Luanda - Luaty Beirão e a esposa Mónica Almeida oficializaram a queixa contra agentes da polícia angolana que a interpelaram na sexta-feira. Autoridades dizem que a atitude policial foi um engano. O ativista fala em perseguição.

Fonte: DW

No fim de semana, o rapper luso-angolano Luaty Beirão, condenado a 28 de março pelo tribunal de Luanda por rebelião e e associação de malfeitores, denunciou, num vídeo na internet, que a família dele está a sofrer pressão.

 

A mulher do ativista, Mónica Almeida foi interpelada, por quase três horas, por agentes da polícia, na passada sexta-feira (29.07), enquanto estava a conduzir.

 

"Vai ser instaurado um processo disciplinar contra essa gente que já deveria ter sido identificada", disse à DW África Luaty Beirão na tarde desta segunda-feira (01.08), quando o ativista e a mulher voltavam da Direção Provincial de Investigação Criminal, onde foram prestar queixa oficial.

 

"A Mónica não só deu [às autoridades] os nomes [deles], como os nicks, que são os nomes de identificação dos agentes, e as matrículas de dois dos veículos dos patrulheiros que andaram na frente e atrás dela", disse Luaty.

Engano

Segundo o ativista, durante a interpelação, Mónica Almeida teria ficado incontactável pelo telemóvel, alegadamente por causa de um recurso usado pela polícia que bloqueia o sinal do telefone. "Ela só acabou por perceber que aquilo tomou proporções daquelas quando conseguiu voltar a ter contato, três horas depois daquela encenação. Só depois que ela percebeu o quanto que as pessoas estavam preocupadas com o que poderia estar a acontecer", explicou.

 

"Não se sabe até onde essa gente pode ir se a gente deixar as coisas como estão e encolher os ombros e apenas seguir em frente", diz o ativista.

 

A mulher de Luaty "andou às voltas" a conduzir sob ordens da polícia. No final, as autoridades alegaram uma confusão na identidade e que estavam à procura de uma "suposta assaltante".

 

Um comunicado da Polícia Nacional fez saber que foi aberta uma investigação sobre o caso.

 

A DW África tentou contatar as autoridades pelos três números de telefone disponíveis no documento para saber detalhes dos procedimentos, mas obteve apenas uma resposta clara e direta do único agente da polícia que atendeu ao telefone e que não quis ser identificado. Ele disse que não há mais nada para informar para além do que já está no comunicado, ou seja: que está a decorrer uma investigação.

"Nada disso é sério"

Uma investigação que o rapper põe em causa: "Para mim, nada disso é sério. Essas alegações de que vão investigar e de que há interesse em resolver esse assunto, de esclarecer os fatos, acredito que não vá dar em nada".

 

Luaty Beirão defende que "alguém vai ter de sofrer as consequências desse ato, de alguns agentes, com ordens superiores sabe-se lá de quem". O ativista duvida que "eles se incriminem entre eles. Nós já metemos outras dezenas de queixas contra agentes da polícia e até hoje está tudo parado. Se houver responsabilização criminal, que alguém seja penalizado juridicamente e que a minha mulher seja indenizada por causa desse transtorno que lhe foi causado".

 

Durante o período em que Luaty esteve em prisão preventiva, e nos três meses em que esteve a cumprir parte da pena a que foi condenado, até à libertação em junho de 2016, por decisão do Tribunal Supremo, Mónica Almeida sempre foi a porta-voz do rapper. Atitude que a fez ser um dos rostos mais visíveis da contestação ao Governo de José Eduardo dos Santos.

 

O luso-angolano acredita que, ao seguir a esposa, a polícia, a mando de alguém, quis pressioná-lo. "Obviamente que me desagrada que usem os meus familiares, sobretudo desta forma, fazendo-os passar por momentos destes".

Caso 15+2

Luaty Beirão foi um dos jovens ativistas detidos em junho de 2015 numa operação da polícia em Luanda. Em março de 2016, o Ministério Público deixou cair a acusação de atos preparatórios para um atentado ao Presidente e outros governantes, apresentando uma nova acusação, a de associação de malfeitores, sobre a qual os ativistas não chegaram a apresentar defesa, um dos argumentos dos recursos.

 

Os ativistas garantiram em tribunal que defendiam ações pacíficas e que faziam uso dos direitos constitucionais de reunião e de associação.

 

"[Entre os ativistas] existe uma certeza e uma convicção de que não há nada de ilícito no que estamos a fazer e que nunca deveríamos ter passado pelo o que passamos", defende Luaty.

 

"Querem que a gente fiquemos quietos, em casa, tranquilos, que nos dediquemos às nossas vidinhas e que esqueçamos o que estamos a fazer. Eu acredito que a maior parte - não estou a falar por todos os 17 [ativistas] processados - tem convicção de que o caminho é para frente e que não vamos nos deixar intimidar".