Lisboa - Será uma das exigências de Isabel dos Santos e está a ser negociada com a CMVM. A confirmar-se, seria a primeira vez que uma empresa angolana negociaria ações na bolsa de Lisboa.

Fonte: Observador

24 horas depois do anúncio de um acordo no BPI, são ainda mais as questões do que as respostas. Mas o objetivo principal – evitar uma multa diária por parte do Banco Central Europeu (BCE) – terá sido cumprido, para já, acreditam fontes do setor financeiro ouvidas pelo Observador. Ainda assim, uma das questões que ficaram na retina dos especialistas foi a intenção de Isabel dos Santos de cotar ações do Banco de Fomento da Angola (BFA) na bolsa lisboeta. As razões por trás dessa intenção ainda não são claras, mas os analistas atiram algumas explicações possíveis.


Querer o BFA na bolsa “refletirá provavelmente a vontade da empresária Isabel dos Santos de manter participações em empresas cotadas em bolsas internacionais, neste caso numa bolsa europeia como a portuguesa”. Esta é a explicação de Albino Oliveira, analista da Patris Investimentos, questionado pelo Observador sobre as intenções da angolana, avançada na noite de domingo pelo comentador político Luís Marques Mendes.


Eduardo Silva, gestor da corretora XTB Portugal, tem uma explicação um pouco diferente. “A informação é de que o banco não irá abrir balcões em Portugal, ou seja não se trata de uma estratégia de internacionalização, mas sim, para já, uma maneira de aumentar de forma expressiva a liquidez dos títulos do banco”. Ou seja, ao tentar cotar as ações do BFA na bolsa de Lisboa, Isabel dos Santos (acionista do banco através da Unitel) quererá evitar limitar-se à jovem praça bolsista de Luanda.


O especialista acrescenta, porém, que “ainda não dispomos de informação que permita uma análise mais profunda às pretensões de Isabel do Santos”. Contudo, sobretudo numa altura em que a economia angolana está em crise – o que já levou a um pedido de assistência ao FMI – o facto de estar cotada numa praça europeia poderá ajudar a atenuar eventuais dificuldades de financiamento por parte do banco associadas ao facto de estar sedeado em Angola e de aí ter a sua atividade.


Um terceiro especialista no setor financeiro, que preferiu não ser identificado, diz ao Observador que “pode ser uma forma de dar respeitabilidade” ao banco como proposta de investimento para investidores internacionais. Isto porque, apesar de o “BFA ter indicadores financeiros sólidos, investe muito em dívida pública angolana e é difícil antecipar o que pode acontecer agora que o FMI deverá aterrar em Luanda”. Por outro lado, com a saída, ou pelo menos, a perda de controlo acionista do BPI, o BFA precisa de ganhar visibilidade para manter a porta aberta do financiamento europeu.


Ainda assim, o mesmo especialista manifesta algumas dúvidas de que os investidores internacionais tenham um grande apetite pelas ações de um BFA cotadas em Lisboa. “Basta recordar as dificuldades que teve a Mota-Engil África, que apenas reunia ativos africanos, e que foi cotada na bolsa de Amesterdão mas acabou por ser retirada — é uma geografia pouco favorecida pelos investidores neste momento”, diz o analista.


Albino Oliveira, da Patris, tem as mesmas dúvidas. “A principal questão poderá ser que tipo de volume de negociação é que o título apresentará em bolsa. De relembrar a experiência recente da Mota Engil com a Mota Engil África, as dificuldades encontradas que acabaram por levar a que o título fosse retirado de bolsa. Adicionalmente, é preciso não esquecer que a bolsa portuguesa é um mercado de menor dimensão face a outros na Europa, e, consequentemente com um nível mais baixo de liquidez.

Uma empresa angolana em Lisboa. Uma estreia

Ainda não se sabe se a Unitel irá comprar toda a participação que o BPI tem no BFA. É algo pouco provável, dizem os especialistas ouvidos pelo Observador. Contudo, a confirmar-se a entrada do BFA na Euronext Lisbon, será a primeira vez que uma empresa maioritariamente angolana tem as suas ações na bolsa de Lisboa, não obstante os investidores angolanos terem um peso relevante nas cotadas portuguesas com posições de destaque no BCP, Nos e Galp (de forma indireta).


Lisboa já transacionou algumas ações de empresas internacionais, mas sempre como um mercado secundário. Por outro lado, e em matéria de ofertas iniciais de capital, a dispersão do BFA podia ser um estreia internacional. A EDP Renováveis abriu o seu capital em Lisboa, apesar de ter em sede em Espanha, mas o controlo acionista é português.


“Apesar de ser comum para uma empresa cotar em várias bolsas como a Brisa ou a EDP, em Lisboa será uma novidade”, diz Eduardo Silva, gestor da XTB Portugal. “A expectativa é permitir o acesso das ações da empresa aos investidores que, devido a um conjunto de regras próprias, só podem fazer aplicações em títulos cotados em certas bolsas, como alguns fundos de pensões ou seguradoras”, nota.


Do ponto de vista da bolsa de Lisboa, “seria importante, uma vez que se trata de um dos principais bancos angolanos, tendo em conta a evolução do banco e impacto nas contas do BPI nos últimos anos – é sempre positivo”.


As condições de entrada na bolsa de Lisboa estão a ser negociadas com a CMVM, segundo a imprensa. Até ao fecho deste texto, o Observador não conseguiu obter confirmação ou informações adicionais junto de fonte oficial da CMVM nem do BPI.