Luanda - Numa mensagem dirigida ao Ministro do Interior, o sociólogo Paulo de Carvalho apela a que “sejam tomadas medidas punitivas” para “deixarem de ocorrer faltas de respeito como as que são denunciadas” por familiares dos 17 activistas, num vídeo partilhado nas redes sociais.

Fonte: NJ

“Nem no período colonial se chegava a tal extremo"

“Ouvimos falar em humanização das cadeias, mas de facto isso não passa de palavreado barato. Os factos continuam a demonstrar o contrário”, indigna-se Paulo de Carvalho, na reacção a um vídeo filmado à porta da Comarca de Viana, onde estão presos os 17 activistas condenados no âmbito do processo “15+2”.

 

Com data de 16 de Abril, e cerca de 17 minutos de duração, a gravação começa com um testemunho do pai de Nito Alves, dando conta da recusa da direcção dos Serviços Penitenciários de Luanda ao pedido do filho para disponibilização de um sítio onde pudesse receber as visitas no dia de aniversário, assinalado no passado sábado, 16.

 

Para além de a solicitação ter sido rejeitada, sob a alegação de que Nito Alves “não tinha direito” a um espaço reservado, a família garante ter sido destratada, reclamação que se repete ao longo do vídeo, com relatos de tempos de espera de cinco horas, inclusive debaixo de chuva.

 

“Este vídeo demonstra continuar a haver maus-tratos dirigidos a reclusos. Pior que isso, os maus-tratos atingem até familiares de reclusos”, defende Paulo de Carvalho, no texto dirigido ao Ministro do Interior, Ângelo de Veiga Tavares.

 

Sublinhando que “os reclusos têm direitos”, e que “têm de ser tratados como seres humanos, com toda a dignidade e respeito”, o sociólogo questiona: “Onde já se viu pôr as pessoas horas à espera? E depois, deixá-las à chuva? Que mal nos fizeram essas pessoas, para merecerem tamanha humilhação?”.

 

Mais do que levantar interrogações sobre as condições em que os activistas se encontram, o também professor universitário revela que tem “SÉRIAS dúvidas sobre se tais jovens devem mesmo estar presos”, acrescentando que, com essa posição pensa “reflectir a convicção da grande maioria dos concidadãos residentes em meio urbano”.

 

Num tom já de revolta, Paulo de Carvalho traça um paralelo em relação ao regime colonialista. “Peço desculpa, mas nem no período colonial se chegava a tal extremo, com maus-tratos destes a familiares de presos políticos. Por que razão vamos tolerar isso agora?”.

 

Empenhado em não deixar o assunto passar em branco, o sociólogo apela “ao Sr. Ministro do Interior que sejam tomadas as medidas punitivas que se impõem, de modo a deixarem de ocorrer faltas de respeito como as que são denunciadas neste vídeo”.

 

Paulo de Carvalho defende ainda que “não nos podemos ficar pela direcção da cadeia, pois a responsabilidade está muito acima”.

 

“Vamos aguardar pelas consequências punitivas destas denúncias, para verificarmos se a culpa vai (ou não) continuar a morrer solteira”, conclui o sociólogo.

 

Ao Novo Jornal online, fonte dos Serviços Prisionais remeteu um pronunciamento para mais tarde.