Luanda - A moção de estratégia do líder do MPLA, José Eduardo dos Santos, propõe realizar as primeiras eleições autárquicas no país, sem estabelecer prazos, instituir um rendimento mínimo garantido, fortalecer o sistema de Defesa nacional e reformar o Estado.

Fonte: Lusa

A moção do chefe de Estado, que se recandidata à liderança do partido, foi aprovada ontem de manhã, na generalidade, pelos mais de 2.500 delegados ao VII Congresso ordinário do MPLA que decorre em Luanda, tendo sido apresentada, em forma de resumo sectorial, por três militantes indicados pelo presidente.


A moção traça a estratégia de José Eduardo dos Santos para o mandato de cinco anos – é o único candidato a sufrágio no congresso do MPLA que termina no sábado -, mas o líder do partido ainda não se pronunciou sobre a sucessão, tendo em conta o anúncio que fez em Março, que pretende abandonar a vida política activa em 2018.


Um dos focos da apresentação desta moção centrou-se na componente da reforma do Estado e foi explicada aos militantes por Carlos Feijó, membro do Bureau Político do MPLA. Nesta área, o partido no poder em Angola compromete-se a desburocratizar e modernizar as instituições públicas, incentivar a instalação de empresas e melhorar o ambiente de negócios, prometendo também o combate à corrupção.


Será ainda elaborada “legislação sobre o poder local”, para serem realizadas eleições autárquicas, as primeiras no país em mais de 40 anos de independência.


Igualmente em destaque figura o “fortalecimento e modernização do sistema de defesa e segurança nacional” e o objectivo de “reestruturar e adaptar à Constituição os serviços de inteligência”. Ainda nesta componente, a moção de José Eduardo dos Santos aponta a criação de uma indústria nacional de Defesa, capaz de assegurar as necessidades de víveres, vestuários e outros meios logísticos.


A denominada componente sobre os “pressupostos fundamentais para o desenvolvimento sustentável da economia das condições de vida dos angolanos” foi apresentada aos congressistas por Manuel Nunes Júnior, também do
Bureau Político do MPLA, que enfatizou o objectivo de “erradicar a fome e a miséria”.


“Reajustar e adaptar o programa de combate à pobreza, que deverá dar ênfase ao objectivo da eliminação da pobreza, introduzindo um sistema de rendimento mínimo garantido às famílias em situação de grande debilidade económica e social”, sublinhou Manuel Nunes Júnior, na apresentação desta componente.


A moção visa igualmente o reforço do regime de preços vigiados no país, para assim combater a “especulação sem qualquer racionalidade económica” de preços no mercado, situação agravada no último ano pela crise financeira, económica e cambial.


Acrescenta que o endividamento público, que devido à crise petrolífera cresceu fortemente desde 2014, deve ser utilizado no “relançamento da economia” e no aumento da produção nacional para substituir as importações e aumentar as exportações na agricultura, pescas, geologia e minas ou turismo.


“Devemos desenvolver um novo ciclo económico, caracterizado pela estabilidade e pela não-dependência excessiva dos recursos do petróleo. Isto é, devemos substituir o petróleo como fonte de receita fiscal”, enfatizou Manuel Nunes Júnior.


A redução da participação do Estado no sector empresarial às empresas e sectores “estratégicos” consta igualmente do documento, tal como o reforço da supervisão bancária, assim como a melhoria da qualidade de vida da população. Nomeadamente no acesso a serviços básicos, mas também “promovendo e incentivando” a mobilidade interna, para as zonas menos populosas do país.

A moção integra ainda uma componente sobre a vida interna do partido e uma “maior inserção” na sociedade, apresentada aos congressistas pelo secretário para a Informação do MPLA, Mário António, que destaca a necessidade e importância do envolvimento das várias estruturas do partido no apoio social, cultural e económico à população, face ao actual momento do país.

Falta de rigor e disciplina

No discurso de apresentação da sua moção de estratégia, José Eduardo dos Santos afirmou que a “falta” de “rigor e disciplina” tem travado o desenvolvimento do país.


“Um dos nossos grandes problemas é o de que temos boas ideias, bons projectos, bons programas, mas quando entramos para a fase de implementação dos mesmos os resultados ficam muitas vezes longe do que se esperava”, observou.


“É preciso percebermos porquê. Isto acontece porque falta muitas vezes rigor e disciplina nas nossas atitudes e comportamentos. Se nós aumentarmos o rigor, a disciplina e a nossa eficácia poderemos fazer muito mais e em menos tempo”, disse José Eduardo dos Santos, sempre fortemente ovacionado pelos mais de 2.500 delegados ao congresso.


“Temos de trabalhar de modo intenso e com criatividade para a satisfação destes desígnios, porque os mesmos representam as aspirações mais profundas do povo angolano. Devemos trabalhar para continuarmos a merecer a confiança do nosso povo”, exortou José Eduardo dos Santos, a propósito das eleições gerais previstas para 2017.


“A nossa atitude como dirigentes, quadros e militantes do MPLA tem de ser sempre no sentido de servir o povo”, rematou, numa mensagem aos congressistas.

O congresso decorre em Luanda até sábado e além das questões políticas tem focado igualmente a profunda crise financeira e económica que o país vive, fruto da quebra nas receitas petrolíferas, e a necessidade de diversificação da economia nacional.