Lisboa - A consultora EY, que auditou as contas da Sonangol, afirma que os resultados apresentados no relatório anual da petrolífera angolana estão “sobrevalorizados” em dezenas de milhões de euros.

Fonte: Publico

Numa de várias reservas expressas no relatório de auditoria anexo ao relatório e contas de 2015, a EY refere que “o activo não corrente, o resultado do exercício e os resultados transitados encontram-se sobrevalorizados em 30.243.059 milhares de AOA [kwanzas, 166 milhões de euros ao câmbio actual], 17.433.406 milhares de AOA [96 milhões de euros] e 12.809.653 milhares de AOA [70 milhões de euros], respectivamente”. As discrepâncias estão relacionadas com a desvalorização de fundos em que a empresa investiu e com despesas relacionadas com bolseiros do Grupo Sonangol.

 

Num contexto de descida acentuada do preço do petróleo, a empresa, que é integralmente detida pelo Estado, tinha comunicado no relatório e contas, apresentado no início deste ano, receitas de 2,3 biliões de kwanzas em 2015 (perto de 13 mil milhões de euros), o que significou uma descida de 38% em relação a 2014. Os resultados líquidos afundaram 66%, para 47 mil milhões de kanzas (259 milhões de euros).

 

No documento, a EY afirmou ter também reservas quanto a movimentos financeiros entre a empresa e o Estado angolano, explicando não ter elementos para confirmar se os montantes em causa “reflectem todas as transacções, direitos e obrigações” da Sonangol enquanto concessionária estatal (a posição da auditora encontrou eco na opinião escrita pelo conselho fiscal da empresa). A EY incluiu ainda uma nota para o adiamento, “ao contrário do esperado no final de 2014”, do negócio de exploração de gás natural liquefeito em Angola e o consequente impacto negativo nas contas do grupo.

 

A Sonangol, para onde foi nomeada recentemente uma nova gestão, está a passar por um processo de reestruturação, que implicará dividir a empresa. Há pouco menos de dois meses, e com a economia angolana a sofrer com a quebra do petróleo (chegou a estar em cima da mesa um pedido de resgate ao FMI), o presidente José Eduardo dos Santos escolheu a filha, Isabel dos Santos, para os cargos de presidente e administradora não executiva da empresa. A decisão gerou controvérsia dados os muitos interesses empresariais de Isabel dos Santos dentro e fora do país e está a ser contestada por um grupo de juristas angolanos.

 

A teia de ligações entre Isabel dos Santos e a Sonangol é densa e a actividade tanto da empresária, como da petrolífera, tem várias ramificações em Portugal, como é o caso de um investimento conjunto na Galp Energia. Para além disso, Isabel dos Santos tem participações nos bancos BPI (é o segundo maior accionista, com cerca de 19%) e BIC (que também tem operações em Angola), bem como na operadora NOS e na empresa de soluções energéticas Efacec. Em Angola, a Sonangol é dona de 25% da Unitel, controlada por Isabel dos Santos e que é accionista de 49,9% do Banco de Fomento Angola, que é maioritariamente detido pelo BPI.