Lisboa - Feitiço contra o feiticeiro. Como que a atirar areia para os olhos de centenas de professores revoltados, o presidente do Sindicato da Educação mostra facturas pró formas ao invés dos comprovativos da compra dos carros. Os valores finais podem ser superiores ao simples referencial destas facturas. Sobre os carros de luxo, os famosos V8, nem uma única palavra, à semelhança do que acontece em relação aos gastos nas pousadas/pensões.

*Carlos André
Fonte: Club-K.net

Laurindo cai na sua própria esparrela 


Quando, há quase oito anos, dois membros do Sindicato da Educação e Cultura, Juventude e Desportos e Comunicação Social de Benguela, um deles já falecido, bateram com a porta de saída, indignados devido ao que chamavam de ‘’gestão danosa e falta de transparência’’, sabiam bem do que falavam. Hoje, com a organização mais robusta do ponto de vista financeiro, à boleia do aumento salarial a favor dos milhares de filiados, facilmente se percebe a aludida aversão à transparência na gestão de fundos provenientes do associativismo.

A providência contra os jornalistas João Marcos e Horácio dos Reis, no Tribunal Provincial de Benguela – Sala do Cível e Administrativo – há cerca de um mês, proporciona elementos que podem afundar o próprio José Joaquim Laurindo, presidente do Sindicato, numa espécie de efeito dominó.

Nesta providência especial adequada à tutela geral da personalidade humana, da honra e bom nome e reputação, com a qual Laurindo pretende a retirada de matérias publicadas no jornal A Capital e no portal Pérola das Acácias, o Sindicato (requerente) apresenta facturas pró formas no valor de 30 milhões e 525 mil Kwanzas, destinados à compra de viaturas. A queixa, que tem como pano de fundo críticas relativas a investimentos em viaturas e pensões/residenciais, quando centenas de filiados dizem que não têm apoios, mostra que as facturas foram passadas pela firma AJ COMERCIAL, para a qual Laurindo recorreu depois de ter ‘’rasgado’’ um contrato com José Luís Borges.

O Sindicato diz que foi ‘’defraudado’’ por JLB, de quem esperava receber 44 viaturas, mas não revela quanto desembolsou ao jovem empresário, detentor de interesses também nas áreas imobiliária, hoteleira e de prestação de serviços.


Os valores patentes na providência, que não passam de um referencial (facturas pró formas), podem, afinal de contas, ter sido suplantados pelo orçamento que assegurou as viaturas adquiridas. Aliás, é nesse mesmo documento que o Sindicato confirma ter comprado viaturas com o montante devolvido pela firma de José Luís Borges, proveniente de um crédito concedido pelo Banco de Poupança e Crédito – Agência Central de Benguela.

Informações obtidas pelo CLUB-K davam conta de um contrato com JLB muito acima dos trinta milhões de Kwanzas propostos pela AJ Comercial.

Outro dado a reter é que José Laurindo justifica a compra de carros com a necessidade de ‘’apoios aos secretariados municipais e provincial’’, mas não explica porque um sindicato vê tanta urgência na construção de pousadas/residenciais, quando, repetimos, o objectivo social, segundo filiados, acaba ‘’sequestrado’’.


Um Sicote mal na fotografia: Da Faculdade de Direito à defesa de práticas reprováveis

Nada, absolutamente nada para lá de uma simples curiosidade. José Laurindo, acusado de ‘gestão danosa’ pela dupla Mulangue/Fomo, como acima descrevemos, tem como defensor (advogado) o Dr. Mateus Sicote, apeado do cargo de decano da Faculdade de Direito da Universidade Katyavala Bwila.


É um assunto que será detalhado nos próximos dias, mas, até pela curiosidade, este portal está em condições de avançar que as causas da exoneração têm raízes em práticas de má gestão. As mesmas práticas, se quisermos, que levaram a dupla a desancar publicamente sobre o presidente da organização.


O Magnífico Reitor da UKB, Albano Ferreira, certamente preocupado com os buracos financeiros na Faculdade de Direito, achou que não devia reconduzir o Dr. Sicote, ao contrário do que fez com a maior parte dos decanos das unidades orgânicas da Katyavala Bwila.


Sabe-se que o jovem jurista saiu pela porta pequena, deixando um rasto de suspeições que podem manchar a sua carreira política e travar a sua ascensão por via da JMPLA, como parece ser o seu anseio. Tal como dissemos, são contas para outros rosários, para as próximas edições, já que o momento é reservado à armadilha que pode tramar o próprio mentor.

Excertos de uma providência armadilhada


A providência especial adequada à tutela geral da personalidade humana, da honra e bom nome e reputação, apresentada dias depois da participação criminal, pede que, paralelamente, os jornalistas ‘’desmintam’’ tais informações.


Aos profissionais de comunicação, conforme a queixa, solicita-se também uma ‘’retratação pública’’ e a publicação da sentença, devendo a decisão do Tribunal Provincial de Benguela permanecer nos órgãos para os quais trabalham durante um período nunca inferior a seis meses.


A João Marcos, correspondente do semanário A Capital, José Laurindo pede, ainda, que pare de publicar informações sobre a vida do seu Sindicato. Na ponta final, os requerentes solicitam que os jornalistas paguem todas as custas judiciais e que a sentença seja proferida sem audição prévia dos mesmos.


Em sentido contrário, o advogado dos requeridos, Dr. Chipilica Eduardo, pede que o Tribunal Provincial não dê provimento à providência, uma vez que todas as matérias foram elaboradas em obediência aos padrões de um jornalismo responsável. O entendimento é o de que José Laurindo faz um atentado à liberdade de imprensa, uma vez avesso a críticas, ainda que, como foi o caso, formuladas mediante fontes de informação, entre as quais filiados do próprio Sindicato da Educação.

Importa sublinhar que as matérias em causa versam, regra geral, sobre as observações críticas face ao investimento de milhões em viaturas e pousadas/residenciais, sobretudo no interior, quando milhares de professores dizem que não sentem o apoio da organização para a qual descontam.