Luanda  - O novo Governador do Banco, Walter Filipe, conseguiu finalmente comunicar com a imprensa, o que aconteceu esta semana no formato “pequeno almoço com…”, que agora é muito usado pelos políticos para falarem mais à vontade com a “malta” e dizerem mais ou menos tudo o que acham que devem dizer. Como é evidente, nunca dizem tudo, pois assim eles, enquanto fontes primárias, depois ficavam sem mais nada para irem “pingando”, pelo que deixavam de ter a grande importância que hoje possuem e certamente não querem perder. Nós, entretanto, dominaríamos de tal forma os dossiers que já não era preciso mais andarmos por aí a fazer “queixinhas” da falta de colaboração das entidades públicas e privadas na hora de partilharem com o país os seus sucessos, infortúnios e angústias.

Fonte: Opais

O próprio jornalismo perderia de algum modo a sua razão de ser, a sua essência, se de facto os detentores dos vários poderes de decisão informassem realmente o país do que se está a passar, para além do que é visível. Seja como for, em matéria de substância sempre é possível dizer algo mais no conforto do “off the record” que entre nós só é mesmo “off” porque as máquinas não estão a gravar. No jornalismo angolano pode-se citar a fonte que nos fala em “off”, sendo por isso uma modalidade diferente daquela que é praticada noutros países, onde esta forma de comunicar com a imprensa é mais restrita, ou seja, serve apenas para fornecer informação substantiva para que os jornalistas compreendam melhor a essência dos factos, dentro dos limites já atrás referidos.

No caso do BNA, esta abertura dos pesados portões da instituição à curiosidade dos jornalistas neste novo consulado de Walter Filipe já permitiu que de facto todos nós tenhamos uma ideia mais aproximada da realidade que foi até aqui a politica seguida pelas anteriores administrações e o que é que é possível fazer-se para se inverterem as tendências anteriores. Para uma economia que sonha com os portos e aeroportos, pois importa tudo e mais alguma coisa, do ponto de vista das disponibilidades cambiais realidade actual que é claramente um desastre.

Mais preocupante ainda é que qualquer alteração do paradigma que se pretenda fazer a partir de agora, terá sempre necessidade de muitos dólares para ir para frente, que agora deixaram de estar disponíveis, como consequência da redução do preço do barril de petróleo. O problema mais grave na hora do balanço que este Governador está a fazer agora, é que as “vacas” quando estavam bastante gordas, serviram muito pouco os interesses nacionais. Quem fala assim não pode ser gago, mesmo que seja um “debutante”. Isto quer dizer e o Governador disse, que a parte de leão do enorme bolo cambial de um passado recente acabou por ser investido no crescimento de outras economias. Esta conclusão que é no mínimo perturbadora, tem o crédito da maior autoridade monetária e cambial do país, por isso tem de ser tida em devida conta, não adiantando em nada assobiar para o lado, mesmo que nela vejamos algumas “falhas técnicas de análise”, de acordo com as nossas conveniências. Permitam-me o parênteses, mas consigo acompanhar a bondade de todos aqueles que acham que entre nós os conceitos há muito que foram substituídos pelas conveniências, sempre que é necessário.

Não há mesmo conceitos que resistam à força das conveniências, que é o que se tem passado ao longo dos tempos e das sucessivas gestões. Walter Filipe já o dissemos noutras ocasiões tem uma grande “vantagem competitiva” para fazer a “revolução” que pretende efectuar, se, antes de mais, conseguir sobreviver aos ataques da “intriga palaciana”, que é de facto o único obstáculo real que os reformadores em Angola têm tido pela frente. Lamentavelmente, a força da reforma continua a mostrar-se pouco capaz para enfrentar com sucesso a eficácia da intriga, por isso é que as reformas dificilmente chegam ao fim. Desta vez a reforma tem como grande aliado a prolongada escassez de divisas, que é de facto um parceiro que pode decidir a contenda a favor dos interesses nacionais, que, em abono da verdade, têm sido os mais prejudicados neste “bilo”, sempre que a intriga consegue passar a frente. A vantagem de Walter Filipe é ter mais possibilidades de poder vir a ser realmente o grande e implacável “polícia” que o Banco Nacional de Angola tem de ser. Walter Filipe é aquilo que poderemos considerar como sendo um “peixe fora da água”, por isso não tem amigos e muito menos sócios no sector e nos mercados circundantes. Por isso é que tem mais possibilidades.

Anteriormente, há que dizê-lo claramente, não era esta a situação. Quarta-feira foi na Mediateca de Luanda que celebramos o Dia de África ao lado do confrade Felisberto Costa (Kajinbangala) e do mais novo, o Prof. Mário de Carvalho. Uma celebração sem grandes motivos para muitas alegrias, pois África continua ser uma grande interrogação cujo ponto é o Madagáscar. Mas ainda mais preocupante é a comparação da sua geografia com um revólver cujo gatilho está no Congo. O problema maior é que o gatilho da intolerância e da violência política está em todo o lado e continua a disparar. Segunda-feira estava em Maputo alvejando um indefeso académico/opinion maker que comenta na STV, com quatro tiros nas pernas.

Um dos bandidos disse a Jaime Macuane que tinham recebido a ordem “para lhe pôr coxo”, o que pelos vistos deverão mesmo conseguir a ter em conta a gravidade dos ferimentos provocados pelas quatro balas disparadas contra o indefeso cidadão. Quarta-feira o gatilho africano esteve ainda mais perto de nós, aqui no Cubal/Benguela, com mortos a lamentar, depois de uma caravana parlamentar da UNITA ter sido atacada por fanáticos locais que não gostam das cores do maior partido da oposição. África Oyé! Oyé! Oyé!