Luanda - Pressionada para pagar uma dívida de mil milhões de dólares à Trafigura, representada em Angola pela Puma Energy detida pelos generais Manuel Vieira Dias, “Kopelipa”, Leopoldino Nascimento e o antigo PCA da Sonangol, Manuel Vicente, Isabel dos Santos não dorme em paz.

Fonte: Expresso

Mas como se isso não bastasse Angola viu o seu rating reduzido de BB- para B+ pela agência Dagong Global Credit. Com um défice público que deverá atingir 6,8% do PIB e uma galopante desvalorização do kwanza, uma nova arrelia acaba de bater à porta de Eduardo dos Santos.

 

Cansado de sucessivos incumprimentos contratuais da parte da Sonangol, o Banco de Desenvolvimento da China decidiu suspender a linha de crédito aberta para Angola no ano passado no valor de 15 mil milhões de dólares.
Amigos, amigos, negócios à parte. Este terá sido o recado enviado por Pequim a Luanda, que está a ser acusada de estar a dar um destino inapropriado a carregamentos de petróleo, que deveriam servir de contrapartida ao bilionário empréstimo.

 

Esta informação foi confirmada ao Expresso por um alto funcionário do Ministério das Finanças de Angola cujo titular da pasta, Armando Manuel, que ainda recentemente esteve em Pequim, não deverá ‘sobreviver’ à próxima remodelação governamental.

 

Negociado pelo Presidente angolano durante a sua última visita à China, metade do financiamento de 10 mil milhões de dólares entregues à Sonangol serve para cobrir os custos de produção de petróleo. “O resto é para pagar as dívidas”, diz a mesma fonte do Ministério das Finanças.

 

A verdade é que, tendo Angola deixado de honrar os seus compromissos, Pequim não foi em conversas e agora encostou à parede a nova administração da Sonangol liderada por Isabel dos Santos.

 

“Com os cofres da empresa vazios, vai ter de negociar com os chineses numa posição demasiada fragilizada, a que não está habituada”, sustenta uma jurista da petrolífera angolana.

 

A China recebia diretamente cinco carregamentos mensais de petróleo, dos cerca de 50 a 60 carregamentos entregues às multinacionais que operam em Angola, que asseguram a exportação de 1,8 milhões de barris por dia.
Com o aumento dos carregamentos para as principais operadoras estrangeiras, Angola passou a ter menos disponibilidades de venda de crude e perante a baixa do preço do petróleo viu agravar o défice orçamental.
“Estamos com uma dívida tão alta que em fevereiro só dispusemos de um carregamento para venda”, confidenciou uma fonte da Sonangol.

 

Num beco sem saída, Isabel dos Santos deverá viajar em breve para os Estados Unidos e depois para a China onde deverá tentar ultrapassar o impasse gerado à volta deste empréstimo, num momento em que Angola não dispõe de rácios exigidos pelo mercado internacional para contrair novas dívidas.

 

Para tentar libertar a Sonangol da atual asfixia financeira, Isabel dos Santos impôs o direito de preferência para comprar as ações detidas pela Cobalt em 20% e 40% respetivamente nos blocos 20 e 21 de águas ultraprofundas.

 

Mas como a petrolífera angolana não dispõe de dinheiro para fazer face a custos estimados em perto de 3 mil milhões de dólares, a empresária angolana ‘piscou’ o olho à própria Cobalt para que esta tente apurar o interesse de multinacionais interessadas na compra de parte da sua própria participação naqueles blocos.

 

A Sonangol detém 60% do bloco 21 e 30% do bloco 20 e, segundo apurou o Expresso, depois de terem sido feitas duas novas descobertas, que poderão assegurar uma produção adicional de mais de 150 mil barris por dia, aumentou significativamente o apetite de algumas multinacionais.

Mas os problemas de tesouraria da Sonangol não se confinam apenas a compromissos com credores estrangeiros. No plano interno, a falta de liquidez também está a tirar o sono a Isabel dos Santos, que não teve outra saída senão mandar suspender as obras do Terminal Oceânico do Dande e da refinaria do Lobito.

Iniciadas há sete anos, as obras da refinaria do Lobito já terão absorvido aos cofres do Estado mais de mil milhões de dólares e vários operadores internacionais, que se dispunham a estabelecer uma parceria com a Sonangol, acabaram por desistir da empreitada.

A importação de combustível, calculada em 8 mil milhões de dólares por ano, já consumiu o equivalente à construção de sete refinarias.


*Gustavo Costa