Luanda - Arranca hoje o Congresso do MPLA com José Eduardo dos Santos como candidato único à presidência do principal partido angolano, depois do afastamento voluntário do general na reforma Silva Mateus.

Fonte: RFI

"Tive que engolir o meu orgulho para evitar que os apoiantes fossem mortos"

José Eduardo dos Santos, que anunciou que deixaria a vida política activa em 2018, ano em que completará 76 anos de idade e 38 no poder, não foi claro sobre os moldes em que tal abandono ocorreria e não anunciou se seria ou não candidato às eleições presidenciais agendadas para 2017.

 

A sua reeleição para a presidência do MPLA é um dado adquirido, depois de ter sido designado por unanimidade pelo comité central como candidato único, mas só no último dia do congresso que começa esta quarta-feira (17/08) é que se conhecerá o novo comité central e a figura do vice-presidente do partido.

 

O MPLA abriu a possibilidade de candidaturas alternativas à presidência do partido, estipulando entre outros serem necessárias pelo menos duas mil candidaturas de militantes "em pleno gozo dos seus direitos estatutários".

 

O general na reforma Silva Mateus, que lidera a União das Tendências no seio do MPLA e é também o presidente da Fundação 27 de Maio reuniu toda a documentação, mas decidiu recuar na apresentação da sua candidatura para que os seus apoiantes não fossem alvo de represálias.

 

"Eu consegui 2147 fotocópias de cartões de militantes do MPLA que me apoiaram...mas tive que engolir o meu orgulho...para evitar que os apoiantes fossem mortos, os funcionários despedidos e outros tantos exonerados dos cargos que ocupam, porque muitos deles ocupam cargos de chefia a nível do aparelho de Estado".

 

Silva Mateus que continua a militar no seio do MPLA, afirma que José Eduardo dos Santos "o presidente do partido orientou todos os comités para denunciarem, para desmascararem essas pessoas...que me apoiaram...eu não iria entregar as pastas com as fotocópias a eles, para evitar represálias, que podiam ser até mortes ou desemprego para a maioria dos indivíduos".

 

PERFIL DO COMANDANTE SILVA MATEUS

 

Silva Mateus, é militante do MPLA desde 1968, é preso político, duas vezes, uma no tempo colonial, tendo na altura sido julgado e condenado a 18 meses de cadeia, por tentativa de deserção das Forças Armadas Portuguesas, onde era sargento (furriel) miliciano. Foi despromovido e nas sevícias de que sofreu foi mutilado ao perder um testículo a pontapé. Por assa razão, ficou conhecido, até agora, como “Comandante Dituba”. A alcunha foi dada pelo então presidente do MPLA, Agostinho Neto, depois de ter escutado a história contada pela vítima, na presença do falecido Manuel Soares da Silva, Comandante Nelito Soares, que era do pelotão de Silva Mateus. O baptismo ocorreu em 1973, em Brazzaville, onde o Comandante Nelito Soares apresentou Silva Mateus a Agostinho Neto. Depois de Neto ter lido a certidão da sua mutilação, disse sorrindo: “Então, a partir de hoje, você é o Dituba” e ficou registada na credencial do Movimento, passada por Neto como “Comandante Dituba”.