Huambo - Neste artigo desejo partilhar com meus compatriotas um regozijo que sinto em constatar há mais de um ano uma publicidade do partido MPLA a evocar a ideia de se “revitalizar as estruturas para fortalecer o partido”. Compreendermos e admitirmos que precisamos nos adaptar à evolução do Universo é reconfortante. Afinal estamos vigilantes e conscientes de que os partidos políticos estão a aperfeiçoar-se e tendem a promover seu vigor de competitividade e, pode-se chegar à conclusão que, a UNITA, por exemplo, a reverdecer, anseia fazer de Huambo qualquer coisa como um ‘political playground’, ou seja, uma arena de revitalização, uma cêrca de recreio político para obter mais vantagens no jogo político nacional.

Fonte: Club-k.net

A região do Planalto do Bié (Angola Central) e, concretamente a cidade de Huambo, é propícia – tanto para se estudar a Ciência Política como para se participar na vida político-partidária, pois a região proporciona ao pensamento político uma qualidade excepcionalmente complexa e progressiva que, naturalmente, resulta de dois factores curiosamente importantes: um clima atmosférico favorável à atmosfera psicológica, num território tradicionalmente disputado pela persistente UNITA que, no passado, teve interesse em expandir sua influência no Planalto do Bié e suas proximidades historicamente e sentem que perderam tal privilégio, pelo que tendem a recuperar a sua reputação nesta região do país porque perderam a guerra –, e creio que trata-se de uma questão que persegue sua consciência.

 

O partido do ‘Galo Negro’, como também é chamado, insistia numa crença tribalista, segundo a qual a sua existência estava consideravelmente enraizada nos Ovimbundu, um caso provisório que desvanecera nos resultados eleitorais do ano de 2008, que garantiram ao MPLA uma vitória indiscutível na região, o que revelou-se ser o presumível fim do mito dos ‘bastiões’ – prenunciando o início de uma era de jogo político mais aberto através do país. Prevê-se que, em Angola, a fortaleza de um partido político será somente o crânio de cada um de seus militantes convictos assim como o seu próprio comité de acção, portanto a infra-estrutura. Em relação à Política, euforia popular varia segundo a seriedade de compromissos sociais de um partido. As pessoas são livres, questionam as circunstâncias e gostam de saber por quem devem torcer em competições políticas; parece haver alguma tendência de desfanatização partidária e assimilação da consciência de amor à pátria. A pátria não é um partido político, a pátria não é um servo político nem é o governo; a pátria são as crianças e seus berços, os jovens, as mulheres e os velhos, os túmulos dos antepassados, o povo e as nossas tradições; a nossa terra e as suas paisagens e a atmosfera, os nossos rios e as nossas águas marítimas… fidelidade à pátria, sempre; fidelidade ao governo, só quando merece.

No entanto, a política nacional tem um interesse excepcional para com o Huambo. O Huambo não é apenas um estratégico espaço territorial –, é, acima de tudo, os seus habitantes e, assim, existe o privilégio de expressarmos nossas opiniões políticas em relação à acção governamental.

Segundo Arthur Miller, um dramaturgo norte-americano, Política consiste em alguém controlar o meio que o rodeia.

 

Mark Twain, um escritor conterrâneo dos americanos dizia: “Política é uma ciência; podes demonstrar que estás certo e que os outros estão errados”.

 

Platão, um guia imortal no pensamento político, dizia: “uma das consequências de se rejeitar participar em Política é que, acabas por ser governado pelos teus inferiores”.


Neste século e, com o evoluir da democracia no país, os partidos políticos tendem a contrair-se em números de militantes –, enquanto o pensamento político evolui gradualmente em termos de qualidade. As pessoas parecem cada vez menos interessadas em participar em comícios, limitam-se em questionar as circunstâncias e exercer os seus direitos civis e políticos através de um voto sincero e decisivo no sufrágio universal –, um fenómeno de se esperar onde a democracia floresce, e interessante, porque os servos da sociedade tornam-se mais atenciosos em atender a questões sociais do povo.


Um segredo convencional de se manter no jogo político, ter poder, requer proporcionar aos cidadãos esperança, um sentido de permanência e segurança, isto é, demonstrar predisposição para servir; e o essencial nesse processo consiste em reconhecermos que, não se pode criar uma nação moderna sem se utilizar a herança da civilização – a cultura e ciência universais no campo da arte política.


Felizmente, em 2012, Agostinho Ndjaka, um antigo comissário (governador) de Huambo agraciou o município sede com o primeiro instituto superior politécnico a contar com uma faculdade de Ciência Política & Relações Internacionais –, uma iniciativa que certamente terá algum impacto no processo de formalização do pensamento político a nível local; aliás, os efeitos já começaram. Quatro anos depois, questões políticas locais, nacionais e internacionais passaram a ser abordadas sob perspectivas científicas por jovens cada vez mais seguros em suas opiniões e consciência própria. Creio que, a referida tendência da UNITA assim como o desafio que o partido no poder pretende assumir são sinais claros de que processos políticos são responsabilidades sérias, e asseguro que o Huambo não se ludibria nas limitações de ser a chamada ‘capital ecológica’; existem questões mais significativas para se discutir com a sociedade no geral; existem responsabilidades sociopolíticas que podem ser partilhadas e, pergunto eu – quais devem ser as qualidades e responsabilidades de uma ‘cidade vida’. Os partidos políticos reorganizarem-se é bom, pois as ideologias políticas, que são susceptíveis de constituir o núcleo da vida social, estão intrínsecas nestes; e quando militantes de um mesmo partido, em vez de organizarem-se e assegurar alternância na liderança do mesmo, ficam a se criar dificuldades entre si como gatos a lutarem num saco, as consequências repercutem-se no nosso modo de vida… por isso, alternância de poder está difícil.

 

“Enquanto espera-se que o partido dos camaradas pense nisso, não se perde tempo na sua estagnação de relutância. É importante frisar que, enquanto o MPLA está aí a kutatayala, ou seja, a afligir-se de dificuldades, o povo tende a reconhecer e apreciar o pragmatismo das outras forças políticas que parecem estar a descobrir que potencial não é apenas o que elas têm, mas o que a sociedade pensa que têm”.


Porém, o mais importante numa sociedade não é a reputação de um partido político; o mais importante nesta sociedade não são os caprichos do MPLA ou da UNITA, o mais importante é a eficiência de serviço político em relação ao povo, e nessa ideia concordo com o compatriota Agostinho Neto que dizia que o mais importante era resolver os problemas do povo, um legado que actualmente tem sido desrespeitado pelos que diz-se serem servos políticos.

 

Honestamente falando, o que em geral diz-se do actual governo é qualquer coisa como acusação de ser uma instituição na qual o som tem mais velocidade do que a luz, ou seja, fala-se demais e faz-se muito menos do que o suficiente; gostar-se-ia de ouvir menos e ver mais –, ver mais trabalho. Creio que, certamente pode haver mais trabalho; alias, já eramos MPLA-PT, ou seja, o partido do trabalho. Portanto, quanto a esse aspecto, temos algumas noções, pelo que – creio que o problema não é incompetência, o problema é falta de vontade política. Ouve-se também que, as pessoas desfavorecidas no país são vítimas de indivíduos da sociedade famigerados e cheios de malicia –. É mesmo malícia, incompetência, ou falta de vontade de se servir o povo? Bem, quem sou eu para comentar sobre isso? Porém reservo-me o direito de afirmar que, ainda acredito que existe a possibilidade de se assegurar condições e oportunidades para podermos evoluir juntos e fazer de Angola um país bom para todos.


Estou admirado e alarmado ver que, as autoridades angolanas andam obcecadas por excesso de relações com outras ditaduras da Região dos Grandes Lagos enquanto assunção do nobre lugar da nação na África Austral só existe em retórica.

 

Geograficamente, o país situa-se a sudoeste da África Central, na periferia da ‘área dos grandes lagos’ e noroeste da região austral do continente, à qual a sua extensão é mais significativa, e historicamente mais envolvido; pelo que, cooperação internacional a nível de ambas as regiões é necessária. Porém, integração regional deveria ser com a África Austral e só. As sociedades nas jurisdições políticas da região da África Central, infestadas de efeitos de más influências e anarquia, estão desafectas e desunidas; expor os nossos subdesenvolvidos cidadãos em relações com povos desorganizados pioraria a desgraça, pois, lidar com pessoas sem pré-disposição para evoluir é inútil; e os angolanos devem vigiar as políticas sociais nas regiões congolesas e certificar-se de que hábitos e costumes sociais desordeiros não transcendam à nossa sociedade.


Dizer que Angola está a estabilizar a ‘Região dos Grandes Lagos’ é muito discutível, pois, esta é tida como uma ‘zona de conflito activo ou tensão severa’; a conflitualidade lá é um desafio enraizado num passado remoto, com epicentro na área geográfica que corresponde ao antigo Ruanda-Urundi desde finais dos anos 1300 quando os tutsis, uma guerreira etnia oriunda da Etiópia, invadiram a área pelo norte a sul. Quando os alemães conquistaram a área em 1897, atmosfera psicológica difícil entre os tutsis e os autóctones hútus persistiu através da era colonial belga entre 1916 e 1946. Apesar de a tensão entre a maioria hútu e a minoria tutsi ter diminuído significativamente, conflitos na África Central continuam. Em 2016 o Burundi continua assolado pelo analfabetismo político típico de africanos; um ditador que diz-se ter se formado em Pedagogia, em violação de uma série de acordos assinados por burundineses com mediação de Nelson Mandela da África do Sul em Arusha na Tanzânia em 1993, após dois termos consecutivos de 5 anos no poder em harmonia que se previa nos referidos acordos, alterou a Constituição para se beneficiar de um terceiro mandato ignorando objecções da oposição, sociedade civil, e da comunidade internacional, o que incitou no país outra onda de violência que diz-se ter causado 400 mortes e dispersão de mais de 200 mil pessoas que se refugiaram em países vizinhos inclusive o Ruanda. Além do ‘tirano’ de Burundi, um outro no Uganda, após dez anos no poder também adulterou a Constituição para continuar. Recentemente, na República do Congo um ditador adulterou a Constituição para se perpetuar no poder como uma carraça agarrada à pele de uma vaca e retirou limite a mandatos. Em sequência de uma rebelião armada na República Centro-Africana, o país, em guerra civil, está a sangrar.


Por África, além de Pretória, Windhoek e, talvez Acra, não parece haver outro governo com legitimidade moral para intervir em assuntos de outrem, pois os dirigentes não são pessoas sérias; uns ficam a violar a Constituição para se servir do poder por entre 16 e 40 anos; os tiranos, descaradamente acomodam-se e felicitam-se entre si com brindes e sorrisos sem graça. Além desse modus operandi desestabilizador, partes daquela região ou suas proximidades estão infestadas de milícias islâmicas somalis, armadas, perigosas e ameaçadoras; e o Quénia já é um lugar de tormentos. Em minha psique, os limites fronteiriços nortenhos de Angola constituem os limites da região da África Austral a noroeste; os congoleses que fiquem caladinhos com a sua anarquia lá no seu país! Aderir à SADC não é para quem quer por querer, é para quem pode e merece. A SADC, substancialmente regulada por políticas sociais formais na Namíbia, República da África do Sul (RAS), Swazilândia –, adoptadas na Commonwealth que é multidisciplinarmente liderada por Londres, é uma zona de ordem e disciplina, onde há prestação de contas à justiça, eficácia de instituições, transparência governamental; desde que a Namíbia passou à independência em 1990, o seu actual chefe de Estado é o terceiro; a RAS, desde que tornou-se independente em 1994 teve três administrações, sendo a actual a quarta. Quanto à Angola, onde desde 1979 o líder é o mesmo, desejo saber se é ‘presidente’ ou ‘rei’. A crónica crise afro, enraizada na dificuldade em se aprender e aplicar princípios tradicionais da civilização, é desencorajadora.

Penso que as autoridades angolanas envolvem-se em processos políticos de outros países da África Central, a fim de se evitar que os vizinhos desordeiros nos causem problemas, o que é positivo; pois, aquela região está denegrida de um historial de instabilidade e susceptibilidade de perigar a nossa sociedade. Mas não é situação de se dramatizar, pois os congoleses (do ex-Zaïre), populares naquela região, foram catalogados com derrotas quando provaram no veneno da monstruosa raiva da máquina angolana de guerra em 1975 e em 1994; creio que estão conscientes disso e compreendem que, “quando a história se repete, o preço é mais alto”. Além disso, o êxito militar angolano nos conflitos congoleses de 1997 e ’98 cristalizou a nossa reputação em relação à geoestratégia; pelo que, somente um esquizofrénico nos provocaria.


Que se concretize a integração com a África Austral, a sub-região mais organizada do continente, através da qual poderemos fazer de Angola um país de se orgulhar, uma nação próspera e útil à África e ao resto do mundo; não há outra via. A África Central está a escuras causadas por uns descarados párias que estão a desgraçar o coração do continente, e o regime angolano tende a evitar os sul-africanos para tentar buscar protagonismo na escuridão, onde pretende aparecer como uma luz ou o tal dominante naquela região; é como alguém que, por não saber viver na cidade vai à uma aldeia rural onde quer se gabar com o pouco que aprendeu com os civilizados para parecer ser o melhor da área; um roto a querer se exibir entre outros rasgados.


Compreende-se que, por a RAS ter sido parte do antigo moderado Império Britânico, o modo de vida naquele país tradicionalmente subsiste em alguma harmonia com o etos, isto é, o espírito característico dos europeus e, para nós africanos que precisamos assimilar tradições da civilização, isso é bom; pelo que, não sou ninguém para endereçar aos cidadãos da sociedade sul-africana conselho nenhum em como deveriam conceber o seu patriotismo em relação à região em apreço, mas creio na possibilidade de as novas gerações de Angola e da RAS pensarem no que é essencial para se proporcionar à região uma atmosfera social que propicie sustentabilidade no desenvolvimento sociopolítico e económico. Creio que podemos pensar em progresso, coexistência pacífica e liberdade de expressão; e alguns aspectos de responsabilidades incluem questões como segurança, superpopulação, pobreza, poluição ambiental, e ditadura. Portanto há tarefas que requerem humildade perante a civilização e um esforço enorme, pois pretende-se uma Angola prevista num destino de evolução com outros povos desta região e especialmente os sul-africanos, povos relativamente mais civilizados e predispostos a assimilar inovações, povos próximos a nação mais aberta ao resto do mundo –, a RAS que está a um nível de desenvolvimento invejável e ao mesmo tempo essencial para quem anseia aprender a viver melhor a vida, pois é a nação africana com estabilidade sustentável e a que mais granjeia consideração a nível da comunidade internacional. Porém, sul-africanos são eles, não nós; nós temos responsabilidades próprias e eles são os nossos adversários no processo de difusão ideológica na região. Na SADC, maior vigor económico e de democracia é eminente do lado da RAS e é vantagem deles em relação a nós. O que precisamos é interagirmos com uma cautela tal que a assimétrica vantagem não nos ofusque. Podemos interagir com eles com uma resiliência que nos assegure sobrevivência face a uma influência de classe global e, pode-se crer que não há necessidade de se temer, pois há através da região pessoas optimistas que esperam haver maior aproximação com Angola e relações mutuamente vantajosas entre os povos, relações que inspirem uma atmosfera de confiança e sustentabilidade de desenvolvimento.


Enfim, os partidos políticos angolanos podem se reorganizar, e desintoxicar a sociedade de algumas manias residuais do Comunismo, prevenir anarquia, aperfeiçoar o processo de democratização, e assegurar uma atmosfera sociopolítica que proporcione aos cidadãos pensamento aberto, livre e responsável.

Inácio Vilinga_autodidacta em Política, e assuntos russos desde 1999.