Lisboa - Ativista angolano está há 33 dias em greve de fome e o seu estado de saúde está muito fragilizado. Concentrações convocadas para esta noite em Angola e na quarta feira às 18h em Lisboa, no Largo Jean Monet.

Fonte: Esquerda

Está a circular um apelo no facebook a descrever a deterioração da saúde do ativista e professor universitário Nuno Dala, há 33 dias em greve de fome. Segundo o comunicado, "informações fidedignas, provenientes da cadeia, afirmam que Nuno Dala, que se encontra em greve de fome,"está numa situação que já não inspira confiança, ele está mal, já não consegue beber água, nem soro. Se nas próximas 24 horas não se tomarem medidas vai morrer"."

Esta noite estará a decorrer uma vigília em Luanda na Igreja da Sagrada Família e os manifestantes prometem permanecer no local até que Nuno Dala seja transferido para uma clínica, e que os seus pertences sejam entregues à família. Em Lisboa, está prevista uma concentração na quarta feira, às 18h, no Largo Jean Monet, o evento no facebook está disponível aqui.

 

O preso político, um dos réus do processo 15+2, dos jovens que foram acusados da “prática de rebelião” e de “atentado contra o Presidente da República”, iniciou a greve de fome para denunciar várias violações aos seus direitos. Entre elas, não ter permissão para aceder às suas contas bancárias para “fazer face às necessidades materiais e financeiras” da sua família, não lhe serem devolvidos os seus pertences, que lhe foram retirados aquando da sua detenção a 20 de junho de 2015, e não ter acesso aos resultados de vários exames médicos a que foi submetido e denunciou que não lhe está a ser prestado tratamento efectivo das patologias de que padece.

 

Nuno Dala é diabético e, ao que tudo indica, não está a ter um acompanhamento médico adequado e o seu salário servia para sustentar a sua família, a mulher, filha, irmã e irmão e com os cartões bancários confiscados a situação de toda a família tornou-se muitíssimo precária.

Voltamos a transvrever, na íntegra, a nota de imprensa de Nuno Álvaro Dala a anunciar o início da sua greve de fome:

“NUNO ÁLVARO DALA,

Professor universitário, investigador e ativista, réu do Processo 0148/A-15, submetido novamente à prisão preventiva em 7 de Março do ano corrente, na Comarca de Viana,

Sirvo-me da presente nota para informar à opinião pública que no dia 10 (dez) de Março dei início a uma GREVE DE FOME em protesto às seguintes violações dos meus direitos:

1 – Apesar de inúmeras solicitações, nunca me foi permitido ter acesso às minhas contas bancárias para fazer face às necessidades materiais e financeiras da minha família.

2 – Apesar de inúmeras solicitações, nunca me foram devolvidos meus 38.000,00 (trinta e oito mil) Kwanzas, minhas carteiras com bilhete de identidade, cartões de crédito, folhas de código e muitos outros meios apreendidos no dia 20 de Junho de 2015, e que continuam abusivamente em poder do SIC (Serviço de Investigação Criminal).

3 – Apesar de inúmeras solicitações, não me foram devolvidos os meus meios deixados ficar no Estabelecimento Prisional de Kakila (EPK). Estes meios incluem livros, cadernos com apontamentos e desenhos, roupa diversa, sapatilhas, coberta e outros. Estão respectivamente no armazém e na cela onde passei 4 (quatro) meses – de Junho a Outubro de 2015.

4 – Até hoje, os resultados de vários exames médicos a que fui submetido no Laboratório do Hospital Militar Principal (HMP) não me foram revelados. Outros exames nunca sequer foram feitos. Por outro lado, continuo sem receber tratamento efectivo das patologias de que padeço.

Minha GREVE DE FOME apenas será suspensa quando as minhas exigências supramencionadas forem satisfeitas, incluindo a devolução de todos os valores eventualmente saqueados das minhas contas por agentes desonestos do SIC, pois o SIC até mesmo tem em poder as folhas de código dos cartões multicaixa.

Entrementes, CONTINUO A BOICOTAR O JULGAMENTO, que não passa de uma mentira, uma demonstração clara de que não existe poder judicial independente. O ditador usa os tribunais e seus juízes fantoches para intimidar, perseguir e privar da liberdade os angolanos que defendem o fim da ditadura e da sua governação criminosa. Por mais facínora que tente mostrar-se o “juiz” fantoche Januário Domingos, meu boicote continuará. Além disso, já sinto grandemente os efeitos da GREVE DE FOME. Estou debilitado e não aguentaria sequer ficar sentado por 1 (uma) hora no banco daquela mentira chamada “Tribunal”. Reitero que não existe poder judicial independente em Angola.

Serei consequente, congruente e coerente até às últimas consequências.

NÃO ADMITO que o regime perverso do ditador JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS me humilhe.

São responsáveis pela minha situação o “juiz” Januário Domingos, o Comissário António Fortunato (Director dos Serviços Prisionais) e o Director do SIC. Obviamente, o ditador JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS é o maior responsável.

Subscrevo-me

Nuno Álvaro Dala
Luanda, 14/03/2016

PS: Exorto a todos os responsáveis declarantes agora constituídos em arguidos no sentido de que NÃO se dêm ao trabalho de ir ao “tribunal” para responder; NÃO PAGUEM taxa de justiça. Se o regime vos mandar prender e conduzir à cadeia, ter-se-à conseguido mais uma vez EXPOR A DITADURA E ESTA MENTIRA chamada de “poder judicial angolano”.