Luanda  - A República de Angola, já “usou”, “gozou” e “abusou” de momentos inesquecivelmente pomposos e ditosos (do ponto de vista económico), graças ao preço fantástico do barril do petróleo (o famoso barril do Crude) que rondava nos famosos cento e...    

 Fonte: Club-k.net

De lá para cá, vários factores concorreram (continuam concorrendo) para que o tempo das vacas gordíssimas, tivesse um limite espácio-temporal. Ipso facto, surge o agravamento crónico da situação política, económica e fundamentalmente social de todo país.

 

Com o supra aludido, uma pergunta não se quer emudecer:

 

Afinal, quais são os factores que permitiram a que chegássemos a esse”maldito” cenário?

 

Naturalmente, existem factores que concorreram para o alcance desse “cancro” maligno e mórbido. Podemos aqui sublinhar que o factor campeão, recordista e por sinal, o mais crónico, é o fenómeno da Corrupção instalada e oficializada. Um outro factor não menos importante, prende-se com a ascensão meteórica dos Estados Unidos da América como produtor que, entre 2012 e 2015 aumentaram a sua produção de petróleo de 10 para 14 milhões de barris/dia, tornando-se o maior produtor mundial, ultrapassando a Rússia e a Arábia Saudita. Devemos, igualmente, sublinhar o aumento da produção no Iraque, que veio a tornar-se o segundo maior produtor. De recordar, o regresso potente do Irão ao mercado depois do fim do embargo. A Arábia Saudita que insiste em manter as quotas no mercado, por possuir grandes reservas de petróleo e muitos poços que não operam no limite da sua produção. E não podíamos deixar de virgular a incompetência “incompetente” da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), que vive assistindo ao vivo e a cores todo esse cenário, sem potência “sexual” para revolucionar o actual quadro.    

 

No meio deste cenário, tenho alguma dificuldade em perceber seriamente os “enferrujados” discursos de muita gente, principalmente os que têm a sorte de nos governarem, a condenarem e apontarem o dedo à “coitada” Crise e à “pobre” Guerra, em que também foram/são co-responsáveis. Sempre o mesmo “caduco” e “falecido” discurso: resolver o problema do povo, a crise é a principal causa dos problemas de saúde, a guerra é a culpada pela pobreza do tio Paizinho e da tia Carlota, temos de ser empreendedores (eu a morrer de fome, vou empreender como?), os partidos da oposição fazem e desfazem, o país está bom, o povo angolano é um povo especial (claro, é especial porque vive na miséria “miserável”)… Até quando, meus senhores, até quando esses “tristes” e “lastimosos” discursos sem decência nem essência. Será que já podemos afirmar com alguma certeza que caminhamos rumo à lama da desgraça?

 

Esses discursos falaciosos e perdidos no tempo e no espaço, jamais irão superar o aviso constante do último Relatório do Mercado Petrolífero, através da Agência Internacional de Energia (AIE), que alerta: os países com economias dependentes de petróleo, precisam de se adaptar para evitar um colapso económico por causa da baixa dos preços. Muitas mudanças vieram para ficar, virgula o Relatório. Em países mais sérios, as mudanças também verificam-se a nível comportamental e atitudinal, como por exemplo, auto-demitir-se por alguma incompetência. Será que os nossos dirigentes terão coragem e juízo suficientes para isso? Ou de tanto apaixonarem-se pelo poder tornaram-se insensíveis a tudo?

 

O pior dos piores ainda, não foi dito, porque no World Economic Outlook (WEO) que divulgou esta semana, o Fundo Monetário Internacional (FMI), avança com estimativas para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 20 Economias. As estimativas da entidade sedeada em Washington colocam a crescer de forma mais célere 20 economias. Desse número de países com boas perspectivas de crescimento célere, 8 são africanos. O lastimável é que a República de Angola nem chega por perto. 1º Costa do Marfim (o PIB cresce em 8,5% em 2016); 2º Tanzânia (o PIB cresce 6,9%); 3º Senegal (6,6%); 4º Djibuti (6,5%); 5º Ruanda (6,3%); 6º Moçambique (6%); 7º Quénia (6%) e 8º República Centro Africana (5,7%). Onde está Angola? Presumo que o meu maravilhoso país esteja a perder tempo a falar sobre guerra. Todas vacas gordas da República de Angola, contraíram tuberculose aguda, severa e irreversível e, para piorar, contraíram, também, inúmeras síndromes incuráveis. Será que caminhamos mesmo em direcção à lama da desgraça?

 

Como o “azar não vem só”, o sector social vem clamando e reclamando por muitas ajudas quer a nível nacional quer longe das nossas fronteiras. Com o acima exposto e fruto das nossas “pobres” constatações, cada dia que passa o país torna-se mais pobre, a mesma nação que enfrentou ontem a guerra civil é a mesma que hoje enfrenta a guerra económica, da corrupção oficial e a desestruturação causada pela pseudo democracia e pelo ininterrupto abuso do poder. Para reforçar aqui a nossa posição, evocamos o Relatório oriundo do Departamento do Estado Americano sobre os Direitos Humanos no Mundo-Angola, no dia 13 de Abril do ano corrente, que dava conta (embora não sendo novidade para os angolanos mais atentos), que a República de Angola continua a violar sistematicamente os direitos humanos, tem limitado as liberdades de reunião, associação, expressão e imprensa, tem governando num sistema altamente corrupto, inspirando-se no princípio da impunidade com sucesso. Continua dizendo que as condições das cadeias são assustadoramente precárias, pior do que isso, as prisões e detenções têm sido arbitrárias, como se não bastasse, tortura-se e espanca-se os cidadãos que insistem em reivindicarem algum direito que se lhes assiste constitucionalmente. O que mais me espanta e admira é a capacidade do povo angolano (muitos até já formados) de aceitar com tamanha felicidade e facilidade toda atrocidade de que tem sido vítima. Infelizmente, continuam meros e pobres espectadores das inúmeras barbáries. Penso que a cultura do medo sobreposta pelo opressor não deve ser maior que a vontade de querer vencer que pode ser imposta pelo oprimido intrépido. Aprendamos com Mandela de que o mais triste e desolador é ver um escravo satisfeito com a sua condição de escravizado.

 

Se o articulista não fosse angolano e com alguma visão observacional, mesmo que míope, não aceitaria as conclusões oriundas deste relatório e ainda por cima, dirigir-se-ia à White House (Casa Branca) para “confrontar” o Sr. Obama e o Secretário Kerry. Contudo, como angolano e bom patriota, endereço as minhas críticas ao Sr. Secretário de Estado angolano para os direitos humanos que, ao hastear a sua bandeira da hipocrisia, rejeitou veementemente o referido relatório, como sempre. Acto contínuo, asseguro que, se não fosse os Estados Unidos a publicar o referido artigo, fá-lo-ia eu e, com mais tenacidade e arrojo. Tenho dito, amiúde, que a terra não tem teto, tudo o que se faz nela, é visível, até para os impedidos visuais. O mesmo acontece com a nossa Angola. O remanescente do preço do barril do petróleo, quando este vivia sobre as vacas obesas, o desrespeito pela Carta Magna, a Corrupção oficializada, a impunidade a todos os níveis, o sistema dúbio da justiça, as condições sociais precárias dos cidadãos e tantos outros males que assolam o país, não se podem esconder por muito tempo e nem a toda gente. Angola de ontem já não é a Angola de hoje, em termos da agucidade da visão cidadaníca. A única coisa, ou pior, as únicas pessoas que continuam sem mutação, de ontem para hoje, são aqueles que incansável, ininterrupta e poderosamente nos governam. Admiro os “mwadiés” pela insaciabilidade governativa.  

 

Portanto, tudo é milagre e o mais pequeno acontecimento efectiva-se como improbabilidade infinita. Nem tudo está perdido em Angola e nem o futuro do país está decidido à partida, como apregoam os fatalistas (reis dos discursos falaciosos). Somos convidados a não pensar tal igual Parménides de que “o ser é calmo e imutável”. Pensemos, pois, como Heráclito de que “tudo muda, nada permanece imutável”. Os jovens são chamados a estarem à frente das mudanças que o país clama e reclama a todos os níveis. Não me refiro àqueles jovens que passam a vida nos partidos, porque esses já deram provas que, de jovem já não têm mais nada. Tornaram-se fanáticos tal iguais aos mais velhos. O país precisa de jovens da academia, da ciência e da tecnologia. Jovens que fazem e discutem ciência. O país precisa de verdadeiros jovens, aqueles que amam e pensam Angola, longe de seus partidos insossos. A juventude é o presente e não o futuro. O futuro é para as crianças, apregoava Jesus Cristo. A passividade permitirá que todos aqueles que quiserem nos escravizar, o façam sempre que quiserem. Será que não é melhor começarmos a apresentar soluções, a abrir portas, a criar fugas…? Depois, quando chegarmos ao fim do poço, as portas podem não se abrir e o colapso será assustadoramente irreversível. Inspirando-se em Mandela, “tal como a escravidão e o apartheid, a pobreza não é natural. É feita pelo homem e pode ser ultrapassada e erradicada pelas acções de seres humanos”. Uma licção podemos tirar a partir desta frase: com uma boa vontade e coragem daqueles que têm a sorte de nos governar, é possível resgatarmos o povo angolano da miséria crónica para o antanho el dorado. O país jamais caminhará rumo à lama, se começarmos a responsabilizar os nossos dirigentes sempre que se apresentem com comportamento duvidoso, na gestão do que é de todos nós, sempre que o Bilhete de Identidade tiver mais força que o Cartão de militante do comité de especialidade, sempre que se pensar primeiro no povo, sempre que se respeitar rigoramente a Constituição da República e os seus 244º Artigos, quando a policia for um serviço e não uma força, sempre que a Justiça for justa e não duvidosa, sempre que se primar pela rotatividade governativa, buscando, também, quadros que não tenham afiliações partidárias, porém tenham afiliações académicas, científicas, ou melhor afiliações meritocráticas. CHEGA DE PARTIDOCRACIA, IDIOTOCRACIA, LAMBEBOTOCRACIA, CORRUPTOCRACIA E PETROCRACIA. Avante a MERITOCRACIA, APARTIDOCRACIA e ANGOLANOCRACIA. Quem terá coragem e juízo suficientes para fazer cumprir tal desiderato.  

 

 

Já fui mais optimista, mas na óptica do inolvidável Nelson Mandela, “its allways impossible until it´s done” (sempre parece impossível até que alguém o faz). A ver vamos! Eu acredito na força aguerrida do povo angolano. Tudo é possível, até mesmo o impossível…

 

   Não corrigir os nossos erros é o mesmo

      que cometer novos erros (Confúcio).