Paris - No dia 4 de Abril de 2002, em Luanda, foram assinados os acordos que puseram fim à guerra civil, entre o MPLA e a UNITA, e permitiram o retorno da paz no nosso país. Hoje, dia 04.04.2016, o retorno da paz em Angola completou 14 anos. Já lá vão 14 anos que Angola e os angolanos vivem em paz. Mas, de que paz se trata ? Será que a paz significa somente o calar das armas ? Será que os angolanos têm a paz nas suas barrigas ? Será que os angolanos têm a paz nos seus espíritos ?


Fonte: CASA-CE

« A Paz não é ausência de conflito (de guerra), mas a presença de justiça. » (Martin Luther King)

O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, em linha, define a "PAZ" como sendo : « Quietação de ânimo; Sossego, Tranquilidade; Ausência de guerra, de dissensões; Boa harmonia; Concórdia, Reconciliação... ».


De todas as definições que este dicionário dá da palavra "PAZ",  nós em Angola apenas temos a de "Ausência de guerra". Falta-nos todo o resto. Pois, a paz não é somente o calar das armas. Quando se faz as pazes, deve haver a "reconciliação" verdadeira. Nós em Angola a nossa reconciliação nacional é apenas de fachada, ou melhor, forçada.

 
De um lado, o regime grita bem alto que os angolanos estão reconciliados. Do outro lado, o regime discrimina, exclui, comete injustiças, reprime, persegue todos aqueles angolanos que não se identificam com o Partido no poder ou que não concordam com as suas políticas.


Como pode um indivíduo vitima de exclusão social, por não ter o cartão do Partido que governa o país, estar em paz, em boa harmonia ou reconciliado com quem o exclui ?

 
Como pode um indivíduo que não tem alimentação para os seus filhos; que não tem uma habitação condigna, que tem que acordar as 04h00 de madrugada para ir trabalhar a dezenas de quilômetros da sua casa porque o trânsito é caótico, ter a paz no coração ?


As armas calaram em Angola, mas a situação socioeconómica e política do país não nos permitem afirmar que estejamos em paz total em Angola. A nossa paz não é completa. Falta-nos a paz social e a verdadeira reconciliação nacional.

 
Em Angola como na diáspora, as práticas do regime que impera em Angola são sempre as mesmas. Elas consistem em exclusão social, intolerância política etc.


A CASA-CE na Europa lança um apelo ao Presidente José Eduardo dos Santos e ao Partido MPLA no sentido de terem em conta que os tempos mudaram. Estamos no século XXI. A Angola de hoje já não é a dos anos 70 quando chegaram no poder enquanto Partido único. Não se pode governar Angola do século XXI como se governou a Angola dos anos 80.


Muitos dos jovens angolanos ainda não tinham nascido nos anos 80. Não conheceram a guerra civil e aspiram a uma vida melhor. Somos todos angolanos e temos os mesmos direitos e deveres.


A maneira como o Presidente da República está a governar Angola é muito incorreta e injusta. E com o decorrer do tempo poderá causar conflitos sociais. Porque ninguém pode aceitar eternamente as injustiças e exclusões !


É com a justiça que se consolida uma nação e a paz. As injustiças apenas perigam a paz que conseguimos com tantos sacrifícios.


A CASA-CE na Europa exorta o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, a aproveitar o pouco tempo que lhe resta no poder a fim de fazer reformas democráticas e políticas no país, com vista a deixar pelo menos uma lembrança boa aos angolanos e à comunidade internacional depois de deixar o cargo. Mas igualmente para atenuar as dificuldades do nosso povo. Porque até aqui a maioria dos angolanos, dentro como fora do país, têm uma péssima imagem da sua pessoa.


E apesar das campanhas que o regime está a levar a cabo para fazer passar uma imagem positiva diante da comunidade internacional, esta imagem continua manchada. Pois, toda a comunidade internacional sabe que Angola tem muitos recursos naturais, e que ela é a 2a maior produtora de petróleo em África. E quando vê o lixo acumulado em toda a cidade capital do país, Luanda, o triste espetáculo de centenas e centenas de mortes de crianças, jovens e adultos nos nossos hospitais por causa da falta de medicamentos e materiais médicos, a caótica situação do saneamento básico etc, a comunidade internacional não consegue entender o que os governantes angolanos têm na cabeça e nos corações.


Senhor Presidente da República, os angolanos estão a sofrer terrivelmente. Viver em Angola requer ter-se nervos sólidos. Viver em Angola, senhor Presidente da República, requer ter-se capacidades quase sobre-humanas de suportar as dificuldades. Enquanto isso, o senhor, a sua família, os seus amigos mais chegados assim como os seus colaboradores levam uma vida de total opulência. E isto é um grande crime perante Deus e perante à sociedade. Pois, num país com muitas riquezas no seu subsolo, a maioria da população vive numa miséria chocante. Isto é irresponsável e criminoso, senhor Presidente da República.


Para terminar, a CASA-CE na Europa, aconselha ao Presidente da República, relativamente ao anúncio que fez ultimamente acerca da sua saída da vida política ativa, que na vida as vezes é preciso sabermos deixar as coisas antes que as coisas nos deixem.


O mandato do senhor Presidente da República termina em 2017, e a CASA-CE na Europa é de opinião que este é o momento certo para o senhor deixar a política ativa, conforme anunciou em Março último. Pois, não tem lógica que o seu mandato termine em 2017 e o senhor Presidente afirmar que apenas sairá em 2018.
Senhor Presidente, respeite à vontade do povo angolano. 37 anos no poder é demasiado. Angola não é monarquia, e os angolanos não querem substituição monárquica. Por amor aos angolanos e à Angola, em Agosto de 2017, por favor, vá embora.

 

"TODOS POR ANGOLA - UMA ANGOLA PARA TODOS"


Paris, aos 4 de Abril de 2016.


A Coordenação Geral da CASA-CE Europa