Luanda  - Há anos que constato o nascimento e florescimento em Angola de grupos de jovens insatisfeitos com a situação sócio-política e económica do país, dentre ela a violação dos Direitos Humanos, proporcionada pelo imperativo da força em detrimento do diálogo e do desrespeito a Constituição; a extrema pobreza e miséria, proporcionada pelo desemprego e salários baixíssimos; a desigualdade social, proporcionada pela não distribuição equitativa da renda e por falta de políticas sólidas de combate a pobreza; a intolerância política, proporcionada pelo egoísmo e a não-partilha do espaço político e do poder; a falta de saneamento básico, proporcionado pelo desrespeito da Lei da Probidade Pública e falta de racionamento de fatia atribuída para este serviço; a escassez de escolas e hospitais de qualidade e de referência ; a corrupção exacerbada e, sobretudo, a longevidade do Presidente da República no poder à caminho de quatro décadas. 
 

Fonte: Club-k.net

Estes jovens insatisfeitos têm manifestado de forma pacífica os seus descontentamentos de várias maneiras, isto é, através da música, livros e nas ruas. Como é de esperar, num país como Angola onde a democracia e a sua arma (a liberdade) só imperam na Constituição (é o que se constata através das práticas de repressão), vários adjectivos são usados para qualificar estes jovens corajosos, astutos e na sua maioria intelectuais. Adjectivos como "arruaceiros", "inimigos da paz" são comumente usadas por parte de alguns jornalistas dos órgãos de informação público e privado, analistas políticos e militantes do regime.

 

Se calhar é questão de má interpretação de conceitos (o que desprestigia o ensino angolano) ou uma questão de simpatia, fanatismo e bajulação (que está a se tornar um facto cultural, um meio para transcender socialmente). "Arruaceiros" e "inimigos da paz" são os que oprimem, abstêm os bens básicos da população, promovem a intolerância e reprimem as manifestações públicas, ou são os que usam a razão e o direito que a Constituição lhes confere para exigirem uma sociedade mais justa e tolerante, onde se promove a dignidade humana? Esta é uma questão que para responder é necessário despir a camisola partidária e se posicionar como Pessoa e, sobretudo patriota.

Todo o descontentamento tem uma causa e dos Activistas Cívicos da defesa dos Direitos Humanos em Angola não foge a regra, cabe a quem governa vê-lo como uma chamada de atenção, como sinónimo de que algo caminha mal na sua governação e que com mais trabalho as coisas podem melhorar, e porque ninguém cresce quando não dá ouvido a críticas. A frase de que "só erra quem trabalha" demonstra até certo ponto a humildade de quem governa e o reconhecimento das fálhas que com os seus "comparsas" veem cometendo ao longo dos anos. Mas na verdade quando se aproximam as eleições as "garras" desaparecem, a "santidade" substitui o "diabolismo", o que analiticamente este discurso pode ser considerado como demagógico.


 

Enfim, para construirmos um país forte necessitamos de todos, até da ideia e contribuição dos mais inúteis; é preciso aceitar e aprender a viver na diferença para que se ponha em prática a premissa filosófica de "um só povo, uma só nação".

*Licenciado em Filosofia e Educação.