Luanda - Integra do texto da palestra do Deputado Lukamba Gato realizada no dia 6 de Abril de 2016 em Luanda, subordinada ao tema "A UNITA e os Caminhos para a Paz e Reconciliação Nacional em Angola", no âmbito das Comemorações do seu Cinquentenário.

Fonte: UNITA               

Introdução

Sentimo-nos particularmente honrados pelo convite que nos foi dirigido para partilhar convosco o nosso conhecimento sobre o tema proposto, neste momento histórico em que o nosso Partido celebra os seus 50 anos de existência.

A Paz e a Reconciliação Nacional são, para o nosso país, um binómio essencial, dois valores fundamentais para o nosso futuro, tendo em conta o nosso passado recente..

A nossa UNITA tem sido actora, dinâmica e activa, ao longo dos seus 50 anos, nas viragens históricas do nosso país, Angola a saber:

1966- A própria fundação da UNITA representou uma viragem no processo de condução da luta armada. Nova dinâmica...

1974 Derrube do sistema colonial Português e a consequente conquista da Independência Nacional.

1991 Fim do sistema monopartidário no nosso país e a institucionalização do democrático bem como da mudança da Economia Centralizada para a Economia de Mercado que, para nós assume o caracter de economia social de mercado (co-signatária de Bicesse).

Em 1992 Participação das primeiras eleições multipartidárias.

1994 Co-signatária do protocolo de Lusaka numa tentativa de por fim ao conflito pós-colonial.

2002 Participação e assinatura do Protocolo do Luena que pôs fim ao conflito armado.

2008 Participe das eleições legislativas.

2010 Tomada de posição firme de não participar do voto quanto da aprovação, pela Assembleia Nacional da actual constituição a que chamaram de atípica.

2012 Participação das eleições gerais.

 

O exercício que vos proponho, para abordagem do tema em epígrafe, articula-se como seguinte:

 

I – Definição dos termos;

II – A sigla UNITA e a Paz;

III – Os Princípios Fundamentais e Estruturantes da UNITA e a Paz;

IV – Os factos Históricos de Paz e Reconciliação Nacional;

V – Conclusão;

 

I-DEFINIÇAO DOS TERMOS

1º A paz

Por não estarmos numa academia de filosofia ou ciência política pura mas sim no terreno prático da verdade política, pura e dura não evocaremos os conceitos que no tempo, fizeram escola.~

 

Ater-nos-emos sobre o que duas personalidades Africanas de primeira linha disseram: Félix Houphouet Boinhy concebe a paz como um comportamento, um estado de espirito e não uma vã palavra que se pronuncie levianamente sem nenhum conteúdo pratico.

O Dr. Jonas Malheiro Savimbi considera a paz verdadeira como sendo aquela que entra na casa de cada um, na sua mente e com ele vive e lhe inspira uma conduta pacífica em todos seus actos sociais.

 

2º A Reconciliação Nacional

Esta pode ser aproximada como a vontade e a prática que consistem em voltar a conciliar partes da mesma nação outrora desavindas.

 

3º Caminhos

Caminho pode significar as vias seguidas para se alcançarem objectivos específicos.

  

II-A Sigla UNITA e a Paz

 

A União Nacional para Independência Total de Angola, foi criada aos 13/03/1966 para realizar dois objectivos nucleares:

  • Contribuir patrioticamente no esforço de Libertação de Angola do jugo colonial de Portugal.

Na altura da sua fundação havia já dois movimentos que lutavam, de armas na mão contra o colonialismo.

Todavia tudo os dividia. Dai a necessidade da União Nacional para enfrentar o inimigo comum.

A Independência Total visa, desde aquele contexto histórico aos nossos dias, libertar os angolanos de qualquer forma de submissão em relação as potências estrangeiras e/ ou forças internas que coartem a liberdade do nosso povo.

  • O segundo objectivo apenas realizável no quadro da Independência Nacional é governar o País pela escolha Livre, Igual, Universal e Directa da população eleitora numa concorrência leal e sadia com outras forças políticas.

 

Assim vista, sob este ângulo, a sigla UNITA, condensa em si, a paz interna e em relação a externa.

Lutar contra a submissão é lutar pela paz. Procurar o poder pelo voto é a expressão mais lidima de alcançar o poder de Estado em Democracia.

O primeiro grande objectivo foi cumprido. No entanto, para alcançar o segundo, a UNITA teve que crescer e transformar-se.

De movimento de libertação confinado no leste de Angola (Moxico, Bie, K.Kubango e Lunda), com pouca acção política clandestina nos grandes centros populacionais de 1966 a 1974, passou de 1976 a 1991, para um amplo Movimento Revolucionário de massas com presença e acção em todo o território nacional.

De 1991 a 2002, passou por uma fase difícil e complexa, mas necessária de transição de Movimento Revolucionário de massas para Partido Politico Clássico.

Esta transição teve um preço muito elevado pago pela UNITA: A morte em combate do presidente fundador, o Dr. JMS

De março de 2002 a junho de 2003, sob orientação da Comissão de Gestão, a UNITA desenvolveu um esforço considerável para o lançamento de bases da sua transformação em Partido Politico Clássico através, entre outros, da desmilitarização mental dos seus membros. Este processo teve no IX Congresso o seu epílogo.

 

De 2003 até hoje a UNITA tem aprofundado e consolidado a sua democracia interna, como provam os X, XI e XII Congressos.

 

Outrossim a UNITA contribui de forma muito própria para a democratização da nossa sociedade, incutindo coragem aos nossos concidadãos, participando nos pleitos eleitorais dizendo a verdade sobre a sua organização. Também tem assumido com responsabilidade e clareza, posições sobre todas as questões candentes da vida como a corrupção, a insuficiência da justiça, o despesismo do Estado, etc, etc.

 

Acima de tudo ressalta a sua paciente e resoluta contribuição para a manutenção e fortalecimento da paz interna no nosso país.

A UNITA é mesmo um partido de paz.

 

III-OS PRINCIPIOS FUNDANTES DA UNITA E A PAZ

 

Os princípios fundantes, são os enunciados que se constituem em pontos de partida que conferem a substancia visionaria e programática, adotados na fundação da UNITA.

 

1º Primeiro principio

Liberdade e Independência Total para os homens e a pátria.

Este principio encerra, no que aos valores diz respeito, a quintessência da UNITA.

Para nós, UNITA, em Angola devemos ser homens e mulheres livres, donos das nossas terras e do que nelas se contem, senhores e orgulhosos das nossas culturas e mestres do nosso destino. Ao assim agirmos estaremos a construir a paz, a comunicar paz e a partilhar paz.

  

2º Segundo princípio

A Democracia assegurada pelo voto popular através da disputa entre diferentes partidos políticos.

A Democracia é o complemento necessário à Liberdade.

Angola é uma sociedade plural: dos pontos de vista humano, cultural e espiritual, etc.

Por isso para nós a Democracia é inquestionável. Ela é a única forma, como valor e como sistema, capaz de harmonizar a pluralidade dos interesses da nossa realidade plural. Por ser dialogante, ela ajuda a prevenir os conflitos e soluciona-los a contento quando por qualquer razão eles surgem.

Desta forma a Democracia é a garantia da paz. Doutro lado afigura-se-nos como irrealista alguém pretender ser o único e legitimo representante de todo um povo.

Face a nossa realidade iminentemente plural. A Paz só é possível pela igualdade que a Democracia confere a todo e qualquer grupo social.

 

3º A Soberania impugnada da vontade do povo de ter amigos primando sempre o interesse nacional.

A UNITA concebe o mundo como o espaço privilegiado de intercâmbio e solidariedade entre povos e estados na perspectiva do seu desenvolvimento material e espiritual.

 

Desta feita o nosso relacionamento com os outros Povos e Estados deve ser com base na cooperação positiva e mutuamente vantajosa. É para nós indiscutível que nós é que devemos ditar as regras junto de todo aquele que tiver algum interesse em alguma coisa no nosso país. Este é princípio chave para a Paz entre as Nações.

 

4º A Igualdade entre os angolanos na Pátria do seu nascimento perante a lei e na prática social.

Convido-vos a prestar atenção a este principio que nos conduz á igualdade da justiça entre e para todos angolanos, como substrato da Paz.

Há quem se interrogue: mas porque tantas disputas entre os homens, num país tão grande e com espaço para todos? O nosso ilustre desaparecido, o Dr. JMS, a esse respeito dava uma resposta lapidar quando dizia e eu cito: '' O problema não é uma questão de espaço para todos, pois há de facto espaço para todos até nos cemitérios, prisões, etc. O problema coloca-se em matéria de igualdade de oportunidades para todos, de acesso aos meios de produção. Ai é onde se situa a causa dos conflitos.

 

5º Na busca de soluções económicas para o nosso país, priorizar o campo para beneficiar a cidade.

Na visão do nosso partido a economia de Angola tem de ser endógena isto é de angolanos para angolanos e destes para o mundo, o que não significa sentimento de rejeição do que e de fora ou do estrangeiro. Muito pelo contrário, o estrangeiro que nos traga valor acrescido é muito bem-vindo.

Assim o sector agrícola e afins devem constituir a medula espinal da economia do nosso país. Apenas desta maneira teremos a capacidade real de combate a fome. Com a fome vencida poderemos atacar a pobreza de forma acertada e sustentada.

Um homem faminto não tem paz consigo mesmo e muito menos para com os outros.

Uma sociedade livre da fome é uma sociedade em paz e de esperança para todos.

Os princípios fundantes da UNITA emolduram um projecto de sociedade de paz. A sua tradução em programas sectoriais bem elaborados e aplicados com rigor conduzem ao melhor estado material e espiritual da população e por isso, a paz social.

 

IV- FACTOS HISTÓRICOS DE PAZ E RECONCILIAÇÃO

Na parte anterior do nosso exercício concluímos que a UNITA é por filosofia e natureza um partido de paz.

Apontemos em seguida alguns factos da história que atestam essa qualidade da UNITA:

*À 25 de Abril de 1974 as Forças Armadas portuguesas derrubaram por um Golpe de Estado a ditadura fascista e colonial em Portugal.

 

Foi devido a conjugação das lutas nas ex-colónias com as lutas das forças progressistas que se derrubou o sistema de Salazar e Caetano sob o signo dos 3 Ds ( Democracia, Desenvolvimento e Descolonização)

Na circunstância apenas a UNITA tinha a sua direcção no interior do país. Após uma análise correcta da situação que permitiu concluir sobre a certeza da irreversibilidade do novo quadro politico em Portugal, a direcção do Partido, usando os madeiros de Kangumbe e o Padre Oliveira para contactos preliminares, encetou negociações e assinou a cessação das hostilidades com uma delegação das FAP dirigida pelo então Major Pezarat Correia em Junho de 1974 nas matas do Leste de Angola.

Este acordo constituir o primeiro facto de paz da UNITA no sinuoso e longo processo histórico-politico de Angola.

As outras forças nacionalistas FNLA e MPLA acusaram a UNITA de colaborar com os portugueses. Mas a verdade é que estes movimentos viriam a fazer o mesmo volvidos escassos meses. A FNLA em Setembro de 1974 em Kinshasa. O MPLA em Outubro, numa chana do Leste de Angola. A UNITA só não teve razão por a ter tido cedo demais. O cessar-fogo permitiu a UNITA divulgar ao país inteiro o seu ideário e o seu programa.

 

Em Setembro de 1974 a UNITA organizava a sua 8º Conferência Anual na Uria no Leste de Angola.

Esta Conferência mandatou o Presidente desenvolver esforços necessários, junto dos outros Movimentos irmãos para encontrar uma plataforma comum para a negociação com o governo português, com vista a Independência Nacional.

Assim o Dr. Savimbi partiu para o exterior via República da Zâmbia e visitou vários outros países africanos. Em Outubro assinou um acordo de cooperação com a FNLA em Kinshasa. Depois de vários demarches viria a assinar no Luso, hoje Luena um acordo semelhante com o MPLA em Dezembro de 1974.

Estas iniciativas levaram a que o Dr. Savimbi fosse chamado de Muata da Paz, pois esta era uma das suas principais divisas em toda a sua démarche político-diplomática.

Com estes entendimentos estavam criadas as condições de um acordo tripartido ( FNLA, MPLA e UNITA ). Foi em Mombaça onde se encontraram os três lideres ( Holden, Neto e Savimbi ) para assinar este acordo tripartido.

Todavia antes desse acordo foi necessário a FNLA e o MPLA assinarem um acordo bilateral de cooperação a 30/1/1975 em Mombaça. O tripartido foi assinado à 5/1/1975 sob mediação do Mzee Jomo Kennyata Presidente do Kenya.

Com este acordo estava então criada a Plataforma angolana que levou os três Movimentos de Libertação para Portugal a fim de negociar e assinar o acordo de Alvor de 10 a 15 de Janeiro de 1975.

Janeiro de 1975, em Alvor no Hotel Penina, foi o mês da concepção do desastre do processo de descolonização de Angola. Como seria possível negociar em 5 dias, 5 séculos de colonização, de um país com três Movimentos de Libertação com uma posição geoestratégica importante e um potencial económico tao fabuloso? Portugal puramente largou e entregou Angola à rivalidade e apetites dos protagonistas da Guerra-fria.

O governo de transição saído do Alvor tomou posse a 31 de Janeiro de 1975. Nenhum dos líderes angolanos esteve presente nessa tomada de posse. Tao logo entrou em função, os problemas surgiram sobretudo entre o MPLA e a FNLA. A INITA procurou ao longo da curta vida desse governo apelar para o bom senso e patriotismo de todos. Portugal estava apático e a conjuntura Internacional era caracterizada por um desequilíbrio na correlação de forças do conflito Este-Oeste em função dos acontecimentos no Vietnam.

Foi ainda o Dr. Savimbi que não poupou esforços e conseguiu levar novamente para o Kenya/Nakuru, ainda sob mediação de Jomo Kenyata, os lideres angolanos para salvar Alvor, em Junho de 1975.

Tais esforços resultaram no acordo de Nakuru. Porem não foram respeitados.

Os jogos estavam feitos. O MPLA tirou claramente vantagem do evoluir da situação no Vietnam, com o apoio da URSS, Cuba, o silêncio cúmplice das autoridades portuguesas, tudo isso agravado pelo nítido enfraquecimento da Administração Nixon nos USA. Encorajado por todos esses apoios internacionais o MPLA aguçou a sua saga, expulsando da Capital do pais, primeiro a FNLA e depois a UNITA.

Em finais de Julho de 1975 a situação em Luanda é insuportável, a UNITA abandona o governo de transição, para salvar a vida dos seus membros e os retirava para o Huambo. A coluna terrestre é atacada no Dondo é um massacre.

No inicio de Agosto de 1975 no Bié, o MPLA perpetrou uma tentativa de assassinato ao Dr. Savimbi, ao procurar atacar o avião que o levaria para fora do país.

A partir daqueles tristes acontecimentos, Começa a desenhar-se o espectro da generalização da guerra civil. A UNITA é forçada, contra a sua vontade, a entrar para o conflito como forma de autodefesa ate porque nessa altura a UNITA tinha as mais pequenas e quase desarmadas Forças Armadas comparadas com as FAPLA e o ELNA.

Com a guerra civil generalizada, o dia 11/11/75, dia da Independência acordado no Alvor, conheceu três proclamações:

No Huambo, Luanda e Ambriz. No Huambo nasceu a RDA (República Democrática de Angola, com a UNITA e a FNLA) em Luanda a RPA( República Popular de Angola, com o MPLA). Com esta divisão cada movimento ocupava uma parte do território nacional e tinha aliados estrangeiros.

O MPLA tinha aliança com o Bloco de Leste encabeçado por URSS e o apoio dos cubanos e controlava a capital.

A sua RPA foi reconhecida por alguns países sendo o Brasil o primeiro. A nossa RDA não reconhecida por nenhum país.

Os cubanos fazem a diferença no terreno militar. Os sul-africanos enviados a sucapa pelos ocidentais, tendo como pivot Kenneth Kaunda, não vão em profundidade no seu engajamento do lado UNITA e retiram-se em fevereiro de 1976 face ao desengajamento da Administração americana totalmente enfraquecida com a derrota das suas forças no Vietnam.

 

A UNITA chamou para si, de 1976 a 1991 a responsabilidade histórica de assumir a vanguarda da Resistência Popular Generalizada para a democracia.

Durante estes 16 anos tomou as seguintes iniciativas relevantes em prol da paz:

 

*1984, uma delegação da UNITA foi recebida na Checoslováquia para negociar a libertação de 64 Checos feitos prisioneiros pelos FALA. Na sequência desta iniciativa o vice Ministro dos Negócios estrangeiros Stanislav Svoboda, foi a Jamba para junto da direção da UNITA negociar a libertação dos seus 64 compatriotas. Este momento permitiu a UNITA explicar diretamente a um membro do Bloco de Leste a sua causa.

*1986 a UNITA realizou o VI congresso ordinário. Uma das principais resoluções do conclave foi procurar todas as vias possíveis conducentes as negociações directas para a paz com o governo de Luanda.

 

*1987 a UNITA libertou 135 soldados das ex-fapla numa troca de prisioneiros que implicou a França, a RSA, a RPA e a UNITA. A RSA libertou o francês, Albertini, activista anti apartheid, a RPA libertou o capitão Du Toit ( capturado em Malongo- Cabinda). E a UNITA os 135 soldados das ex-FAPLA.

*1987 as FALA capturaram dois oficiais cubanos pilotos de caça; O coronel Manuel Rojas Garcia e o capitão Ramon Quesadas. O coronel Rojas era o comandante da força aérea cubana e Angola

*1988 Uma delegação de diplomatas das UNITA encontrou-se em Berlim, com o embaixador de Angola na RDA. O ancião Agostinho Mendes de Carvalho. Naquela fase era a politica do governo de Angola conceder a clemencia a todos quanto se ''arrependessem''. A resposta da UNITA era clara e inequívoca para a paz, só com negociações directas!

Em 1988 os pilotos cubanos são libertados e entregues ao presidente Boigny que os entregou ao embaixador de cuba nas Nações Unidas Oscar Oramas.

A delegação da UNITA era chefiada pelo seu então secretário geral Miguel Nzau Puna e teve longas horas de conversa com a delegação cubana. A mensagem passou bem entre as duas delegações.

Em 1989- tentativa Africana de Solução da guerra civil angolana.

Esta iniciativa teve por principal actor o Marechal Mobutu Sese Seko do Zaire. Este reuniu alguns dos seus pares incluindo o presidente da RPA JES em Gbadolilhe em Julho de 1988 e convidou o Dr. JMS. Era o objectivos de alguns desses chefes de Estado, levar o doutor Savimbi a exilar-se em Marrocos enquanto JES procedem a integração dos elementos da UNITA aos vários níveis das estruturas do aparelho do Estado.

O ex presidente da Zâmbia Kenneth Kaunda era o porta-voz da corrente dos que preconizavam o exilio do Dr. JMS como solução ao conflito angolano.

A ele Dr. Savimbi respondeu e eu cito: ''obrigado pela tentativa Africana, todavia quanto ao que disse o presidente Kaunda, eu vou ignorar redonda e piremptóriamente.''

 

Dezembro de 1988 acordos de Nova York ( Angola, RSA e Cuba), Sob o impulso dos USA a luz da teoria de Chester Crocker do chamado Construtive engagement.

Neste acordo as partes acordaram a retirada dos cubanos de Angola e das forças das SADF da Namíbia.

Com este acordo concretizava-se uma das exigências históricas da UNITA que era a retirada do corpo expedicionário cubano de Angola.

Em Janeiro de 1990 o Dr. Savimbi visitou Potugal a fim de solicitar a mediação portuguesa para negociações directas entre a UNITA e o governo de JES. Decorria nessa altura uma ofensiva militar de grande escala ''o último assalto'' que visava a tomada do QG da UNITA, a nossa Jamba e inviabilizar qualquer processo negocial.

Em Março de 1990 realiza-se o VII Congresso. A UNITA reconhece a legalidade do governo da República Popular de Angola. Este foi sem dúvida um gesto de reconciliação apenas a medida de homens com apurado sentido da história.

De abril de 1990 a maio de 1991, decorreram em Portugal e sob a mediação de Durão Barroso, então Secretario de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, as negociações directas entre o governo da RPA e a UNITA.

Após setes rondas negociais, Lopo do Nascimento e Jeremias Chitunda assumiram a responsabilidade de rubricar os Acordos de Bicesse que seriam formalmente assinados aos 31 de Maio de 1991 em Lisboa pelas mãos de José Eduardo dos Santos e Jonas Malheiro Savimbi.

Bicesse na essência, estipulava:

*A formação FAA- forças armadas angolanas, a partir das Fapla e das FALA;

*Incorporar os oficiais das FALA na polícia nacional;

*A institucionalização da democracia multipartidária, com eleições em 1992;

*A transição da economia administrada para economia de mercado.

Em setembro de 1992 realizam-se as primeiras eleições multipartidárias sob supervisão da O.N.U representada pela baronesa Margaret Anstee. Na sua declaração sobre os resultados das eleições disse eu cito ''Apesar de algumas irregularidades, as eleições podem ser consideradas, de um modo geral, como tendo sido livres e justas.''

A UNITA reconhece os resultados que dão a vitória ao MPLA e o seu candidato na frente na primeira volta da eleição presidencial, sublinhando, contudo, que as eleições foram fraudulentas. A UNITA não se fecha propõe a criação de uma comissão para negociar as saídas sobre os aspectos indiciadores de fraude.

Em finais de Outubro de 1992 os negociadores são assassinados. Muitos militantes em Luanda e noutras províncias são massacrados. A guerra pós eleitoral faz morada em algumas províncias mas mesmo assim a UNITA na sua vocação de paz reuniu com o governo, sob mediação de Margaret Anstee na cidade do Namibe.

Em Janeiro de 1993 a guerra generalizava-se com ataques aéreos sobre o Huambo.

A ONU procura aproximar as partes ao mesmo tempo que aprova resoluções que reduziam sobre maneira o espaço e esvaziavam os conteúdos das negociações.

Uma ronda em Adis-Abeba e duas e Abidjan. Posteriormente as negociações são transferidas para Lusaka com um novo Representante Especial do Secretário Geral da ONU o maliano Alioune Blondin Beye em 1994.

Estas negociações conduzem a conclusão e a assinatura do protocolo de Lusaka em novembro de 1994 que entra em implementação em 1995.

 

O VIII CONGRESSO E O PROTOCOLO DE LUSAKA.

 

Na procura do engajamento geral do partido, na efetivação do protocolo é convocado o VIII Congresso do Partido. Os militares rejeitam-no por acharem injusto.

 

O Dr. Savimbi cria no Congresso uma Comissão de Conciliação que consegue demover os militares da sua posição e o Congresso engaja o Partido na implementação do mesmo. ''Ir tão longe quanto possível mas tão devagar quanto aconselha a prudência'' foi a palavra de ordem para a gestão daquela delicada situação.

 

Na senda do fortalecimento do processo de Lusaka, o Dr. Savimbi encontra-se com o José Eduardo dos Santos no dia 6/5/1995 em Lusaka. Nesse dia, e no fim do encontro, o Dr. JMS disse e eu cito mais uma vez: '' JES é o presidente da Republica de Angola é por isso o meu presidente''. Fim de citação.

 

Neste clima, e aos 24/09/1995 o Dr. Savimbi participa em Bruxelles na conferência Internacional de doadores com vista a arrecadação de apoios internacionais para a reabilitação/reconstrução de Angola.

 

ENCONTRO COM Mandela.

 

Ainda na procura de vias para a paz o Dr. Savimbi encontrou-se com o lendário Dr. Nelson Mandela para junto dele prodigar conselhos para a situação de Angola a luz do problema histórico, complexo como foi o caso do apartheid.

 

AS SANÇÕES DA ONU

 

Enquanto decorria a implementação do protocolo de Lusaka, a UNITA foi alvo de sanções da parte do conselho de segurança da ONU.

 

Este facto constituiu uma inovação no que ao Direito Internacional diz respeito. A ONU pela primeira vez, sancionou um partido político quando de facto o seu sujeito são os ESTADOS.

 

RETOMA DA GUERRA.

 

Aliounne Blondin Beye, um obstinado diplomata e ciente da força que ele representava perdem a via num acidente aéreo. O seu sucessor guineense Issa Diallo pouco ou nada foi capaz de fazer. Ate nem um encontro com o Dr. Savimbi foi possível organizar.

 

Em dezembro de 1998 reacende a guerra.

 

A UNITA consegue manter as cidades do Bailundo e Andulo e as vilas do Mungo e Nharea, ate setembro de 1999. Daí e face ao desequilíbrio na correlação de forças retira-se e retoma a guerra revolucionaria em condições muito difíceis.

 

Em Março de 2001 realiza-se a 16ª Conferência Anual; O Presidente fundador fala de forma clara sobre o passivo da UNITA. Este é entendido como sendo o conjunto de feitos negativos ocorridos até aquela data e que se constituíram em obstáculos que impediram o alcance dos grandes objectivos preconizados.

 

Falou da necessidade do reconhecimento desse passivo e da necessidade de reconciliação com este mesmo passivo para a libertação da força anímica e da energia física necessária para a resistência e os seus desafios presentes e futuros.

 

Foi lema da 16ª Conferência para o resgate da pátria e da democracia.

  • Patriotismo e sacrifício.
  • Profissionalismo e saber.
  • Disciplina e cumprimento.
  • Solidariedade nacional.

 

Por aquela ocasião concedeu à VOA aquela que vivia a ser a sua última entrevista. Nela para além afirmar que a UNITA tinha um passivo falava ainda da necessidade de paz pela negociação directa entre as partes angolanas.

 

7/12/2001- o Presidente da República apontava três cenários possíveis para o líder da UNITA:

- Rendição.

-Captura.

-Morte em combate.

 

Dia 22/02/2002 morte, em combate do Dr. Savimbi terminava assim, no campo de honra, a vida física de um dos mais ilustres e emblemáticos filhos de Angola amado por muitos e odiados também por alguns.

 

Jonas Malheiro Savimbi dedicou-se desde a sua juventude as causas de Libertação do nosso povo. A liberdade era o núcleo do seu pensamento, fulcro do seu controverso carácter e o fim do seu combate.

 

No dia 25/02/2002, morreu também outro ilustre filho desta Angola, do vice- presidente Eng. Dembo por doença.

 

Dia 3/03/2002- criação da Comissão de Gestão e tomada da decisão de proclamação unilateral do cessar-fogo e da proposta de programa de negociação com o governo.

 

Dia 7/03/2002 A Comissão de Gestão comunica via radio, com todos os comandantes e quadros o programa de paz, ao qual dão a sua total anuência.

 

*Proclamação de um cessar-fogo geral e total em toda a extensão do território nacional a partir do dia 13.03.02

*Estabelecimento de contactos com o governo com vista a retomada do diálogo e da negociação.

*A reunificação do Partido.

*A sua normalização com a realização do seu IX Congresso.

 

Dia 12/3/2002 envio de carta ao Ministro do Interior e Coordenador da Comissão Multissectorial para o Processo de Paz.

 

Dia 15/3/2002 encontro de Cassamba entre militares.

 

Dia 18/3/2002 encontro da Coordenação da Comissão de Gestão com a primeira delegação das FAA (General Implacável, Cor. Cruz, Gen. Samy Kapiñala, Gen. Kalias Pedro,

 

É rectificado o entendimento de Cassamba.

 

Dia 19/3/2002 encontro da direção da Comissão de Gestão com o chefe do Estado Maior General-adjunto em que são tomadas as seguintes decisões:

 

-Considerar nulo e sem qualquer efeito o acordado em Cassamba.

-Envio de novos negociadores incluindo o chefe político da equipa negociável.

-Negociar sobre novas bases um novo acordo.

 

De 20 a 29 de março, as delegações do governo, chefiada pelas FAA, e a delegação da UNITA composta por comandantes, liderada pelo Secretário da Informação negociaram o Memorando de Entendimento do Luena.

 

Este foi rubricado a 30 de Março com testemunho dos embaixadores da Troika e do representante especial do Secretário Geral da ONU.

 

No dia 4 de Abril de 2002, o memorando foi assinada formalmente em Luanda pelos chefes do Estado-Maior, das FAA e do Chefe do Alto Estado-maior das forças militares da UNITA. Presenciaram este acto, os mais Altos dirigentes, do país, como o Presidente da República na sua frente, bem como pelo coordenador da comissão de gestão, como a maioria dos comandantes e dirigentes, políticos da UNITA.

 

Nascia assim a nova era na nova história de Angola. A era da paz militar, que deve ser por todos utilizadas para a construção, da paz social para todos os Angolanos.