Luanda - Certamente perguntarão em que arcabouço me conglutinei para “alvitrar” a temática supra epigrafada. A minha resposta é elementar, óbvia, contudo insidiosa: os hospitais, caso prove­se contrário, surgem como vocação primária para curar/melhorar os combalidos (físico, psicológico e emocional). Estando cônscio dessa belíssima inteireza, preocupa­me de forma profunda e penosa as unidades hospitalares da nossa Angola que apresentam­se com vocações aparentemente “sofisticadas” das virguladas no prólogo dos tempos. Para melhor luzir o exposto, devemos formular a seguinte pendência:

Fonte: Club-k.net

Quando os hospitais estão doentes quem deve curá­los?

Tenho ouvido com alguma consternação de que em vários hospitais do País experimenta­ se a falta gritante de dois principais e elementares recursos: MÉDICOS e MEDICAMENTOS. Caso haja alguma dúvida, basta uma ronda pelas diversas unidades de saúde para se constatar a realidade de quem procura com algum ímpeto os cuidados médicos. Ipso facto e, numa perspectiva psicológica behaviorista de E­R (estimulo – resposta), morre­se por dia muita gente (especialmente crianças e adolescentes) que serviriam para engrossar as Estatísticas de Angola, dentro do quadro daqueles que eventualmente dariam um grande contributo para o catalavancar factível e crível da mesma.

Como se não bastasse, e para piorar, as pessoas sucumbem por falta de seringa, algodão, medicamentos, termómetro, luvas... Crianças e adultos, deitam­se nas camas frugais existentes e outros nos corredores. A febre­amarela e o paludismo dominam a lista das doenças que marcam a actualidade angolana, na matéria em questão. Além da carência de espaços e camas, os hospitais também não têm sangue. UAUÉ! Com toda essa situação, os profissionais de saúde aderiram ao famoso ataque de pânico porque nunca assistiram um filme com tantos terrores como o que assistem no coetâneo. Numa perspectiva de que “aquele que não chora não mama”, os hospitais (particularmente os de Luanda) lançaram um SOS à Sociedade, no sentido de pedir diversas ajudas para se reverter o actual quadro “negro” com que “estão a viver com ele”. Com a grande partilha de informações sobre a precariedade nos hospitais públicos, várias pessoas juntaram­se e lançaram um alerta para ajudar a “curar” os hospitais ou minimizar o sofrimento de quem por lá infelizmente corre no intuito de encontrar a solução para o seu grande problema. Pelas redes sociais vão se multiplicando várias campanhas de recolha de medicamentos e materiais hospitalares. A organização pede soro, seringas, paracetamol, quinino, antibióticos, luvas, compressas e artemer em ampolas.

Ante o cenário deploravelmente consternador que se vive no país e que foi minimamente exposto em epígrafe, duas questões não se querem emudecer:

Quem deveria curar os hospitais não são aqueles os fizeram existir?


Pedir apoio na sociedade que também “precisa de apoio” não é “abuso de confiança?

Poderíamos elencar para a presente reflexão variadíssimas questões a respeito, mas seja como for a situação em que o país vive não tem como causa CRISE nenhuma, já nunca teve. “Essa crise não pode vir aqui e começar a ludibriar as pessoas”. Num país com imensos recursos (humanos, minerais, hídricos, florestais...), esse cenário absolutamente vergonhoso, vil e sórdido já não deveria ter lugar. DEPLORAVELMENTE!

Penso que a Carta Magna da República de Angola devia ser reverenciada e vivenciada por todos (topo­base). Ela sagra e consagra no seu articulado 30o “O Estado respeita e protege a vida da pessoa humana...”. No mesmo diapasão nos diz o Artigo 21o (Tarefas fundamentais do Estado), na alínea i) “o Estado angolano deve efectuar investimentos estratégicos, massivos e permanentes no capital humano... bem como na educação e saúde...”. Postula o 22o (Principio da Universalidade), no seu ponto 1o “todos gozam dos direitos, das liberdades e das garantias constitucionalmente consagradas...”. Se quisermos adensar os supra referenciados visitemos o 77o (Saúde e Protecção Social), no seu ponto 1o “O Estado promove e garante as medidas necessárias para assegurar a todos o direito à assistência médica e sanitária...”. Com todos esses acepipes ainda existem dúvidas sobre quem deveria “curar” competente e urgentemente os hospitais? Onde é que vem escrito que quando nos hospitais faltarem médicos, medicamentos e outros materiais, dever­se­á buscar solução na sociedade; nos pobres cidadãos? Se a solução da doença dos hospitais está com o pobre cidadão, então quando o mesmo coitado cidadão estiver enfermo a quem irá recorrer? Essa pirâmide há muito vem sendo invertida.

Angola precisa de tudo e de todos vivos. Não criemos ilusões nem fantasmagorias desnecessárias. Só teremos uma Angola diferente desta que temos hoje, caso cada um fizer bem a sua parte e com bastante juízo e respeito pelos demais. Quando já não se pode fazer bem, há sempre alguém que pode fazer melhor. Se a nossa aposta não for seriamente direccionada para o sector da Educação nem da Saúde, então estaremos mais doentes que as próprias doenças juntas. Qualquer sociedade séria e certa, tem como cajados indispensáveis os dois grandes sectores ora citados. Não se pode desenvolver um país com analfabetos, nem muito menos com doentes ou até mortos. Afinal não foi sem razão que os clássicos latinos apregoaram: “mens sana in corpore sano” (uma mente sã num corpo são). Ipso facto, a Educação e Saúde são temas que devem continuar a merecer grande reflexão e respeito do executivo angolano, bem como de todos os actores vivos da sociedade. O AMANHÃ DE ANGOLA DEPENDE DO HOJE QUE ANGOLA FAZ. Se não depender, o futuro de Angola não terá futuro!

Quando notarmos que os próprios hospitais estão mais doentes que os cidadãos, o melhor mesmo é fechá­los com todas as suas doenças. Quando um cidadão prefere morrer já em sua casa, com o medo de ser contaminado pelo doente hospital, então é caso para se dizer que alguém não anda cumprir de forma responsável com os seus deveres. A sociedade é chamada a repor a legalidade.

Outrossim, conheço e reconheço a minha autêntica e gigantesca opacidade intelectual e incompetência consciente em muitas matérias que conformam o país. Contudo, sei que muitos, se calhar, já dominam o assunto, mas a minha ingenuidade aterroriza­me e impinge­me a perguntar a quem saiba: afinal onde poderei encontrar o remanescente da venda dos barris de petróleo quando estes viviam sobre as vacas gordas? Será que só o único que não mereço saber? Isso assim é pecado! Então se eu não posso saber dessas coisas, quem teve a ousadia de me colocar como SOBERANO no Artigo 3o, ponto 1o, na Constituição da República? Será que posso dirigir­me ao Tribunal Constitucional para retirar­me esse poder que já não sei se “lhe quero mais”?

Seria bom que levássemos a sério primeiro os angolanos e depois os outros recursos que o país ostenta. O inverso é inválido. Devíamos aproveitar e canalizar todos os nossos recursos a favor e para o bem de todos, de modo a que ninguém mais sucumbisse por falta do elementar e do sempre necessário.

Portanto, juntos podemos catalavancar está Angola que é de todos nós. Essa visão só será visionária caso se efectue uma aposta séria, certa e com coragem nos dois grandes pilares: EDUCAÇÃO E SAÚDE. Caso não se faça essa aposta com algum receio injustificado, transitaremos freneticamente rumo ao pináculo da “desgraça”. Entretanto, oxalá paremos de assistir ao vivo e a cores o episódio de muitos dos nossos irmãos a padecerem e a fenecerem nos estabelecimentos hospitalares doentes, aguardando serenamente por um milagre extemporâneo para metamorfosear o actual quadro. Se não fizermos nada, os únicos milagres também serão cunhados de NADA. Que em Angola resista sempre e sempre o princípio latino IN DÚBIO PRO VITAE.

Já fui mais optimista, mas haver vamos! Tudo é possível, até mesmo o impossível...

VIVA O POVO ANGOLANO!