Luanda - A questão da autonomia das Lundas é uma tese defendida por muitos, especialmente o Protectorado da Lunda Tchokwe.

Fonte: VOA

Foi também o tema em foco no Angola Fala Só desta Sexta-feira, 3 de Junho, com o convidado Lindo Bernardo Tito.

Do ponto de vista do deputado pela CASA-CE, não se pode falar em independência das Lundas.

"O que constatamos aqui é triste e revoltante", diz Lindo Bernardo Tito, que reconhece a legitimidade dos movimentos que existem nas Lundas pela defesa dos direitos do povo da região, mas considera que a independência das Lundas não pode ocorrer num quadro em que temos um país como Angola", acrescentando, mais à frente na conversa com os ouvintes, que "a estrutura (o governo) é de centralização clara, tendo medo das autarquias locais têm muito mais medo da autonomia".


O deputado que nos falava a partir do Dundo (Lunda Norte), lembrou no entanto que é "preciso dar dignidade ao povo das lundas", reiterando que cabe ao Estado reduzir as assimetrias regionais.


Descrevendo um "MPLA kimbundo", "desde o Presidente da República, ao Procurador, até à Casa Civil", Tito diz que "este MPLA não tem interesse nas Lundas", sendo uma "estrutura étnica que não olha para o país no geral".


"O Presidente num comício aqui no Dundo disse que o diamante não tem valor algum para reparar uma estrada", acrescentou para justificar que o povo lunda "não tem benefícios".


Questionado sobre as razões pelas quais os lundas não beneficiam da exploração dos diamantes, Bernardo Tito disse ser "triste" e levantou outras questões: "Porquê que a Endiama não tem sede aqui? Porquê que a Sagrada Esperança não tem sede aqui? Porque a ideia é só os diamantes".


"Eles vêm buscar o diamante para enriquecer", rematou, continuando: "No último relatório apresentado pelo ministro nãi havia qualquer referência da arrecadação dos impostos de exploração, porque se criou uma máfia".


Bernardo Tito lembrou que 120 milhões de dólares do Orçamento Geral do Estado vêm dos diamantes e que a maior parte das empresas que explora diamantes são detidas por entidades que gerem o Estado; "isso acaba por criar cumplicidade entre essas pessoas (...) O Estado tem uma fiscalização quase nula e isso é propositado".

O deputado adiantou ainda que quando o ministro esteve nas Lundas não conseguiu explicar de que forma a população local beneficiava da exploração diamantífera.

A Justiça em Angola

Bernardo Tito falou ainda em intolerância política, mencionando o caso dos deputados da UNITA que foram atacados na província de Benguela, considerando ter sido o facto mais relevante da semana.


No que toca à nomeação de Isabel dos Santos para Presidente do Conselho de Administração da Sonangol, como administradora não executiva, Tito disse estarmos "numa tendência nepótica, estamos a ficar saturados".


"A nossa justiça é aquilo que o titular do poder executivo quer: fraca", diz o deputado, descrevendo que nas Lundas a violação dos direitos humanos é constante: "Todos os dias há cidadãos a ser mortos. Eu pessoalmente já assisti à polícia a espancar um cidadão no Lucapa, até sangrar".


Respondendo a uma última pergunta de dois ouvintes pelo telefone e redes sociais, sobre o papel dos deputados, o convidado disse que o modelo de eleição dos deputados deveria ser diferente e que eles deviam representar o povo em vez de agradar aos seus partidos.