Lubango - O estádio da Tundavala, na Huíla, nem relva tem. Os trabalhadores não recebem há meses. Mas não é o único. As outras estruturas desportivas não têm obras de manutenção e algumas ameaçam ruir. Ao todo, o Estado gastou cerca de 90 milhões de dólares em obras que estão ao abandono.

Fonte: NG
O Estádio Nacional da Tundavala, fixado no sopé da Serra da Chela, no Lubango, Huíla, está em avançado estado de desgradação. Inaugurado a 29 de Dezembro de 2009 por Paulo Kassoma, então primeiro-ministro, para acolher alguns jogos do Campeonato Africano das Nações (CAN) do ano seguinte, nunca teve um orçamento que garantisse a sua manutenção. Já mudou três vezes de gestor e os 20 trabalhadores estão com oito meses de salários em atraso e de relva só mesmo as lembranças. A obra custou 69 milhões de dólares.

Na estrutura, funcionam alguns serviços, mas alheios ao desporto. São os casos da repartição municipal da saúde do Lubango, a academia de polícia e um banco comercial. Na parte interior, tudo está parado. O campo não tem relva, em consequência de avarias constantes no sistema de rega, resultantes do roubo, há um ano, do gerador de 420 kva (como o NG relatou). O gerador, que misteriosamente sumiu, terá sido localizado numa fazenda no Bengo, mas não há notícias de como foi lá parar, tão pouco se sabe se será devolvido e quando.

Os 20 funcionários estão sem receber salários há mais de oito meses, mas não deixam de se apresentar no local de trabalho para não fazer nada. Deveriam trabalhar na manutenção da relva e do pequeno viveiro.

O interior da estrutura ainda se mantém funcional. Não há fissuras, apenas a água não sobe aos lavabos, mas foram roubadas algumas sanitas. Nas bancadas, algumas cadeiras estão danificadas pelo sol, principalmente na parte destinada aos jornalistas, onde está quase tudo partido e alguns cabos de rede de internet e electricidade foram saqueados.

Contactado pelo NG, o novo gestor do estádio, Roni Raimundo, no cargo há dois meses, recusou-se a falar, alegando que tem “pouco tempo de trabalho” e ainda está a familiarizar-se com o dossier. Já o director provincial da Juventude e Desportos, Joaquim Tyova, em férias, também evitou explicar o que se passa com o estádio, considerando o assunto “sensível”,

Desde 2009, o estádio já esteve encerrado por quatro vezes, para a recuperação da relva. A antiga gestão havia submetido ao Ministério da Juventude e Desportos três propostas de empresas, apuradas em concurso público, para fazer a manutenção do estádio, mas não foram aceites.

As obras duraram oito meses e foram dirigidas pelo engenheiro chinês Sun Yanhua, da empresa Sino-Hidro. Tem uma área de mais de 25 mil metros quadrados e uma capacidade para mais de 21 mil espectadores. Possui três arquibancadas cobertas por uma estrutura metálica, com realce para as bancadas de imprensa, central, para deficientes e primeiro andar. Comporta ainda 20 salas VIP, duas subestações eléctricas projectadas para 15 mil quilowatts, uma sala presidencial, balneários, duas salas para treinadores e árbitros e sete postos médicos.

O estádio está equipado com um sistema com portas com torniquetes com leitores de bilhetes para o controlo de acessos, assim como um sistema de vídeo-vigilância. Possui ainda salas de controlo e iluminação do recinto, fixada em estruturas metálicas e composta por 408 holofotes de dois mil watts cada uma.

Em Dezembro de 2015, o director nacional dos Desportos, António Gomes, depois de avaliar as infra-estruturas desportivas na Huíla, anunciou a abertura, para esse ano, de mais quatro furos de fornecimento de água ao redor do Estádio, o que ainda não aconteceu. Outra proposta avançada visa a rentabilização do estádio, pois, além da quadra desportiva, existem também compartimentos que podiam ser explorados por agentes económicos, uma vez que as infra-estruturas estão abandonadas e sem qualquer proveito.

Mais degradados

A situação do estádio da Tundavala não é única na Huíla. Também o estádio do Benfica sofre do mesmo mal. Teve uma reabilitação em 2009, para servir de apoio ao CAN. As obras abrangeram bancadas, balneários, casa de máquinas, centro do estádio, instalação eléctrica, canalização, sistema de drenagem e a área administrativa. A relva foi aplicada pela empresa inglesa Support In Sport, em Maio de 2009. A requalificação ficou avaliada em quatro milhões de dólares.

Uma outra estrutura recuperada para o CAN é o Estádio da Senhora do Monte, também em situação preocupante. Com capacidade para seis mil lugares, teve a reabilitação custeada pelo Estado, orçada em 12 milhões de dólares. Foi entregue ao Desportivo da Huíla há cinco anos, mas o clube tem demonstrado incapacidade financeira para o manter utilizável.

Construído de raiz, o pavilhão da Senhora do Monte, com mais de dois mil lugares, está em situação mais difícil: corre risco de ruir. Nove anos depois de ter acolhido o Afrobasket2007, a infra-estrutura carece de restauro urgente, implora o administrador, António Ernesto. A reabilitação deveria passar pelo sistema de canalização e a substituição da cobertura com largas infiltrações de água, o que acelerou a degradação do piso. Um recente levantamento constatou que há rachaduras nas paredes e que o sistema de combate a incêndios não funciona.

O edifício nunca teve obras de manutenção. Não dispõe de um orçamento para esse efeito, vivendo de pequenas rendas de utilização com eventos religiosos e recreativos.