Luanda - Maria Eugénia Neto, viúva de António Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola, lamentou esta quinta-feira que ainda ocorram no país detenções por se pensar diferente.

Fonte: Lusa

Maria Eugénia Neto falava à imprensa à margem do lançamento do livro “Cartas de Maria Eugénia a Agostinho Neto”, obra em que estão transcritas 184 cartas trocadas pelo casal, entre 1955 e 1957, altura em que se encontrava detido.

 

Segundo Maria Eugénia Neto, a obra traz essencialmente “o apoio que foi dado a um preso político e angolano e que o ajudou a aguentar a cadeia e acreditar na solidariedade e no amor”.

 

Instada, pela agência Lusa, a comentar o paralelismo da situação de há 60 anos e os dias de hoje, feita durante a apresentação do livro, pela ativista e comentadora sócio-política Alexandra Simeão, Maria Eugénia Neto lamentou que haja presos em Angola por situação semelhante.

 

Alexandra Simeão lamentou durante a apresentação do livro a “quantidade de mulheres, mães, esposas, filhas, que tenham sentido e que ainda sintam” o mesmo que Maria Eugénia – “tristeza de ver alguém que se ama sofrer apenas porque se pensa de forma diferente, apenas porque não concorda e decida sair da normalidade conformista, que exige que se aceite tudo sem questionar”.

 

“Acho que se devia falar, acho que se devia fazer como antigamente, que o partido mandava as suas orientações às bases, as bases viam o que é que estavam de acordo, o que é que não estavam, diziam, as coisas subiam ao bureau político e o bureau político tentava satisfazer todos e enquadrar as coisas conforme conviesse ao povo. Acho que o povo dava uma grande contribuição e ajudava os políticos”, referiu a viúva do falecido presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

 

Por sua vez, Irene Neto, filha de Maria Eugénia e Agostinho Neto, considerou que o livro serve para reflexão “sobretudo quando há situações que tem muita semelhança com esta até hoje em todos os países, não só em Angola”.

 

“De facto foi a abordagem da Dra. Alexandra Simeão, é do conhecimento público que há situações muito parecidas, mas é preciso ver as conjunturas, saber examinar as questões, mas penso que acima de tudo é preciso que haja vontade política de mudar o que está mal”, disse à Lusa Irene Neto.

 

Irene Neto disse que são muito difíceis as mudanças e geram sempre conflitos entre gerações, mas “há que haver diálogo e sobretudo com senso, porque o interesse da nação deve ser o valor fundamental”.

 

“Nós todos queremos que a vida em Angola seja o melhor possível, que os nossos filhos, netos, a descendência toda tenha uma vida melhor que nós já tivemos. Se há incompreensões é preciso falar, se há dificuldades é preciso dialogar e penso que é o único caminho que nos resta, não vamos entrar em confrontação e dar cabo uns dos outros como já aconteceu no passado, penso que a geração mais nova não está com vontade de repetir estas situações nem os mais velhos”, frisou a deputada à Assembleia Nacional pelo MPLA.