Luanda - Em referência ao meu artigo recente, intitulado: “A Crise de Valores Políticos”, uma internauta interrogava-se a si própria, dizendo: «Esta perda de valores políticos é fruto do capitalismo que de uma forma ou de outra estratificou as sociedades e agudizou as assimetrias em todos os níveis. Hoje o poder político está sujeito ao imperialismo financeiro, detentor de grandes capitais. O escritório Mossak & Fonseca (Panamá Papers) existe porque, as próprias elites financeiras permitiram isso, e durante décadas lucram com os serviços prestados por eles. Hoje o que diremos, qual seria a solução? Talvez uma nova matriz ideológica alternativa ao capitalismo e socialismo! Pelo andar da carruagem o Mundo vai de mal a pior». Fim de citação.

 

Fonte: Club-k.net

Nesta linha do pensamento, feita uma retrospectiva sobre a evolução das comunidades humanas, desde dos primórdios da pré-história, até aos dias de hoje, elas passaram por várias etapas de transformação sistemática, em termos da organização e da estruturação orgânica do sistema político, cultural, económico, científico e tecnológico – na senda da civilização. Partindo do sistema rudimentar para as sociedades mais sofisticadas, dominadas pelos conhecimentos científicos e tecnológicos mais avançados, que deram saltos qualitativos em todos domínios da vida humana, com descobertas sucessivas de outros planetas do universo. 


Portanto, vivemos num mundo altamente complexo, em que a inteligência humana atingiu níveis bastantes altos, que lhe permite desenvolver tecnologias diversas, de altas qualidades, insuperáveis e imparáveis, que servem de instrumentos da civilização. Este passo qualitativo é fruto da faculdade racional do Homem, do senso-comum, da sua curiosidade e da competitividade entre os indivíduos, e entre as Nações – em busca da sobrevivência, do bem-estar, do progresso e da supremacia.


O capitalismo, neste respeito, busca a produção de bens em grandes quantidades, assente na propriedade individual de capitais, na competividade do mercado e no lucro. O lucro constitui o «factor determinante» da economia capitalista, que viabiliza o crescimento do capital, a inovação tecnológica, a fortificação do poder financeiro e a sujeição gradual do poder politico ao poder económico.


Este modo de produção, assente na indústria pesada, na produção em massa de bens, e no lucro, domina hoje o sistema económico mundial – seja socialista ou capitalista. O lucro, numa equação simples, é o excedente que resulta da dedução do investimento, dos salários, dos serviços e dos custos de manutenção das estruturas, aplicados no decurso da produção; regulados pelos preços das mercadorias nos mercados internacionais. Ou seja, o lucro é o rendimento residual obtido por uma operação de compra e de venda, ou de produção depois de pagos os custos.


A problemática do sistema capitalista reside efectivamente na «apropriação exclusiva do lucro» pelo proprietário, que faz crescer gradualmente o seu poder financeiro. Outros factores produtivos (mão-de-obra e serviços especializados) são vedados acesso ao lucro, cujos salários ficam cotados abaixo dos seus valores reais; o que, na realidade, produzem o excedente de produção; que fica revertido a favor do proprietário do meio de produção, em forma de lucro. À adopção deste sistema, da «maximização do lucro» (por diversas formas), fez alterar significativamente a matriz ideológica do Socialismo.


Mesmo a China, que é Estado Comunista, abraçou este sistema, acima referido. Fazendo com que, os salários dos trabalhadores chineses estejam em níveis muito baixo, cujos excedentes (do valor real) é apoderado pelo Estado; transformando-se em activos. Acima disso, as condições laborais dos trabalhadores chineses são desagradáveis, idênticos às que prevaleceram na Inglaterra durante a Revolução Industrial. Por esta via, a China arrecadou fundos enormes de reserva, que têm sido investidos noutros países; sobretudo, nas economias menos avançadas, com mão-de-obra barata, como Angola. Neste sistema, da China, o Estado explora a mão-de-obra dos trabalhadores (maximizado o lucro), da mesma maneira como os capitalistas ocidentais.


O Conceito de erguer uma «sociedade sem classes», defendido pelo Karl-Marx e Friedrich Engels, foi uma autêntica «utopia». Este mundo seria semelhante aquele que está previsto na Doutrina Cristã, do Paraíso, onde existiria a felicidade absoluta e eterna. Todavia, o que está em questão não é bem assim a ausência de classes; que é impossível e irrealista. O fulcral, nesta matéria, é a concentração excessiva da riqueza do Mundo nas mãos de uns poucos. Criando um fosso enorme entre os pobres e os pouquinhos ricos – a nível mundial. Cá, em Angola, nota-se como desenrola este processo da exploração da mão-de-obra dos trabalhadores e dos funcionários públicos, de uma forma descarada, impiedosa e selvagem.


Portanto, este elemento do extremar das classes e do surgimento de contradições antagónicas entre as classes, e entre os países ricos e pobres, já eram previstos pelo Karl-Marx, na sua Obra: «O CAPITAL». O surgimento dos Jovens Revús, por exemplo, é o reflexo da concentração da riqueza de Angola nas mãos de uns poucos, em torno do Presidente José Eduardo dos Santos e sua família, que continuam apropriar-se ilicitamente de tudo, criando um enorme monopólio económico.

 
Em relação à esta matéria, a contradição principal neste momento, em Angola, consiste entre a Doutrina da «formação da burguesia nacional», através da acumulação primitiva do Capital; e por outro lado, a Doutrina que defende a «formação da classe média vasta, estável e crescente»; engrossando nesta, as camadas baixas – libertando-as da pobreza. Neste caso, o MPLA aposta-se na primeira Doutrina, defendida intransigentemente pelo seu Presidente. Ao passo que, a CASA-CE, por exemplo, defende a segunda Doutrina.
Nesta lógica, está-se diante um paradoxo, quando o MPLA reclama-se ainda de ser da Esquerda, assente nos valores socialistas. Por conseguinte, mesmo nos Estados Capitalistas, governados pela «extrema-direita», não pautam pela formação dos ricos. Por natureza, os ricos surgem por mérito próprios. Não cabe ao Estado encargar-se de criar a grande burguesia, com os recursos públicos. Num país como Angola, saído da guerra fratricida, com níveis de pobrezas acentuados e esmagador, a prioridade patriótica do Estado Angolano seria de investir massivamente nas camadas baixas, a fim de reduzir drasticamente a pobreza. Não de formar uma casta burguesa, com fundos públicos. Esta postura do MPLA contrária, a todos os títulos, os valores e os princípios que regem os Partidos da Esquerda ou do Centro-Esquerda.


Em síntese, o fim da 2ª Guerra Mundial permitira a marcação da linha divisória entre o Socialismo e o Capitalismo. Sucedida logo pela Guerra Fria, cujo desfecho marcou o colapso do Império Soviético, que era o «eixo-central» do Socialismo no Mundo. A queda do Império Soviético deu origem à desintegração do Bloco Socialista, sucedida pela afirmação do Socialismo Ocidental, com uma matriz ideológica capitalista, assente na economia do mercado.


Portanto, a conjuntura internacional, da época contemporânea, é caracterizada por seguinte: o desmoronamento gradual das instituições democráticas; o declínio das Nações Unidas; a corrupção generalizada das instituições financeiras; a ilegitimidade do Poder Judicial; a corrida ao armamento; a proliferação de armas nucleares; o retorno a guerra-fria; o unilateralismo das superpotências; o aumento de rivalidades entre a Rússia e as Potencias Ocidentais; a expansão silenciosa da China no Mundo; a concentração de armamentos e das tropas da NATO e da Rússia no Médio Oriente e na Europa do Leste – em pé de Guerra.


Nota-se igualmente, de uma forma extensiva, o expansionismo islâmico ao Mundo; a proliferação de conflitos armados; as convulsões sociais; as violações sistemáticas dos direitos do Homem; as crises financeiras e económicas; os êxodos migratórios, com destino à Europa e aos Estados Unidos da América; o aumento das desigualdades sociais. Provocando, desta forma, o agravamento da pobreza e da fome a nível mundial. Este é o contexto real da conjuntura mundial. Convém, realçar o facto de que, este estado de conflitualidade e do êxodo migratório hão-de exercer impactos enormes sobre a Civilização Ocidental, que constitui o fundamento do Capitalismo e do Cristianismo.
À luz desta realidade, a nova matriz ideológica não será o resultado de um mero abstracto teórico. Pelo contrário, será o reflexo global desta realidade acima descrita, decorrente de conflitos de interesses económicos, que resultará no surgimento de uma nova matriz ideológica, como solução ao status quo, em forma de antítese ao Capitalismo e ao Socialismo Burguês.


Como analogia analítica, o «Socialismo Cientifico» emergiu durante a Revolução Industrial, concebido pelo Karl-Marx. Ele próprio, Karl-Marx, foi filho de um jurista, judeu, de uma família da classe média, da cidade de Trier, na Prússia, no Norte da Alemanha. Nesta altura, da juventude do Karl-Marx, as condições laborais nas indústrias, nas fábricas e nas minas eram desumanas. O modo de exploração da mão-de-obra era intenso e extenso. Acima disso, Karl-Marx estava bem ciente do tráfico de escravos e das condições desumanas da escravatura, sobretudo nas Américas.


Sendo assim, como historiador, ele ficou indignado e revoltado. Saíra da Universidade de Bona para a Universidade de Berlin, como Estudante Universitário. Tornando um jornalista, autor e activista cívico, bastante crítico ao sistema capitalista. Dai, foi perseguido e teve que abandonar Berlin para Londres. Posto lá, Friedrich Engels, seu compatriota, juntou-se a ele. Em conjunto, elaboraram, O Manifesto do Partido Comunista (1848). Seguida de uma Obra histórica, intitulada: O CAPITAL (Das Capital).
Em suma, o Socialismo Cientifico foi um «estudo analítico» sobre a Revolução Industrial, servindo-se de «antítese» ao Capitalismo, daquela época. Interessa realçar o facto de que, Karl-Marx foi um economista, sociólogo, historiador e filósofo. Feita esta abordagem, que é extensa, cabe-me resumir que, a nova matriz ideológica, do Século XXI, é um «tema de actualidade», que está sendo abordado em vários círculos da intelectualidade, das elites politicas, das instituições eclesiásticas e dos centros de pesquisas e de análises – Think-tank.


Viva o Dia Internacional dos Trabalhadores. Bem-haja!