Luanda - Agentes policiais afectos à esquadra do Bairro Operário, em Luanda, que há cerca de um mês apreenderam alguns milhares de dólares às kínguilas, são acusados de terem dado destino incerto ao dinheiro.

*Ilídio Manuel
Fonte: Club-k.net

Por agentes da Esquadra do bairro Operário

As visadas, que fazem parte de um grupo de sete mulheres detidas em Maio último na baixa da cidade capital, disseram que a polícia lhes apreendeu vários montantes, que variam entre 500 e os 2000 mil dólares norte-americanos.


Segundo elas, na unidade policial, os agentes, ao invés de elaborarem os respectivos autos de apreensão de moeda externa, limitaram-se a anotar numa “folha vulgar” os seus nomes e os montantes apreendidos.


Afirmaram que, após algumas horas de detenção, foram devolvidas à liberdade com a promessa de que o dinheiro lhes seria devolvido “ o mais rápido possível”, mas que, até à data, continuam sem recebê-lo.


“Fomos várias vezes à esquadra do bairro Operário para reavermos o nosso dinheiro, sem sucesso. Mandaram-nos ir a uma das esquadras da Ilha, onde supostamente iriam-nos entregar o dinheiro, mas em vão. Depois, disseram-nos que fossemos a outra esquadra no S. Paulo. Andamos de esquadra em esquadra, e até hoje não vimos ainda a cor do nosso dinheiro”, queixa-se uma das kínguilas, que diz estar cansada com os “muitos giros policiais”.


A fonte que, por razões óbvias, pediu o anonimato não só lamenta as vicissitudes com que tem estado a passar no seu dia-a-dia, como também suspeita que os montantes apreendidos tenham sido desviados. “Alguém ficou os nossos dólares”, ajunta.
Diz que ela, à semelhança das suas companheiras de infortúnio, faz da venda de divisas o seu ganha-pão, visto ser “mãe solteira, com uma prole de 4 filhos” que dependem de si.


“Limitamo-nos a vender os dólares para sustentar as nossas famílias, pelo que não somos responsáveis pela crise de moeda no mercado. O dinheiro sai dos bancos, é lá onde eles deveriam começar o combate e não na rua”, insurgiu-se a kínguila.


Este jornal tentou sem sucesso obter a versão policial sobre o assunto.


Recorde-se que há cerca de um mês, o governador do Banco Nacional de Angola pediu à Polícia Nacional para que combatesse a venda ilegal de divisas, sobretudo dólares nas ruas. Na altura, a nota de 100 dólares atingiu o valor “histórico” de mais de 60 mil kwanzas.


Analistas atentos ao panorama sociopolítico angolano consideram as kínguilas como o elo “mais fraco” da cadeia no negócio de dólares, em cuja pirâmide estarão funcionários bancários, políticos, empresários, sobretudo de origem asiática e oeste- africanos.