França - Desde o dia 4 de fevereiro de 2002, data em que os comandos militares do governo do MPLA e o das tropas da UNITA assinaram os acordos de paz, fala-se da “reconciliação nacional” em Angola.

“O ódio excita contendas, mas o amor cobre todas transgressões” (Proverbios 10:12)

E é esta data que se comemora hoje dia 4 de abril de 2009, em todo o território angolano, de Cabinda ao Cunene e do mar ao leste.

 Mas uma pergunta se coloca. Será que os angolanos andam mesmo reconciliados? Ou bem, será que estão a sendo realmente bem reconciliados?

 O que tenho constatado cada dia que passa desde que se fala da reconciliação nacional em Angola não permite-me afirmar que Angola esteja a sendo mesmo reconciliada.

 Porquê?

 Em primeiro lugar, porque a reconciliação, nacional ou outra, não é apenas duas palavras colocadas uma ao lado da outra, mas sim uma atitude, um comportamento de cada dia.

Em segundo lugar, porque a verdadeira, a autêntica reconciliação vem do coração, das profundezas do nosso ser.

Em terceiro lugar, porque a reconciliação apaga o rancor, o sentimeno de ódio que se nutria para com o doravante ex inimigo.
A pessoa que pretende reconciliar-se com uma outra deve ter a vontade de virar a página, de perdoar e esquecer-se do passado e tomar um novo rumo !

 Será que é isto que está a acontecendo no nosso país? Os critérios acima citados estão sendo respeitados?

 É claro que não. Nenhum dos critérios acima citados está a sendo applicado. Os nossos actuais governantes falam da reconciliação nacional mas não estão animados com o espírito duma verdadeira reconciliação dos angolanos. Os discursos odientos (rancorosos) que os diferentes governantes têm feito cada semana testemunham da ausência da autêntica reconciliação de Angola. O que lhes anima é eternizarem-se no poder. Continuam com a mesma mentalidade do Partido-Estado ou Partido único. Estão sempre planificando estratagemas, esquemas sobre a maneira de submeter ou eliminar os da oposição e todos aqueles que não pensam como eles.
Um governo animado com o desejo de reconciliar toda a nação não leva uma política de exclusão como é o caso actualmente em Angola, onde as oportunidades de negócios e de ascensão social são reservadas aos que têm o cartão do partido no poder. A tal ponto que muitas pessoas que não têm carácter acabam por deixar os seus partidos políticos de coração ou simplesmente renunciar às suas convicções a fim de ingressarem-se no MPLA com o  único objectivo de assegurar o pão quotidiano.

Os discursos bélicos pronunciados por alguns dirigentes do partido MPLA estes últimos tempos deixam muito a desejar e são provas de que Angola ainda não está reconciliada.
Como pode um dirigente, um dia depois de termos celebrado mais um aniversário da paz e reconciliação nacional, fazer pronuciamentos contrários a reconciliação nacional?  Foi o que fez o secretário geral do MPLA, senhor Dino Matrosse, no mês de abril do ano passado. É incrível. Vê-se mesmo que há pessoas que não querem o bem do país. Porque o que o senhor Dino Matrosse disse apenas visa encorajar os autores dos actos de intolerância política a prosseguirem com estes actos, porque estas pessoas tiram proveitos naquilo. A posição do senhor Dino Matrosse deveria ser somente desmentir ser o MPLA o autor destes actos e depois chamar a cessação dos tais actos e a reconciliação dos angolanos. É desta maneira que um dirigente responsável e pacifista se exprimiria. Mas ao falar da maneira como falou fez prova de irresponsabilidade, sendo um dirigente que ocupa altas funções no seu partido. 

O senhor Dino Matrosse não é o único dirigente do MPLA a fazer pronunciamentos belicosos. O actual ministro da defesa é um outro belicista sem igual, que passa a vida a fazer pronunciamentos violentos. Não vale a pena eu transcrever todos discursos bélicos que já fez desde que é governante, porque são imensos.

Mas o tempo chegou de abandonarmos realmente o ódio a fim de podermos conhecer uma verdadeira reconciliação que vem do coração. Devemos conversarmos em família sobre todos assuntos que abalaram o nosso país desde a independência e em seguida nos perdoarmos e passarmos a uma outra etapa.
Disse que devemos “conversarmos” destes assuntos antes de pretendermos a uma reconciliação nacional porque muitos angolanos andam frustrados e outros estão cheios de ódio por causa do passado. Nomeadamente sobre os acontecimentos do 27 de maio de 1977, sobre a Sexta-feira sangrenta e sobretudo por causa da guerra civil que dizimou muitos dos seus ente queridos.
Como falar da reconciliação nacional enquanto que os corações estão magoados? Uma reconciliação forçada não funciona! Uma reconciliação forçada é apenas uma bomba relógio que explode no tempo programado. Este tipo de reconciliação faz que a vítima espere o momento oportuno para poder vingar-se daquele que no passado lhe maltratou.
Não se pode forçar alguém de reconciliar-se com uma outra pessoa. Porque a reconciliação será falsa. O que se deve fazer é encorajar o perdão mútuo. Porque o perdão é um poder que liberta!

É da responsabilidade de quem está no poder tomar a cargo esta árdua e delicada tarefa da verdadeira reconciliação dos angolanos. Porque por enquanto ainda não estamos realmente reconciliados. O Partido no poder deve ter uma atitude reconciliadora. Pode por exemplo incluir elementos da oposição no governo como símbolo da reconciliação da nossa nação. Mas deve também e sobretudo parar com a política da exclusão, porque é por causa da exclusão que conhecemos uma longa guerra civil. 

O meu maior sonho é ver um dia Angola realmente reconciliada e democratizada. Onde reinará o estado de direito e onde poderemos viver em unidade e diversidade. Onde o nosso combate será no campo de debate de ideias e não da violência gratuita; onde os assassinatos políticos, os esquemas e estratagemas maquiavélicas cessarão; onde os direitos humanos serão respeitados; onde seremos iguais diante da justiça pouco importando o ramo social ou as funções que a pessoa ocupa na sociedade; onde as liberdades serão garantidas. Sonho com uma Angola desenvolvida onde os angolanos não precisarão deixar o seu país para encontrar melhores condições de vida.
Enfim, sonho com uma Angola melhor, onde faz bem viver. E no fundo do meu coração sei que este dia vai chegar. Vai levar muito tempo, mas vai chegar.

E esta Angola só poderá existir se o Partido MPLA, que tem as chaves nas mãos, tiver a vontade política de ver o país avançar e permitir o desbloqueamento da sociedade angolana. Porque tudo depende do MPLA. Temos tudo o que é necessário para vivermos juntos, unidos, em paz, alegres e em harmonia. Em Angola tem espaço suficiente para todos nós; tem riquezas suficientes para que cada angolano viva dignamente.
Então porquê tanta animosidade para com o seu irmão? Porquê muitos angolanos vivem numa miséria indescritível enquanto outros vivem na opulência?
Abandonemos o egoismo, a exclusão e o ódio e teremos um país paradisíaco.

Para terminar, gostaria encorajar a todos angolanos que amam Angola e que querem o seu bem de denunciarem com força todas estratégias maquiavélicas que visam a desestabilização do país duma maneira ou duma outra. Ponham sempre acima de tudo os interesses superiores da nação. Não se deixem levar pelas disputas partidárias que só aproveitam a uma oligarquia de dirigentes em detrimento de pacatos cidadãos que tanto se sacrificam por eles. Sejam eles do Partido do governo ou da oposição.
Queremos dirigentes mais responsáveis, patriotas e pacifistas. Estamos fartos de belicistas e oportunistas. Angola é grande e tem espaço suficiente para todos os seus filhos. Deixemos de manobras que visam excluir alguns filhos desta terra usufruir das suas riquezas, em beneficio de alguns dirigentes corruptos e de seus comparsas estrangeiros.

Angola não se resume apenas à UNITA e o MPLA. Nós, que não pertencemos a nenhum destes dois Partidos também existimos e somos também cidadãos angolanos. Temos os mesmos direitos e deveres que os cidadãos membros destes Partidos. Então pensem en nós.


“Mais justa Angola for, mais forte ela será” Que Deus abençõe Angola.

* Patriota Liberal  Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.
Fonte: Club-k