Luanda – O preço do cacete, o pão mais consumido nos bairros de Luanda, não pára de subir. Numa semana subiu de 60 para 90 kwanzas. O Novo Jornal Online falou com alguns habitantes que dizem que o "mata-bicho" é cada vez mais incerto.

Fonte: NJ
As constantes mexidas no preço do pão, alimento fundamental dos produtos básicos da população angolana, está a deixar a esmagadora maioria dos habitantes de Luanda com os nervos em franja. O dedo acusador está apontado aos especuladores que manuseiam o preço da farinha importada.

Um exemplo desse mal-estar é dado por Jorge Lourenço, que o Novo Jornal foi encontrar no Cazenga, onde disse que já não consegue tomar o pequeno-almoço porque, "com o preço do pão sempre a subir não é possível organizar o salário para ir até ao mês".

"Desde que subiu o preço já não consigo tomar o mata-bicho porque fica complicado gastar 90 e no almoço gastar mais 900 kwanzas. Então, prefiro não comprar o pão de manha e gastar diariamente no almoço 1000 kwanza. O governo deve rever esta situação porque a vida está cada vez mais difícil", disse o cidadão de 26 anos, morador do Cazenga.

De acordo com Mário Gustavo, também morador no Cazenga, o mercado está um caos "onde cada um estipula o preço segundo a sua conveniência", acreditando que a principal causa da especulação é a falta de um órgão responsável para controlar e regularizar os preços.

A justificação

Gina da Silva, vendedora de pão no mercado dos Cajueiros, explica que o pão está a subir porque a caixa de 50 pães que comprava na padaria para revender a 1800 kwanzas, "custa agora mais de 3500".

"Cada cliente que vem comprar fica a reclamar como se fossemos as principais causadoras, mas nós não somos as culpadas porque não fabricamos pão. Só temos um ganho de 25 kwanzas em cada caixa. Enquanto a caixa estiver no valor de 3500 não temos uma outra opção", disse a vendedora.

O sector responsável pela fiscalização e estipulação do preço está de mãos atadas porque 80 por cento do mercado de importação da farinha de trigo está dominado por empresários estrangeiros, segundo dados da associação de industriais e panificadoras, AIPPA.

Perante está situação, o sector diz-se refém de um "cartel que faz o que bem entende", chegando a vender a farinha três vezes acima do seu valor e o resultado é a subida do preço do pão.

"Neste momento são os estrangeiros que detêm o monopólio da importação de farinha de trigo em Angola. Vamos até dizer que formaram um cartel, e são eles que põem e dispõem dos preços", acusa Gilberto Simão, presidente da associação das indústrias de panificação e pastelaria de angola, em declarações ao Novo Jornal Online há cerca de uma semana.

"Basicamente tomaram conta do sector e fazem o que bem lhes apetece. Mas isso tem de acabar. O Governo tem de pôr um travão", reitera o responsável da AIPPA.

Para inverter este quadro, a AIPPA defende a criação de uma central de compras e de uma cooperativa, por forma a assegurar a importação de farinha de trigo por todos os industriais, e para que se façam importações dirigidas em todas as províncias do país.