Luanda - Muito recentemente era difícil alguém se dirigir a uma unidade hoteleira de referência em Luanda e em algumas cidades do país e não notar o quão concorridos esses hotéis eram. No local das recepções, nas cadeiras das salas de espera e nos restaurantes dos hotéis era notória a movimentação, o que demostrava que o negócio ia de vento em popa.

Fonte: Club-k.net

Ao voltar num destes hotéis de referência de Luanda nestes dias fiquei assustado com o número de utentes que os meus olhos podiam ver. Perguntei a um dos funcionários como ia o negócio no actual estado da crise, ele prontamente disse que a situação era tão desoladora que eles todos temiam pelos seus empregos. Os hotéis, tais como a maioria dos sectores do país, estão a passar por um período negro. O número de clientes teve uma redução tão grande que muitos hotéis já não conseguem ocupar 40% dos seus quartos em média mensal.

 

Bem, há dias tive o ensejo de partilhar a plateia de um espaço radiofónico com um amigo visionário, Augusto BáfuaBáfua, que muito tem defendido a aposta no turismo para alavancagem da economia face à crise que vivemos. Ele defende que o turismo pode ajudar na injecção de muitos dólares à nossa economia em muito pouco tempo. Alguns dos maiores problemas da nossa economia prendem‐se com a ausência de divisas e o turismo trás divisas. Muito recentemente escrevi um artigo em que dizia que o excesso de proteccionismo e burocracia que se tem verificado na política de concessão de vistos nas nossas embaixadas tem propiciado a corrupção e o enriquecimento ilícito. É necessário que o país reveja urgentemente a sua política de vistos. Não podemos continuar a ser um dos países mais difíceis para se conseguir vistos. Muitos de nós nem consegue ter ideia das malambas pelos quais muitos estrangeiros têm de passar para conseguir um visto de entrada para Angola. Alguns certamente poderão indagar‐se como se pode explicar o elevado número de estrangeiros que vemos nos restaurantes, nas ruas, nos mercados e nos bairros quando os vistos de entrada são difíceis de obter?


Não há dúvida que existem redes de malfeitores que têm permitido a entrada e a permanência de muitos destes estrangeiros no nosso solo pátrio de forma ilegal. Nos melhores dias da nossa economia, alguns estrangeiros desembolsavam avultadas somas em dinheiro para conseguirem vistos de entrada e para a aquisição de cartões de residência. O excesso de zelo nas políticas de vistos e cartões de residência tem propiciado a corrupção e feito com que muitos vendam a soberania e os interesses do país. Por isso, mais vale liberalizar e arranjar formas de controlo para que, pelos menos 90% das pessoas que cá entram para visita ou em turismo voltem à sua procedência.


O turismo é a indústria da paz. Tirando alguns casos isolados de insegurança, Angola é neste momento um dos países mais seguros do continente Africano. Há ainda mais segurança quando nos afastamos das grandes cidades. O país possui vários locais de interesse turístico e muitos estrangeiros quererão certamente passar férias ou poderão querer explorar oportunidades de negócios cá. Precisamos daqueles dólares. Sem mais de longas, o país precisa de trabalhar com grandes empresas internacionais promotoras de pacotes turísticos para começarem a promover as belezas naturais de Angola e os locais de interesse turístico. As embaixadas devem ser instruídas para concederem vistos turísticos em tempo record.


Liberalizemos o processo para que todos os angolanos com ideias e criatividade vivam do turismo. A desburocratização dos vistos trará ganhos em muitos sectores. Até a Taag, a nossa companhia de bandeira, por exemplo, poderá beneficiar‐se disso. Muitas companhias de aviação estão a cortar ou a reduzir os seus voos de ligação à Angola por falta de clientes. Será que é nosso desejo que os avultados investimentos feitos recentemente na Taag se percam? Com a desvalorização do kwanza e a taxa de câmbio a rondar a números mais realísticos em relação à nossa economia, o país nunca teve um ambiente mais propício ao turismo do que este. Porque se é verdade que a vida está mais cara e difícil para os que cá vivem, o mesmo não se poderá dizer para aqueles que vêm de fora e que trazem dólares, euros ou outras divisas. Para quem trás divisas a vida agora fica barata.

 

Exorto ao chefe do executivo, o camarada presidente José Eduardo do Santos, que ordene já aos Serviços de Migração e Estrangeiro, aos Ministérios das Relações Exteriores e da Hotelaria e Turismo que estudem formas de como dar vida ao nosso turismo em tempos de crise a breve trecho. Recomendo, igualmente, que o processo não seja excessivamente politizado.