Luanda - O economista-chefe da consultora Eaglestone considerou hoje à Lusa que "teria sido prudente" Angola pedir ajuda financeira ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e que as medidas seriam "bastante duras", tendo em conta as eleições no próximo ano.

Fonte: Lusa

"No atual contexto, marcado por muita incerteza e riscos, teria sido prudente pedir ajuda financeira", disse Tiago Dionísio à Lusa, argumentando que "as medidas associadas a um pacote de ajuda financeira poderiam ajudar a acelerar o processo de diversificação e na implementação de algumas reformas estruturais e isso seria bem visto internacionalmente".


Para este consultor, "essas medidas seriam exigentes e muito provavelmente bastante duras para os angolanos", pelo que o Governo deverá ter tido "em consideração que há eleições daqui a cerca de um ano; a questão social foi certamente tida em conta na decisão de seguir apenas com o apoio técnico do FMI".


Na semana passada, o porta-voz do FMI anunciou em conferência de imprensa que Angola desistiu de solicitar apoio financeiro ao Fundo, que poderia chegar aos 4,5 mil milhões de dólares por um prazo de três anos, e que pediu apenas ajuda técnica na definição de políticas para suplantar a crise económica e financeira que o maior produtor de petróleo em África atravessa.


Angola, disse Tiago Dionísio, deverá "continuar a fazer o que têm feito até agora, que é gerir a situação no curto prazo, pedir empréstimos à China e a outros parceiros, continuar a receber ajuda técnica do FMI e esperar que o preço do petróleo continue a recuperar".


No final do mês passado, o Wall Street Journal noticiou que Angola está a negociar com o Goldman Sachs e com Gemcorp Capital um conjunto de novos empréstimos de mil milhões de dólares, incluindo um especificamente para medicamentos e alimentos, e que alargam o acordado com o Banco Mundial no ano passado - um empréstimo de 450 milhões e uma garantia de 200 milhões.


"Apesar das dificuldades que o país tem atravessado devido à queda do preço do petróleo, o montante de reservas internacionais no Banco Nacional de Angola têm-se mantido relativamente estável nos últimos meses, próximo dos 24,4 mil milhões de dólares, permitindo uma cobertura de cerca de oito meses de importações, o que é considerado um nível confortável", disse Tiago Dionísio, concluindo que "tudo indica que Angola parece estar em condições de enfrentar o atual contexto adverso sem necessidade de recorrer a ajuda financeira do Fundo".


Ainda assim, concluiu, "um pacote de ajuda financeira do FMI levaria a que as autoridades angolanas tivessem que implementar medidas estruturais mais exigentes e isso poderia, por exemplo, acelerar o processo de diversificação da economia, o que seria positivo para o país e provavelmente seria bem recebido por parte dos investidores internacionais".