Benguela  - Anualmente, Angola gasta centenas de milhões de dólares para sustentar os exercícios de auto-exaltação do seu Governo.  Marqueteiros estrangeiros, nomeadamente brasileiros e portugueses, equipamento de ponta são anualmente contratados e adquiridos para pôr de pé uma estratégia de propaganda que visa dizer ao mundo que Angola está nos píncaros da modernidade.

Fonte: Club-k.net

Estrangeiros que aportem ao País e que tenham como exclusivas fontes de informação os dois canais da TPA e as ramificações da Rádio Nacional podem ser levados a acreditar que Angola lidera em todas tabelas mundiais de progresso e bem estar do seu povo.


Pagos a peso de ouro, os profissionais contratados para dourarem a imagem do Governo vendem ao mundo a ideia de uma Angola campeã na qualidade de saúde; líder incontestável na qualidade de educação e ensino, enfim, um país de perfomances inegualáveis.


No seu “pico de forma”, a TPA e RNA, bem coadjuvadas pelo Jornal de Angola, sugerem, quase explicitamente, que países como a Suécia, Noruega, Dinamarca ou Finlândia, mundialmente famosos pela excelente qualidade de vida que proporcionam aos seus cidadãos, inspiraram-se no exemplo de Angola para serem o que são hoje e sem a “clarividente orientação do camarada Presidente José Eduardo dos Santos” estariam na cauda de tudo.


Tudo mentira!

Apesar das centenas de milhões de dólares gastos em propaganda, a realidade teima em mostrar um país na cauda de todos os índices.


Somos um desastre na área da saúde; na educação e ensino não conseguimos fazer melhor; apesar de atravessada por imensos rios, Angola não consegue proporcionar água potável sequer à metade da sua população; a energia eléctrica, que poderia ser gerada pelos imensos rios que possui, é um sonho para grande parte dos angolanos. Com o agudizar da crise económica e financeira, em resultado da má gestão dos recursos do país, não tarda a dieta alimentar de milhões de angolanos se resumirá a ervas e raízes.


Num momento em que a milhões de angolanos falta uma palavra de conforto e esperança, em que é necessário juntar as sinergias para resgatar o País do poço em que foi afundado pela irresponsabilidade, ganância, corrupção de uns poucos, a propaganda ao serviço do Governo tenta tapar o Sol com a peneira. Ao invés da mostrar o duro quotidiano das sofridas famílias angolanas, a TPA desperdiça recursos humanos e financeiros para transmitir em directo espectáculos musicais quinada dizem à maioria do nosso Povo. A mesma TPA que é instruída para dizer aos angolanos que lhe faltam meios humanos e técnicos para transmitir em directo os debates parlamentares.

Em suma, não há um único ponto de convergência entra a Angola pintada pelos marqueteiros contratados pelo Governo e a Angola real, aquela onde se contorcem milhões de seus filhos.


Mas as centenas de milhões de dólares gastos anualmente com a propaganda não são capazes de reverter a realidade. E disso tem perfeita noção os principais dignitários do País. São abundantes as provas de que o próprio Presidente da República não acredita nas façanhas que os propagandistas lhe atribuem e muito menos no paraíso terreno em que Angola se teria convertido graças à sua clarividente condução.


José Eduardo dos Santos nunca “comprou” o que vende aos incautos.


O Presidente da República nunca acreditou que um hospital angolano, público ou privado, seja capaz de lhe extrair um simples dente. As idas anuais ao estrangeiro para tratamentos médicos são a prova de que ele não aposta um tostão furado no nosso sistema de saúde.


Desde que é Presidente da República , e já lá vão longos 37 anos, José Eduardo dos Santos nunca permitiu que os seus filhos frequentassem qualquer escola pública angolana. Não pode haver prova melhor da desconsideração em que ele tem o sistema de ensino angolano.


Embora gaste anualmente milhões e milhões de dólares em propaganda, o Governo leva muito a sério o que a realidade lhe mostra. E esta diz-lhe que, sob esta gestão, a gestão do Presidente José Eduardo dos Santos, Angola não tem futuro.


É por causa desse conhecimento que quase todos, se não todos, os dirigentes deste País se precipitam em enviar para o estrangeiro as fortunas que acumulam aqui.


Recentemente, o próprio Banco Nacional de Angola tornou público que entre 2010 e 2014, no auge do boom petrolífero, angolanos investiram no estrangeiro quase 17 mil milhões de dólares. É dinheiro que daria para fazer muita, muita coisa.

A migração de tanto dinheiro tem uma explicação: os endinheirados angolanos não confiam no seu próprio País.


A falta de confiança no País é – e compreende-se – institucionalmente encorajada.


Inspirando-se no exemplo vindo de cima, também os servidores públicos do patamar de baixo começaram a acautelar o seu futuro no estrangeiro.


Exemplos?


Gonçalves Inhangica e Adalberto Fernandes, dois administradores executivos da TPA e RNA, respectivamente, acabam de regressar a Luanda, vindos da capital portuguesa, onde teriam ido concluir um milionário negócio imobiliário que destina uma casa a cada um dos administradores executivos dos dois órgãos de comunicação social estatais nas regiões lisboetas de Seixal e Telheiras.


Financiada pelo GRECIMA, o braço do Presidente da República para a propaganda, a operação imobiliária é descrita em meios familiarizados com o assunto como “rotineira” e visa "acautelar" o futuro dos administradores dos dois órgãos de comunicação social.


Os números envolvidos na operação já eram consideráveis, mas “engordaram” um pouco mais por causa da intermediação feita pela secretária particular de um dos beneficiários.


E assim se dá mais uma prova de que o Governo gasta, deliberadamente, rios de dinheiro para fins em que nem ele próprio acredita.

 

A saúde, a educação, o saneamento básico são sacrificados para canalizar fundos para uma causa que o próprio Governo tem como perdida desde o começo.