Luanda - A mulher do músico e activista Luaty Beirão tinha deixado o marido, durante a manhã de hoje, 29, na 14ª Secção do Tribunal Provincial de Luanda, no Benfica, quando foi abordada por agentes da Polícia. Após terem requisitado apenas os documentos pessoais, pediram que os acompanhasse de carro, num périplo que se arrastou pela zona sudeste da capital. O Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional e a direcção provincial do Serviço de Investigação Criminal (SIC) não prestaram qualquer esclarecimento.

Fonte: RA

“Quando os agentes da Polícia pediram apenas os meus documentos pessoais confesso que achei estranho. Estava no carro e eles não fizeram qualquer referência aos documentos da viatura, nem à carta de condução. Mandaram-me segui-los. Após três ou quatro quilómetros surgiram uns carros cinzentos, sem matrícula visível e de vidros fumados, que as pessoas costumam associar aos serviços de segurança interna”, conta Mónica Almeida ao Rede Angola, quando ainda tentava se restabelecer do sucedido.


“Às tantas os agentes perguntam-me se o carro tem instalado o serviço de geo-localização (GPS). Como o carro é da minha mãe, eu liguei-lhe para perguntar. Depois de confirmar que, de facto, o carro está equipado com GPS, já não consegui fazer mais chamadas telefónicas. Fiquei com a sensação que os agentes da Polícia estavam a usar um bloqueador de sinal, que acabou por me impedir de contactar a minha família”, lembra Mónica Almeida.


Apesar de reconhecer que “em nenhum momento” se sentiu intimidada e que os agentes foram cordiais, Mónica Almeida explica que andaram de carro pela zona do Camama/Estádio 11 de Novembro, Talatona e Nova Vida. Durante quatro horas.


Contactado pelo RA, Mateus Rodrigues, porta-voz do Comando Provincial de Luanda, começou por encaminhar qualquer reacção para Engrácia Costa, porta-voz da direcção provincial do SIC. Uma vez contactada Engrácia Costa, a posição oficial foi de novo encaminhada para Mateus Rodrigues. Que já não respondeu a duas chamadas telefónicas e a uma mensagem.


“Depois de tantas voltas, apareceu um senhor a quem perguntaram se eu era a tal pessoa, alegadamente suspeita de cometer um crime. O senhor respondeu: ‘Não é’. Um dos agentes saiu do tal carro cinzento e sem matrícula e pediu-me desculpa de forma cordial, explicando que foi uma mera informalidade, típica dos trabalhos de investigação criminal.


Foi também nessa altura que o meu telemóvel voltou a ficar contactável”, conta Mónica Almeida.


A atitude da Polícia poderia estar, de alguma forma, ligada ao marido, ao chamado Movimento Revolucionário e aos 17 condenados por actos preparatórios de rebelião e associação criminosa.


“Não houve qualquer questão relacionada com o processo ou com o Luaty [Beirão]. Confirmo apenas que me perguntaram por uma pessoa (que eu nem conheço, apenas ouvi falar), que estará sob investigação”, explica.


Uma eventual queixa contra a Polícia Nacional ou contra o SIC ainda está em aberto. “Estou a pensar sobre o que vou fazer a seguir. Para já vou deixar passar algum tempo para tomar uma decisão. O que é certo é que ao longo das quatro horas não me senti intimidada, nem senti nenhum fundo de maldade na atitude das forças policiais”, frisa Mónica Almeida.