Lisboa - O analista da agência de "rating" Fitch que segue a economia de Angola considerou esta quarta-feira, 6 de Julho, à Lusa que a desistência do pedido de financiamento ao Fundo Monetário Internacional (FMI) "aumenta os riscos" para o país.

Fonte: Lusa

"A decisão do Governo de Angola de descontinuar as conversações com o FMI sobre um potencial empréstimo aumentam os ricos para a posição externa financeira do país se outras formas de financiamento não estiverem disponíveis", disse Federico Barriga Salazar em resposta a questões colocadas pela Lusa.

 

"O Governo não revelou uma alternativa ao apoio do FMI, portanto os riscos para as reservas externas, que são historicamente altas mas que desceram no seguimento da queda do preço do petróleo, parecem ter aumentado", vincou o analista, avisando que "um falhanço na atracção de suficientes fontes de financiamento, que levaria a um ajustamento macroeconómico mais abrupto, pode levar a uma descida do 'rating'", que já está em território de Não Investimento, tradicionalmente conhecido por "lixo".

 

Na semana passada, o porta-voz do FMI anunciou em conferência de imprensa que Angola desistiu de solicitar apoio financeiro ao Fundo, que poderia chegar aos 4,5 mil milhões de dólares por um prazo de três anos, e que pediu apenas ajuda técnica na definição de políticas para superar a crise económica e financeira que o maior produtor de petróleo em África atravessa.

 

Já em Março, acrescentou o analista, a Fitch, uma das três maiores agências de notação financeira do mundo, encontrou "uma dinâmica externa em degradação, que contribuiu para a análise da Perspectiva de Evolução do 'rating', que foi revista de estável para negativa em Março".

 

Para este ano, a Fitch prevê um défice da balança corrente na ordem dos 13,9%, uma evolução negativa face aos 8,7% com que estimam que Angola terá fechado o ano passado, e em contraste com o "largo excedente" de 2013.

 

O fim das negociações sobre o pacote de ajuda financeira, que ao abrigo do Programa de Financiamento Ampliado podia chegar a 4,5 mil milhões de dólares até 2019, "revela bem a imprevisibilidade das políticas" de Angola, cuja "fraca governança é um constrangimento significativo ao 'rating' soberano do país", conclui o analista nas respostas às perguntas da Lusa sobre as consequências do fim das discussões sobre o apoio financeira do FMI.

 

Na última acção de "rating" sobre Angola, em Março, a Fitch desceu a Perspectiva de Evolução da avaliação da dívida soberana de Angola para negativa, sendo assim provável que desça o "rating" do país nos próximos 12 a 18 meses, possivelmente a 23 de Setembro, a data da próxima avaliação programada.

 

Na avaliação dos peritos desta agência de notação financeira, o "rating" de Angola foi mantido em B+, abaixo da escala de investimento, ou "lixo", como é tradicionalmente conhecido, mas a previsão de evolução da análise passou de estável para negativa.

 

"A elevada dependência das receitas petrolíferas por parte de Angola, em combinação com a queda dos preços do petróleo desde a anterior avaliação feita pela Fich, em Setembro de 2015, piorou a análise das condições externas, orçamentais e macroeconómicas do país, aumentando os riscos", escreve a Fitch no relatório de Março, em que dá conta da descida do "rating".

 

Segundo a análise da Fitch, o défice das contas públicas vai chegar aos 4,6% este ano, triplicando-se face à previsão de défice de 1,5% do ano passado; igualmente negativa é a previsão sobre o peso das receitas petrolíferas face ao PIB: "Projectamos que as receitas do petróleo fiquem à volta dos 10% em 2016 e 2017, descendo de quase 33% entre 2004 e 2014", escreveram então os analistas da agência.