Luanda - As sentenças aplicadas esta segunda-feira, aos ativistas angolanos são "políticas", um "erro estratégico" do MPLA e do Presidente de Angola e irão "reativar" a onda de solidariedade para com os jovens, disse hoje o escritor José Eduardo Agualusa.

Fonte: Lusa

Em declarações à agência Lusa, o escritor angolano referiu que a decisão do tribunal de Luanda, que condenou hoje os 17 ativistas a penas entre dois anos e três meses e oito anos e seis meses de prisão efetiva, mesmo que, com os recursos, o "Governo venha a recuar", os "estragos já estão feitos".

"Enquanto processo político, acho que é um erro estratégico enorme por parte do partido no poder e do próprio José Eduardo dos Santos, porque o regime está muito enfraquecido, a atravessar uma situação muito difícil, com problemas económicos e sociais gravíssimos e com acusações graves por parte de instituições importantes, como o caso recente da Igreja Católica", salientou.

"É uma sentença política, uma vez que o processo é político, muitíssimo rocambolesco, com muitas situações estranhas ao longo do processo, que culminou com esta acusação final, de associação de malfeitores, que não era sequer uma acusação inicial", acrescentou.

Para José Eduardo Agualusa, avançar com condenações "tão pesadas" não parece ser uma boa ideia.

"No imediato, o que vai acontecer é a reativação de todo o movimento de solidariedade para com estes jovens e a reativação da contestação interna, além de um desgaste maior a nível internacional da imagem do próprio Presidente e do regime angolano", frisou.

"Este processo, insisto, é político, as decisões são políticas, tomadas a partir de cima, e ainda que haja um recuo depois, entretanto os estragos já terão sido feitos", opinou, considerando que, desta forma, "não há veredicto possível do ponto de vista de funcionamento da justiça", uma vez que as acusações são "fantasiosas".

Os ativistas, que estavam a ser julgados desde 16 de novembro de 2015, foram igualmente condenados por associação criminosa pelo tribunal.

No caso do 'rapper' luso-angolano Luaty Beirão, a pena, em cúmulo jurídico também por falsificação de documentos, foi de cinco anos e seis meses de cadeia.

Domingos da Cruz, um dos réus, foi condenado enquanto líder da associação criminosa a oito anos e seis meses de prisão.

Defesa e Ministério Público anunciaram recursos da decisão.

Os ativistas recusaram sempre as acusações imputadas e garantiram em tribunal que os encontros semanais que promoviam - foram detidos durante uma destas reuniões, a 20 de junho - visavam discutir política e não qualquer ação de destituição do Governo ou atos violentos.