Luanda - O diretor do Centro de Estudo e Investigação Científica (CEIC) de Angola, o economista Alves da Rocha, afirma que "conforme se desconfiava", a "situação financeira" angolana é "bastante grave" e obrigará a austeridade.

Fonte: Lusa


O responsável do CEIC, da Universidade Católica de Angola, reagia em declarações à Lusa ao anúncio de revisão, por parte do Ministério das Finanças, dos principais indicadores macroeconómicos para 2016, nomeadamente a revisão em baixa do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), dos iniciais 3,3 por cento para 1,3%, e do aumento do défice estatal, que passa de 5,5% para 6%, obrigando a maior endividamento público.


"A curto prazo não há alternativa à aplicação de uma política de austeridade, com cortes no consumo público - despedimento de funcionários, ajustamentos salariais -, a não ser que o número de ?funcionários fantasmas' [recadastramento em curso eliminou dos registos, entre setembro e maio, mais de 55.000 trabalhadores] a abater nas folhas salariais seja suficiente para acondicionar os gastos públicos às metas traçadas para o défice", apontou.

 

O Governo angolano anunciou ter garantido, desde novembro, 10,4 mil milhões de euros de financiamento externo, empréstimos que visam colmatar as dificuldades financeiras face à quebra na cotação do petróleo.

 

Além disso, o Ministério das Finanças prevê agora arrecadar 18 mil milhões de dólares (16,2 mil milhões de euros) em receitas fiscais, menos 25% face ao estimado inicialmente, uma quebra inferior ao corte nas despesas.

 

"O OGE previa 30 mil milhões de dólares [27 mil milhões de euros]. Estima-se agora que sejam 24 mil milhões de dólares [21,6 mil milhões de euros] no final do ano", lê-se na informação do Ministério das Finanças, sobre a revisão das estimativas de despesas a realizar pelo Estado.

 

Neste cenário, Alves da Rocha defende ser necessário, num contexto de "revisão orçamental" nas contas deste ano, "adiar a implementação dos projectos estruturantes mais caros".

"Evidentemente que os efeitos sobre o crescimento do PIB serão negativos, havendo que decidir: mais crescimento, mas também mais défice público, menos crescimento e menos défice fiscal do Estado. O que é mais importante para os cidadãos", questiona o economista, diretor do CEIC.

 

Alves da Rocha enfatizou que entre 2002 e 2015 o saldo orçamental acumulado angolano chegou a 34.200,7 milhões de dólares (30,7 mil milhões de euros).

 

Recorda ainda que na reprogramação orçamental anunciada esta semana pelo Ministério das Finanças, a queda das receitas (- 6,4 mil milhões de dólares) face ao inicialmente previsto é "mais acentuada" do que a diminuição das despesas (- seis mil milhões de dólares).

 

"Daí o agravamento do défice fiscal face ao inicialmente estabelecido. Se estas tendências se mantiverem, então o défice orçamental poderá ser superior a 6% do PIB, de acordo com o mais recente ajustamento oficial", aponta.