Lisboa - As negociações entre Angola e o FMI goraram-se para surpresa de alguns e nem tanto para outros. O chamado ‘risco moral’ nas negociações, a ilusão da subida do preço do petróleo e as consequências que um programa teria política e socialmente num ano em que ocorrerão eleições, ajudam a explicar a desistência. Sobre o F (na realidade é EFF — Extended Fund Facility) que estava em cima da mesa nem tudo foi bem explicadinho, diria até que intencionalmente, sobre o que realmente era o F ou melhor, sobre o que não seria. A razão é simples.

Fonte: Expresso

Depois de anos a passar ao lado da diversificação da economia, em momentos de crise profunda sacar da car- tola aquele ‘coelho’ é usual para transmitir um ‘agora sim, há empenhamento’. Por outro lado, é sempre penoso para um governo justificar a necessidade do FMI, seja porque traduz um falhanço da sua orientação económica seja pela carga negativa que Angola e o FMI negociaram num cenário de sombras chinesas e o resultado foi nada aquela instituição carrega, mais a mais em África.

 

Assim, suavizar a ideia sobre o que é o F era tentador. A este propósito, o título do comunicado de imprensa de 6 de abril e as sucessivas declarações são tudo menos ingénuas: “Esclarecendo as razões de uma estratégia de diversificação da economia com o apoio de um instrumento financeiro do FMI.” Repetido por diversas vezes no texto para ‘martelar’ bem a aparente relação direta, pode ler-se: “A assistência no âmbito (do EFF) difere por centrar-se no apoio à diver- si cação económica no qua- dro de programa de médio prazo...” Ou seja, muito boa gente é levada a pensar que o F serviria para diretamente se aplicar na diversificação da economia em Angola.

 

Não, o FMI não serve para isso. Aquela ocorrerá fruto da capacidade, envolvimento e interesse genuíno que as autoridades tenham naque- le objetivo e que passará por profundas mutações estruturais, uma política económica apropriada e o envolvimento do sector privado nacional e estrangeiro. Não era nos sectores de atividade económica que o F se iria aplicar. Mas iria exigir-se, em contra- partida, medidas fortes que a subida do petróleo veio, entretanto e ilusoriamente, pôr em causa...


Professor do ISEG/ULisboa