Lisboa - Oiço que há críticas contra Lukoki (com quem tive sempre fraca proximidade, por questões geracionais e cruzamento nas posições espacias e directivas no MPLA) por ter colocado as suas ideias fora das estruturas do partido, promovendo uma conferência de imprensa paralela a um congresso do partido, em curso. Diz-se que deveria ter apresentado até uma candidatura sua, dentro do período estabelecido para o efeito e concorrer interna e pacificamente, contra José Eduardo dos Santos (JES).

Fonte: Facebook

Pedirei aos que assim se pronunciam – se o dizem de boa-fé, por desconhecimento de causa – que se dediquem a investigar um pouco, para poderem concluir sobre esta real possibilidade, dentro de um partido onde, por promoção do próprio JES, todos os caminhos neste sentido estão bloqueados. Foi, aliás, isso mesmo que Lukoki esclareceu com toda a frontalidade e clareza.

Para quem se deve lembrar, eu levantei este problema em 2001, em várias entrevistas (Agora, Folha 8 e Angolense) onde pedia que o MPLA devia debater urgentemente a questão do culto anacrónico à personalidade do líder do partido, já que não havia possibilidade de levantar esta questão dentro de um comité central de onde havia sido afastado da forma mais cobarde e traiçoeira, no congresso de 1998, por, como diziam assessores do Presidente, fazer sombra ao chefe. O mesmo aconteceu a outras grandes figuras do partido, como Lopo do Nascimento e França Van-dunem.


Já nessa altura, a minha ideia era a de salvar a imagem do partido, junto das populações, porque só o fim do culto à personalidade tornaria o partido mais apto a contribuir para o desenvolvimento do país, não importando se, vez ou outra, de forma total ou parcial, perdesse eleições, se estamos afinal, desde 1992, numa sociedade multipartidária e, consequentemente, de aceitação natural da eventualidade de alternância nominal ou colectiva no poder.


Vou ser muito franco, até porque tratei deste problema, num ângulo, o mais cientificamente possível, no meu último livro “Angola: estado-nação ou estado-etnia política”, uma tese que vai, aliás, ao encontro de Lopo de Nascimento, ao despedir-se da vida política na Assembleia Nacional, em 2014.


O problema hoje já não é de salvar a imagem e os valores que o MPLA sempre defendeu e ou corrigiu, ao longo dos anos, como parece ser ainda a preocupação de Lukoki. Eu, pelo menos já desisti disso. É que isso tornaria JES um homem igual aos outros militantes mais ou menos experientes. Mas acontece que isso amedronta a muita gente, sobretudo a uma certa elite, que agora vai se mobilizar em termos de invocações étnicas, rácicas e regionalistas, como aliás já se viu nas entrelinhas do discurso do Homem, ao declarar que o partido é de todas as raças, todas etnias, regões, etc. e mais alguma coisa, como se o problema fosse esse.


Todos sabemos que o problema, hoje por hoje, é que o país está a ser entregue a uma só família, parentes e amigos de ocasião, fora e dentro do país. Que ao menos houvesse um pouco de bom senso e responsabilidade perante o Estado que foi tomado, como se fosse um despojo de guerra, tal como nos tempos reportados no Antigo Testamento. Nada disso. O mesmo Presidente que entrega, por exemplo, um diamante valioso de Angola para filha e genro o exibirem como seu por terras europeias, em tempos tão difíceis para as populações, o mesmo que entrega o fundo soberano do Estado a outro dos filhos, sem prestar contas a ninguém – incapacita o parlamento, a justiça e os meios públicos de comunicação para escrutinarem a acção pública – dirige-se a este povo como a um ignorante que não vê nada do que se passa neste mundo.


Um amigo do FB pediu-me que escrevesse textos mais curtos, por falta luz para carregar baterias. Também nem preciso ir mais além, para apresentar propostas. Todos as conhecem e são dirigidas, desde há muito, ao próprio Presidente, aos partidos políticos, às elites da sociedade angolana e até à comunidade internacional interessada na não deterioração da situação em Angola.