Luanda - A crónica substantiva dos últimos dias tem sido particularmente nutrida pelos temas relacionados com o BNA e a Sonangol, na sequência de tudo quanto se tem passado pelos corredores/bastidores daquelas duas instituições, por sinal as mais importantes da nossa economia.

Fonte: Pais

Do actuação do novo Governador do BNA muito já foi dito particularmente em relação as suas declarações no encontro que teve com a imprensa.

Deste encontro ou do seu formato menos formal há ainda muito para se dizer no que toca a gestão da informação que não se grava (off the record), devendo servir a mesma para outros propósitos mais estruturantes.


Mas como resistir a informações tão “bombásticas” é a questão que se coloca, pelo que concordo com os confrades que entendem que os verdadeiros “off the records” têm de ser muito mais restritos, ou melhor, têm de ser mais “tete-a-tete”, ou seja, têm de ser verdadeiros exclusivos.


É pelo menos assim que funciona lá fora, onde ela foi “inventada”, a benemérita instituição que acaba por ser a melhor solução para que as fontes estejam mais a vontade sem o receio depois de virem a ser citadas em alguma parte mais gaga, que foi o que aconteceu agora com o tratamento que foi dado a uma parte das declarações de Dr. Valter Filipe.


A manter-se este formato informal mais alargado, os responsáveis sabem que não estão a ser gravados, mas que podem ser citados nem que for de forma mais indirecta, pelo que haverá, certamente, que ter em conta este elemento.


O que não se pode mesmo é colocar palavras na boca do outro, particularmente quando elas têm alguma gravidade e podem afectar direitos de terceiros.


Independentemente do que se passou em concreto, no caso do novo Governador há um elemento novo que parece-nos ser interessante aqui destacar, que é a sua abertura na abordagem dos temas mais “calientes” relacionados com o funcionamento do sector financeiro.


Concordando-se ou não com ela, há que reconhecer que o Governador do Banco está a tentar “abrir o jogo”, num tabuleiro em que o segredo não só era alma do negócio, mas também era ele que alimentava todas as “negociatas” que depois se vinham a saber por portas e travessas.


Antes de Valter Filipe, já o anterior Governador, José Pedro de Morais, tinha ensaiado uma “jogada” semelhante em matéria de abertura, com a realização de um Comité de Política Monetária informal, alargado a jornalistas, empresários, economistas e por aí adiante.


Sem fazer qualquer tipo de comparação, devo confessar que nos soube a muito pouco toda aquela abertura do antecessor do actual Governador, pois até nas questões que nos pareciam mais pacificas como saber em que sector está localizado o maior peso do crédito mal parado, recebemos como resposta o recurso ao sigilo bancário.


Em relação a entrada de Isabel dos Santos para a Sonangol, para já ainda não comecei a questionar o suposto valor acrescentado desta nomeação em termos mais estratégicos e muito menos a discutir o mérito pessoal da escolhida.


Não faltarão, certamente, oportunidades para voltar ao assunto e abordar estas e outras questões conexas.


Lembro-me que foi exactamente há um ano, que o anterior “boss” da Sonangol, Franciso de Lemos, teve a coragem de colocar com a necessária profundidade/abrangência o dedo na ferida aberta em que se tinha transformado a gestão da petrolífera nacional.


O documento em causa anda por aí, mantém toda a sua actualidade/pertinência, pelo que não faria mal nenhum a todos quantos quantos já o leram, que voltassem a olhar para ele com uma maior atenção.


Tudo terá começado pois com este estranho “Grito do Ipiranga” que acabou por alertar o poder político, tendo nesta sequência entrado em cena a nova protagonista que tanta tinta já fez correr e promete fazer correr ainda mais.


Lembro-me igualmente que em 2011 durante a sua passagem pela Casa Civil da Presidência da República, Carlos Feijó já tinha dado inicio a um plano de reestruturação petrolífera angolana que pelos vistos acabou por nem sair do papel, depois do mesmo ter sido tornado público.


Era o “Plano de transferência das despesas quase-fiscais pela Sonangol para o Ministério das Finanças/2011-2012”, O plano repousava num conjunto de pertinentes recomendações produzidas ao longo dos últimos anos por diferentes instituições nacionais e internacionais convergentes em relação à necessidade de se recolocar a Sonangol no seu devido lugar como sendo apenas a mais importante empresa estratégica nacional.
Estas recordações dizem-me uma coisa.


A reforma em Angola, mesmo que for cosmética, só avança em determinadas condições.


Para se tirarem conclusões mais definitivas em relação a este mais recente desenvolvimento que tem em Isabel dos Santos a sua figura central, o grande problema é que nem todos os dados ainda estão lançados, pelo que a procissão ainda vai no adro.

Para se percebem melhor os seus bastidores vamos ter que aguardar mais algum tempo.


Na passada quarta-feira, 1 de Junho, quando fui até ao “Camões-Centro Cultural Português” ver a exposição de pintura do Lino Damião, acabei por assistir também ao acto de lançamento do livro “Crescer Saudavelmente em Angola/de pequenino se torce o destino” da psicóloga e docente universitária portuguesa Olívia da Conceição Carvalho.


Sendo sobre crianças, não é uma obra infantil. É uma obra para adultos. É uma abordagem preocupada com o papel que as instituições e famílias devem desempenhar no acompanhamento das crianças, particularmente voltada para o seu aproveitamento escolar.


O livro é uma espécie de manual técnico dirigido especialmente a todos os profissionais que lidam com os nossos “baixinhos”.


No modelo proposto pela especialista, “as crianças são vistas como o produto de um ambiente complexo dinâmico e interdependente”.


A autora entende que a família é da maior importância para se perceber o desempenho da criança.


“Os pais desempenham, neste contexto, um papel fundamental na melhoria dos resultados obtidos pelos seus filhos”.


É fácil perceber que quando as famílias não “carburam” minimamente por indigência, dificilmente elas terão alguma capacidade de participarem activamente na educação dos seus filhos, sobretudo quando eles têm dificuldades especiais de aprendizagem.


Angola continua a ilustrar de forma dramática esta incapacidade de uma percentagem assustadora das nossas famílias estarem a altura de contribuírem para a educação dos seus filhos, por falta de “carburante”, ou seja de rendimentos mínimos.