Lisboa - Estou surpreendido com o que li na imprensa sobre as declarações de Hélder Amaral, enviado do CDS ao sétimo congresso ordinário do MPLA. Há, como é evidente, um erro na transcrição. Os jornalistas enganaram-se. Não se trata do ‘sétimo congresso ordinário do MPLA’, mas sim do ‘sétimo congresso do ordinário MPLA’. A ordinarice não é do congresso – um tipo de assembleia perfeitamente inócua -, mas sim do partido. Os jornalistas deviam ter mais atenção. Afinal, trata-se da reunião política mais noticiada em Angola desde aquela em que uma dúzia de activistas se juntou para ler um livro.

Fonte: CM

Sobre as declarações propriamente ditas, não me surpreenderam. Hélder Amaral tem razão quando diz que o CDS tem agora muitos pontos em comum com o MPLA.

Por exemplo, quer com Paulo Portas, quer com Assunção Cristas, o CDS posiciona-se como o partido que defende os valores da família. Ora, não há ninguém no mundo inteiro que seja mais zeloso a transmitir valores à família do que José Eduardo dos Santos. Transmite valores – normalmente através de escritura ou de transferência bancária – de vários tipos. Só à filha Isabel dos Santos já transmitiu valores que lhe permitiram adquirir participações nas maiores empresas portuguesas. É um exemplo enquanto homem de família. Houvesse mais pais assim.

O CDS é também o partido que defende o investimento privado. E grande parte dos homens de negócios que investem em Portugal são membros do MPLA. É natural que queira fazer tudo para lhes agradar.

Outros pontos em comum são a posição conservadora em relação às drogas. O CDS é contra a liberalização da droga e o MPLA também é conhecido por querer livrar Angola de substâncias ilegais. Por todos os meios ao seu alcance. Há uns anos, chegou a encher de cocaína os pneus de bicicleta de Luaty Beirão, quando este viajou para Portugal, só para retirar de Angola mais um quilo de droga.

Aliás, Luaty Beirão permitiu encontrar outra coincidência de pontos de vista entre CDS e MPLA. O partido angolano criticou a greve de fome do activista com a mesma veemência com que o CDS critica todas as greves que costuma haver em Portugal.

Manuel Monteiro, ex-Presidente do CDS, já veio dizer que este alinhamento com o MPLA é a prova de que o partido se rendeu aos interesses de Paulo Portas. Ora, se há alguém que sabe o que é render-se aos interesses de Paulo Portas é Manuel Monteiro. Foi a primeira marioneta centrista controlada por ele. Agora, passados tantos anos, Portas não tem só um, mas sim uma trupe inteira de fantoches à sua disposição. Pode encenar as obras completas de Shakespeare em bonifrates. Se Portas voltasse ao jornalismo, fundava um jornal chamado ‘O Independente (menos em assuntos relacionados com Angola)’.

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As novas oportunidades

Três dos administradores que o Governo escolheu para a Caixa não têm habilitações suficientes para o serem. Mostrando que a aposta na educação é uma das suas bandeiras, o Governo vai patrocinar a formação dos três. Bizarramente, vai ser na prestigiada escola INSEAD, em vez de ser numa lota. Armando Vara, o administrador mais famoso que a CGD já teve, era formado em peixes. Nomeadamente, robalos de parques de estacionamento. Espera-se que no INSEAD também aprendam sobre turismo, para poderem administrar a participação no empreendimento de Vale do Lobo.

Ainda devem ter o número de telefone do KGB

Continuando uma bonita tradição comunista de anti-semitismo, o PCP pressionou o Ministério da Justiça para romper a parceria com forças de segurança israelitas, que dariam formação à Polícia Judiciária sobre técnicas de interrogatório. Faz sentido. Para quê ir lá fora buscar informação, se temos cá uma organização com décadas de associação a regimes que eram tão bons a interrogar que não só faziam as perguntas, como davam as próprias respostas? Na Soeiro Pereira Gomes deve haver arquivos com essas técnicas bem detalhadas.

Estafeta 4x100 metros de aldrabice

Quão criativos têm de ser os nadadores americanos que conseguiram inventar uma história de assalto no Rio de Janeiro que, de tão inverosímil, se descobriu ser falsa? Uma patranha tão descabelada que até os marginais brasileiros devem ter dito: "Nã, isto é aldrabice. Nunca faríamos a coisa dessa maneira."

Trata-se de um país onde um semáforo em Ipanema é mais perigoso que Cabul, em que o Senado tem mais ladrões que a cinematografia completa do Quentin Tarantino, o Congresso tem mais ladrões que o Senado, e em que o ex-Presidente é bandido, a Presidente suspensa é bandida, o Presidente substituto é bandido e o futuro Presidente, se tudo correr normalmente, será bandido.

Imaginar um assalto que seja improvável para os padrões brasileiros de gatunagem só está ao alcance de um grande ficcionista.