao ser realizado o próximo pleito, “o país pode entrar em conflito se houver renovação da fraude”, defendem 65% dos inquiridos, enquanto 29% é de opinião que o MPLA poderá mudar e obrigar o seu líder a fazer o mesmo, em nome da estabilidade.


Em todas as províncias, a corrupção é associada a um rosto e um nome: José Eduardo dos Santos, sendo este facto o responsável pelos baixos índices de popularidade, que arrastam, por via disso o MPLA, apontado como um partido sem soluções, para produzir mudanças, radicais, tal é o estado da saúde, educação e desemprego, apontados como os piores sectores do gabinete do Titular do Poder Executivo, que segundo 63% dos inquiridos, Dos Santos tem uma apetência natural pela incompetência.


Assim, depois da corrupção, a saúde ocupa a segunda posição, com 24%, depois a educação com 18%, o desemprego, com 9%, a fiscalização, pasme-se, face ao roubo descarado as zungueiras e ambulantes, com a cumplicidade dos governadores provinciais tem 8%, a violência, a Polícia Nacional e as FAA, 6%, a economia e finanças com 5%, os dirigentes e políticos do partido no poder com 2%, inflação 3%, a pobreza, a fome e a miséria galopante com 2%, surgem como os que têm pior desempenho.


F8 pretendeu, com base nesta experiência, observar o nível de esperança dos angolanos e, para nossa surpresa, a desconfiança é o pico maior, face ao índice de corrupção, do desemprego e do estado de saúde. José Eduardo dos Santos e o MPLA, se as eleições fossem hoje, teriam a mais estrondosa derrota, podendo mesmo ficar nos 38% dos votos validamente escrutinados. Mas um cenário destes, segundo os inquiridos levará o país para a guerra, pois não acreditam que o actual regime aceite as regras do jogo democrático.


Durante décadas, o MPLA teve o apoio genuíno, especialmente nas cidades costeiras que foram o seu bastião durante a guerra, e entre aqueles angolanos que estavam traumatizados pelo conflito e que, por isso, viam o voto em qualquer representante do MPLA, por muito venal que fosse, como a opção que representava o menor risco de um regresso das hostilidades.

O regime deixa, por regra, pouca coisa ao acaso, dominando os media, nomeando os seus lacaios para dirigir as instituições que levam a cabo as eleições, cooptando políticos da oposição e intimidando os opositores. Kopelipa, por exemplo, presidiu a um aparelho eleitoral que deixou 3,6 milhões de pessoas impossibilitadas de votarem: quase tantos votos como o MPLA teve.

A percentagem de votos do MPLA caiu 9 pontos comparando com as eleições de 2008, mas registou ainda assim uma vitória esmagadora, com 72 por cento dos votos.


Mais de três décadas depois de tomar o poder, José Eduardo dos Santos podia dizer que tinha um mandato para governar, apesar das revelações de uma reputada sondagem de opinião que mostravam que tinha a aprovação de apenas 16 por cento dos angolanos, segundo o Financial Times.

Cerca de metade da população de Angola vive abaixo da linha internacional de pobreza de 1,25 dólares por dia. Para dar uma ideia, podemos dizer que a esses mais-pobres levar-lhes-ia, a cada um, cerca de 260 anos para ganhar o suficiente que lhes permitisse comprar o apartamento mais barato no Kilamba.

O partido no poder prometeu electricidade na campanha eleitoral de 2008, mas pouca chegou e nada ou muita coisa sobrou da última promessa de abastecer água canalizada, feita no período que precedeu as eleições de 2012. E entretanto, o governo gastou 1,4 vezes mais na Defesa do que na Saúde e na Educação em conjunto. Por comparação, o Reino Unido gastou quatro vezes mais em Saúde e Educação do que na Defesa.

Citemos ainda o Financial Times: “Os generosos subsídios ao combustível são apresentados como um bálsamo para os pobres, mas na verdade, fundamentalmente beneficiam os suficientemente ricos para poderem ter carro e os politicamente relacionados para ganharem uma licença de importação de combustível. O governo de Angola meteu petro-dólares em contratos para estradas, habitação, caminhos-de-ferro e pontes a um ritmo de 15 mil milhões de dólares por ano, na década até 2012, uma soma enorme para um país com 20 milhões de pessoas. As estradas estão melhores, os caminhos-de-ferro estão lentamente a chegar ao interior, mas a explosão na construção também se revelou uma benesse para os burlões: calcula‐ se que os subornos sejam responsáveis por mais de um quarto dos custos finais dos contratos de construção do governo. Além disso, muito do financiamento é feito sob a forma de crédito da China garantido pelo petróleo, sendo que muito desse crédito é controlado por um departamento especial que o general Kopelipa dirige há anos”.


*Com inquiridores voluntários