Cunene – O egoísmo humano em Angola está a atingir níveis assustadores. Quando mais se tem mais se quer. O lema dos poderosos de Angola é: “Tudo para mim e nada para ninguém”. O povo do Cunene está a sofrer a usurpação das suas terras por parte de indivíduos ingratos e desumanos.

Fonte: Club-k.net
Quando o General Kundi Paihama apareceu no Cunene em 1976, fazendo-se acompanhar de soldados cubanos foi recebido como um filho e irmão. O povo trabalhou e combateu com ele. O povo se entregou a luta de corpo e alma pela manutenção da independência nacional.

Naquela altura, o senhor apregoava que se devia combater o neocolonialismo, a pequena burguesia e defender o povo, custe o que custasse.

Infelizmente, 40 anos depois, Kundi Paihama regressa ao Cunene como um neocolonialista e burguês impiedoso. Os colonialistas portugueses que na década de 70 do século passado usurparam as terras do Curoca, hoje ao lado de Paihama seriam alunos não aplicados.

Sabido por todos é que o General Kundi Paihama possui terras por todo canto deste imenso país. Infelizmente, nunca se viu nenhuma produção das suas fazendas. Todos se perguntam o que faz Paihama com tantas terras que possui? Qual é o fruto que sai das fazendas de Kundi Paihama?

Todos estão convencidos que ele é um individuo que ocupa terras só por ocupar, não produz e nunca produziu, absolutamente, nada.

No Cunene, o insaciável General se lhe conhece uma fazenda na comuna da Mupa, município do Cuvelai. No tempo em que foi Ministro dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria valeu-se dessa condição para enganar as pessoas.

Naquela altura, assegurou a todos que tendo em conta o número elevado de antigos combatentes desempregados o Ministério dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria criaria uma fazenda para empregar os antigos combatentes daquela área e não só.

Infelizmente, pouco tempo depois, a verdade veio de cima. A fazenda não tinha nada a ver com os antigos combatentes. É propriedade de Paihama. De forma ardilosa usou o Ministério que dirigia para se apropriar das terras dos camponeses. Quilômetros e quilômetros das melhores terras de pacatos camponeses Cuanhamas foram usurpados.

Desde o surgimento dessa fazenda, ano após ano, está a morrer muito gado por falta de pastos. Hoje em dia, o povo não consegue pastar o seu gado porque a vedação de Paihama açambarcou pastos, água e obstruiu as passagens para se atingir outros lugares com água e bons pastos. Sem dó nem piedade a sua ambição desmedida agravou a pobreza de milhares de camponeses daquela área.

O insaciável Paihama não ficou por ali. Agora se virou para área de Chitado e Kaluheke, municípios de Curoca e Ombadja, respectivamente. Depois de corromper algumas pessoas trouxe máquinas que estão a revolver tudo. Destruindo zonas de pasto, lavras, casas e tudo de valor para os povos Hereros e Nyanekas que habitam aquela área.

Ocupou vasta área, que vai desde a comuna do Chitado no município do Curoca, passa pelo Naulila e Humbe, município de Ombadja. Todos os sinais apontam que o interesse do General não é só o ramo agropecuário, também lhe interessam os diversos minerais que aquela área possui.

Todas tentativas de conversa fracassaram porque o usurpador Paihama, verdadeiramente só quer impor a sua vontade. As autoridades governamentais estão, claramente, ao lado dos invasores porque a policia nacional com uma brutalidade inaudita está em frente armada até aos dentes e pronta para prender e matar. Depois da policia seguem os tratores e buldozers arrasando tudo que encontram pelo caminho.

O homem que sempre apregoou a defesa do povo, hoje declarou abertamente a guerra ao povo. O povo do Cunene sempre defendeu o MPLA e o camarada presidente José Eduardo dos Santos. Infelizmente, hoje são tratados como cães raivosos na sua própria terra.

Se esse povo do Cunene sempre lutou e defendeu o MPLA, por que este MPLA deu as costas ao povo fiel do Cunene? Será que o MPLA perdeu a sua essência de defensor intransigente dos interesses do povo? Será que o MPLA, definitivamente, foi assaltado por ladrões, usurpadores e corruptos? Será que no MPLA já não existem dirigentes honrados? Será que as ambições dos poderosos são mais importantes que o povo?

Quando o povo do Cunene lutava pensava que estava a lutar para o bem do povo. Infelizmente, a realidade nua e crua convence que a luta foi para vos fazer generais, milionários e donos de tudo, incluso da vida do povo. No fim da história, não se vê os frutos do tanto sacrifício nem existe futuro risonho para os seus filhos. Roubaram-lhes a juventude e muitos sonhos ficaram por se concretizar. Foram atirados, impiedosamente, ao mais profundo mar de esquecimento. Até a dádiva de Deus, a terra, o pouco que ficava está a sendo usurpado e não há quem os defenda.

Não é novidade para ninguém dizer que Kundi Paihama chegou aonde chegou graças ao povo do Cunene. A sua brigada denominada “Onças das Montanhas” era constituída, exclusivamente, por pessoas do Cunene. Infelizmente, depois de atingir os seus fins, agora está a descartar a escada que usou durante vários anos e lhe ajudou a subir. Ele está claramente, a cuspir no prato onde muitas vezes comeu.

Há quatro anos que a chuva é insuficiente nestas paragens, razão pela qual a produção agrícola é quase inexistente. Consequência disso é a fome que se verifica na província, principalmente nos municípios do Curoca e Ombadja. Em todos esses anos de muita fome, em que o povo está a dar gritos de socorro nunca se viu ajuda alguma proveniente do multimilionário Paihama.

Agora que descobriu que as terras do Curoca e Ombadja reúnem as condições para satisfazer as suas ambições é que aparece com a arrogância e prepotência que lhe são características dizendo que vai ocupar as terras para produzir comida para o povo. Será que a comida a ser produzida nas suas fazendas será distribuída, gratuitamente ao povo?

Todos sabem que a comida que vai produzir será vendida para aumentar dinheiro, no muito que ele já tem.

Uma coisa é certa, Senhor Kundi Paihama, poderá ocupar as terras, usar toda força a sua disposição, prender e matar, mas saiba que só vais ganhar algumas batalhas, nunca a guerra. O povo do Cunene é aguerrido. A bravura corre-lhe nas veias. Nunca descansará na luta pela sua terra. São herdeiros das tradições de luta e de combatividade de Luhuna, Maharero e Mandume. Nunca trairá esses ícones incontornáveis da resistência anti-colonial. Nunca se renderá nem venderá diante de neocolonialistas. As gerações presentes e futuras lutarão, incansavelmente até que se faça justiça.

O senhor Paihama diz ser cristão. O cristão é agente do bem, de paz e cheio de muito amor. Prega e prática o amor e a vida. Senhor General, os seus actos pregam a vida ou a morte? Pregam o amor ou o ódio? São actos de bem ou de mal?

O senhor General, ainda está em tempo de rectificar os graves erros que está a cometer contra o povo do Cunene. Se não o fizer, saiba que nas terras usurpadas nunca terás a benção de Deus nem dos nossos antepassados.

Deixe de impor ao povo do Cunene um jugo impossível de levar. Angola é vastíssima. Com grandes extensões de terra com muita água e não habitadas. Procure outro lugar e deixe as lavras de pacatos camponeses em paz.