ImageLisboa -  Duas semanas após a visita do Presidente de Angola a Portugal a convite de Cavaco Silva e da viagem de José Sócrates a Cabo Verde, a propaganda e o ruído assentaram. Retome-se o tema.

Pode ter sido mera coincidência o calendário dos dois acontecimentos, mas que pareceu uma marcação homem a homem, lá isso pareceu. O terreno dos PALOP é um assunto politicamente sensível e no que diz respeito a Angola, mais ainda.

O convite que Cavaco Silva dirigiu a José Eduardo dos Santos e a anuência deste contribuíram para que o Presidente português marcasse pontos na política doméstica e sobre a África lusófona.

O facto de o Presidente angolano ser parco nas suas deslocações e de só agora ter vindo, deixando 'pendurados' os ex-presidentes socialistas Mário Soares e Jorge Sampaio, foi significativo. Aquilo que tem sido apresentado como uma aposta vitoriosa do actual Governo no que respeita ao reforço dos interesses económicos portugueses em Angola, mostrou que Cavaco também conta e que Angola sabe aproveitar-se disso. Foi uma entrada de leão de Cavaco na área das relações com os PALOP, numa viagem de evidentes contornos económicos, mas de clara pontuação política.

Como disse atrás, deve ter sido mera coincidência a calendarizarão desta visita e a ida do primeiro-ministro português a Cabo Verde. O anúncio inicial de uma comitiva com nove ministros, pareceu querer impressionar, diminuindo o brilho do impacto do convite de Cavaco Silva ao Presidente angolano. Convenhamos que Cabo Verde é um país que merece rasgados elogios, mas haja a proporção das coisas. A relação que aquele país tem com Portugal e o papel deste junto da União Europeia em defesa de uma parceria especial, dão uma importante dimensão política à relação bilateral. E neste caso à visita de José Sócrates.

O económico aqui é relativamente secundário. Mesmo em tempo de procura ou reforço de mercados, a expansão das oportunidades no mercado cabo-verdiano são limitadas face a Angola.

Foi, portanto, uma semana interessante de demonstração de protagonismo, cada um há sua maneira: um pela via económica conjugada com a política; outro, pelo inverso. Mas ambos a bem da Nação, obviamente...

*Manuel Ennes Ferreira
Professor do ISEG e "think tank" Grupo África-IPRI
Fonte: Expresso