Luanda - Após a Segunda Guerra Mundial, em 1945, uma nova fase emergiu no contexto das relações internacionais, uma nova fase de emergência para a construção do nacionalismo africano. Este período determinou um novo alinhamento da ordem mundial que tinha nascido com a Sociedade das Nações (SDN) nos anos 1920. Portanto, até 1945, nenhum território africano se tinha consagrado como Estado soberano, à excepção do Egipto cujo protectorado tinha terminado em 1922, e a África do Sul cuja história era peculiar no contexto africano. A África do Sul constituía um caso típico no percurso da emancipação e construção das nações africanas, dada a sua autonomia que vinha desde o princípio do século XX, mas que registou uma trajectória própria ao longo deste século com a adopção da política do Apartheid a partir da década de 1940.


Fonte: Club-k.net

O século XX mudou o conceito e paradigmas de uma história mundial, antes construída unicamente com a força e o pilar de influência Ocidental. O mundo dominado pela influência ocidental, passou a haver grandes pressões, as quais nunca antes o ocidente tinha enfrentado, tais como desafios políticos em todo o processo da expansão europeia. A África da década de 1950 já não era igual à anterior a 1945 – os ventos da revolução chegava a toda a parte e as influências vinham de todas as partes. Neste contexto, a resistência fez nascer os movimentos revolucionários à pressa em todos os territórios africanos (Capoco, 2012: 33-34).


A génese de uma política revolucionária que se confundia, entre outras, com a luta pela instauração de Estados e a luta pelo fim do colonialismo Ocidental. Obviamente, o despertar da consciência africana foi assim, tornando-se uma, ou melhor, a marca dominante e o fio condutor de todas as reivindicações pela liberdade e pela dignidade e respeito dos povos nativos que deveriam ser gestores dos seus próprios destinos. É desta forma que começava a desenhar-se o fim das políticas e imposições coloniais em África o regresso dos impérios ao velho continente (Europa).


Estrangulamentos Políticos na Europa e a Necessidade de Imposição Africana


Na altura em que os exércitos alemães ainda no auge de acumulação de vitórias (14 de Agosto de 1941), Winston Churchill (Primeiro-Ministro Britânico) e Franklin Roosevelt (Presidente dos EUA) assinaram a Carta do Atlântico, contendo um conjunto de postulados considerados essenciais para o estabelecimento de um «futuro melhor para o mundo». Os dois (2) líderes mundiais, reconheciam nomeadamente, o «direito que têm cada povo de escolher a forma de governo sob a qual deve viver», expressando deste modo, ainda o desejo de que fossem privados pela força. Esta disposição, concebida tendo em mente a situação dos países sob ocupação das potências do Eixo, foi posteriormente interpretada extensivamente e invocada pelos povos sob dominação ou jugo colonial e, em nome dessa necessidade humana essencial. Atendendo, ao facto de que existiam ainda povos que, devido ao seu nível insuficiente de desenvolvimento, não reuniam as condições indispensáveis ao exercício da soberania plena no mundo moderno. Com isso, os Anglo-Saxões adoptaram uma fórmula transitória ou mitigada entre a Autodeterminação e o Regime da Dominação Colonial, a qual supostamente permitiria aos povos colonizados ou sob jugo colonial das potências europeias, progredir livre e rapidamente na via da civilização e da democracia.


Os africanos começaram resistir tenazmente para conquista dos seus países, e a resistência armada demonstrou-se ser o único caminho a seguir e perdurou durante um longo período de tempo, sacrificando as suas próprias vidas em prol da liberdade das suas pátrias. Muitas colónias foram abaladas por revoltas (grandes e pequenas), até ao período colonial central (1920-1950). As novas fórmulas encontradas pelos africanos passou a ser de resistência, que começou a ganhar corpo após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Derrotados militarmente, os africanos voltaram-se para a criação de novas armas de autodefesa, sendo estas armas utilizadas pelas organizações políticas.


Os dirigentes de larga visão começaram a aperceber-se de que teriam de desenvolver modernas formas de luta política, na qual, a maioria destes homens foram aquelas que tinham conseguido obter formação e educação moderna nas Metrópoles Europeiase na América (Lisboa, Paris, Bruxelas, Londres, Nova Iorque) apesar de muitos obstáculos, e por causa disso, compreendiam o mundo dos seus dominadores estrangeiros (colonos), bem como, o seu próprio mundo africano. Muito destes dirigentes tinham surgido muito antes da Primeira Guerra Mundial, alguns dos mais importantes como: J.L. Dube e Sol Plaatje (África do Sul), J. AfricanusHorton (Serra Leoa), CaselyHayford (Ghana), Herbert Macaulay (Nigéria) e vários outros, eram negros das Índias Ocidentais, que regressando às terras oeste-africanas dos seus antepassados, aí fizeram carreira distinta. Este contava-se também Edward Blyden, que se fez liberiano e exerceu grande influência no pensamento progressivo africano.


Muitos destes pioneiros da revolução africana estudaram as ideias políticas e a história dos seus governantes estrangeiros da Europa e começaram a aplicar estas ideias à causa e progresso africano. Portanto, a ideia que teve muito sucesso, foi a ideia de nacionalismo, talvez, a mais importante de todas elas. Basicamente, esta ideia de nacionalismo tratava-se da ideia europeia de que «cada povo ou grupo de povos europeus, organizados numa nação, tinha o direito de se governar a si próprio». E os líderes africanos começaram a argumentar com os seus governantes estrangeiros que, «o que era justo para os europeus, também tinha de ser justo para os africanos. Os povos de cada colónia deveriam formar-se numa nova nação e que essas novas nações deviam procurar alcançar a liberdade». Ora, a influência de grande vulto deste nacionalismo africano, cresceu lentamente, mas firme. Era ainda apenas uma ideia que era defendida e entendida pela «minoria educada» e, a maioria dos africanos nada sabia a este respeito, ou não viam como é que isso os ajudaria a expulsar os colonos das suas terras. Só depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a conflagração da situação alterou-se, e a causa da liberdade africana progrediu rapidamente em quase todas as colónias.
As Quatro Razões do Avanço da Posição Africana na Luta de Libertação do Continente Negro

Para solidificação da luta e emancipação política de África contra o regime colonial era necessário perspectivar quatro (4) razões fundamentais para o avanço na luta de libertação e a mobilização generalizada de todos os povos do continente e melhorar a situação africana:


• A fortificação das ideias do nacionalismo africano,foi especialmente a ideia de que os africanos tinham tanto direito à liberdade nacional como qualquer outro povo, e esta se transformou numa chamada agregadora de massas de gente comum em todas as partes do continente. Com isso, milhares de africanos tinham lutado com os exércitos aliados contra as ditaduras racistas da Alemanha Nazi e da Itália fascista, ou contra os exércitos do Japão imperialista, que, a seu modo, era tão racista como a Alemanha-Hitleriana ou a Itália-Mussolinista. Estes ex-combatentes regressaram às respectivas colónias e juntaram as suas vozes ao coro crescente de protesto político contra o domínio colonial que era também domínio racista. Milhares de homens e mulheres jovens que também tinham recebido as bases de uma educação moderna, especialmente na África Ocidental, juntavam-se agora às fileiras da luta política. Começando por ser uma ideia de poucos, o nacionalismo africano tornou-se uma causa popular;


• A razão que a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), travada contra os governos extremamente racista da Alemanha, da Itália e do Japão, se transformou, em certa medida, numa guerra anti-racista. Ela levou, entre outras coisas, à fundação da Organização das Nações Unidas (ONU), uma organização mundial de Estados que prometiam (pelo menos emteoria) defender o direito de todos os povos à liberdade. Isto teve também alguma influência sobre a situação africana, tanto mais que o Governo dos Estados Unidos da América (EUA), por razões de vantagem própria, estava interessado no enfraquecimento dos impérios Britânicos e Francês;


• Outra razão foi que os britânicos e os franceses, as maiores potências europeias na África e que possuíam mais colónias, foram em diferentes aspectos prejudicados pela Segunda Guerra Mundial. Os franceses haviam sido derrotados, e a Grã-Bretanha, só a muito custo conseguiu vencer. Um resultado importante foi que Grã-Bretanha tinha de abandonar o seu império na Índia; outros países asiáticos obtiveram igualmente da Grã-Bretanha ou de outras potências colonias a sua liberdade. Com estes avanços na Ásia foram encorajadores para os africanos – começarem a exercer maior pressão em prol da sua própria liberdade;


• Os britânicos que tinham a parte de leão das colonias da África e que eram também, em parte por esse motivo, a mais desenvolvida das nações detentoras das coloniais, começavam agora a mudar de ideias acerca do sistema colonial. Importantes sectores do nosso povo principiaram a insistir que se pusesse fim ao sistema colonial Britânico, mesmo aqueles que não concordavam com isto, principiaram a compreender que os seus interesses económicos não ficariam necessariamente prejudicados se o sistema colonial terminasse.

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Politólogo