Zaire - Esta reflexão terá como suporte um pensamento que é da minha autoria que diz o seguinte: "Endeusando alguém, se distorce a realidade desta pessoa". Quais são as motivações que levam-me a debruçar-se sobre este tema. Há anos tenho procurado entender, o porquê das lideranças principalmente Africanas têm tido uma trajectória quase idêntica. Será que há um livro que orienta às lideranças Africanas como devem governar? Esta situação levou-me a questionar o sistema educativo e o papel que a Igreja tem desempenhado.

Fonte: Club-k.net

A educação deve transmitir conhecimentos ao formando de modo que este conhecimento adquirido possa levar o formando num processo de interrogações: "porque tenho que sentar numa pedra para ter aulas?", "Será que tenho que concordar com tudo que vejo?", "porque tenho que defender as ideias x ou y? ", "Será que sou livre ou vivo em cativo", "porque tenho que obedecer a orientação x ou y", "o que fazer para alterar o rumo actual", etc. Em função das interrogações o aluno ou o estudante começa a despertar a consciência e chega num ponto onde ele, por si próprio entenderá se vive em cativo ou é livre, se vive numa sociedade democrática ou não, etc. Mas para o aluno ou estudante atingir este nível de pensamento é em função dos conhecimentos que absorve. Se o docente desde os anos inicias até nos últimos anos passar ao aluno e ao estudante, ou transmitir a estes à aceitação do status quo, dificilmente estes despertaram a consciência quer dizer continuarão a viver na inocência ou na cegueira. Pois não enxergam o mundo real, e "o conhecimento quando desperta a consciência, permite ao homem enxergar o mundo real, e só desta forma torna-se possível transformar o mundo".


Sobre a igreja, a independencia de Angola é um fruto da mensagem ou do conhecimento que a igreja transmitia pois despertou a consciência daquela geração (evangelho da libertação). Será que o nosso sistema educativo está a despertar a consciência ou está a incutir no formando para este viver no status quo.


Será que a igreja actualmente a sua mensagem está a despertar a consciência ou está a incutir aos fiéis para viverem no status quo? Este aluno ou estudante é o futuro líder, é o futuro membro duma direcção partidária, é o futuro governante, etc. Estes fiéis serão os futuros líderes quer ao nível partidário, governamental, religioso, membros do corpo directivo duma entidade estatal ou privada, etc. Agora aqueles fiéis, ou aqueles alunos ou estudantes que foram formatados para viver no status quo, quais são as contribuições que darão ao país quando assumirem funções? Pois quem está formatado para o status quo dificilmente poderá trazer a mais-valia para onde quer que esteja colocado, porquê? Porque foi formatado para o status quo, quer dizer, não tem uma massa crítica, e "sem a crítica construtiva não há desenvolvimento, pois a crítica construtiva gera desenvolvimento".


Então, o que leva um líder a autodestruição? Quando um cidadão assume a liderança de um estado, normalmente tem uma staff e uma base de apoio que são as massas. Nos primeiros anos tem um posicionamento que galvaniza às massas e a própria staff, mais como, tanto as massas e a própria staff foram formatados para o status quo, passando um tempo estes começam elogiar o líder, que é algo normal. O líder até nesta fase continua a corresponder a expectativa. Mas depois a staff e as massas os seus elogios tornam-se tão excessivos e passam de elogios para a glorificação, quer dizer atingisse a segunda fase que é a fase da glorificação, nesta segunda fase o líder começa a sentir que tem o apoio das massas e da staff, mas acontece que este no cumprimento das suas obrigações com a sociedade começa a desviar-se, quer dizer começa a olhar mais para a staff e começa distanciar-se das massas e da sociedade em geral. Então começa existir uma redução embora não muito significativa da sua popularidade, quer dizer a semente de descontentamento começa a germinar no meio das massas e da sociedade em geral.


Mas a staff em função da atenção que o líder presta a eles começam a olhar o líder como um ser humano superior a outros, e começam a pôr em causa se o líder é mesmo um ser humano. Isso não é transformar este artigo, em um artigo de ficção científica. Por exemplo alguém que vem duma condição de vida, teve uma formação que formatou-lhe para o status quo e a igreja incutiu-lhe para viver em status quo ou tem alguns bens materiais. Esta pessoa ou estas pessoas depois passam a integrar o núcleo duro ou a staff do líder, e o líder pela atenção que têm destes, eles tornam-se em milionários e alguns em bilionários. Agora alguém que vinha duma condição humilde passa a ser milionário ou bilionário em tempo recorde ou tinha um negociozito e passa em tempo recorde a ser milionário ou bilionário. É pá! Tem que se ter coração para aguentar ou suportar esta nova realidade, não é brincadeira! Então esta staff olha para o líder e diz: "líder incontestável", "líder inquestionável", etc. Começam a realizar o culto à personalidade. Eles qualificando o líder desta forma, passam a divinizar o líder ou passam a endeusar o líder. Porque estes atributos pertencem exclusivamente a Deus. Então ocorre uma metamorfose no líder, quer dizer, deixa de ser um ser humano e passa a ser um deus.


Atingisse a terceira fase que é a fase do endeusamento, e aquela semente que estava a germinar na segunda fase, já na terceira fase se transforma numa árvore, quer dizer a contestação e a impopularidade atingem níveis alarmantes. O próprio líder começa a levantar questões tão sensíveis ao público que nos bastidores a staff chega a dizer: "é pá ele não podia falar aquilo". Mas para o líder estas declarações para às massas e a sociedade em geral tem como finalidade reconquistar o apoio do povo, pois ele se apercebe embora é endeusado mais não passa de um ser humano, é impopular é muito contestado e não tem o controlo da situação. Esta terceira fase abre portas a última fase que é a autodestruição, pois na terceira fase o líder soma em tempo recorde tantos erros que asfixiam as próprias massas e a sociedade em geral.


Qual seria a dimensão do contributo deste artigo se não houvessem propostas para que, um líder embora encontrando-se na penúltima fase, pronto a autodestruir-se, pudesse inverter esta ordem de acontecimentos? Claro que não ajudaria aquelas lideranças que encontra-se já na terceira fase, mais sim as novas lideranças. Então para as lideranças que encontram-se na terceira fase ou na fase de endeusamento se pode pensar talvez que não existe um retorno possível, mais há possibilidades de se alterar o rumo das coisas. Pois os erros passados podem vir a ser usados para alterar este rumo, de que forma? Acontece que esses erros, favorecem uma minoria em detrimento da maioria, e estes erros normalmente provocam uma crise econômica, e normalmente as primeiras soluções para se combater uma crise tem haver em fazer-se cortes, nesses cortes é onde está a questão central, pois se fazer cortes que asfixia às massas e a sociedade em geral o índice de descontentamento e a impopularidade aumentam, se fazer cortes na... "ponhe em risco" a... Mas quem tem o poder na realidade? É o povo. Mais ele deve estar motivado, se o povo estiver desmotivado, é um problema muito sério e deve ser resolvido. Pois Angola e a África em geral apresentam muitas vulnerabilidades. Não se pode combater uma crise tomando decisões que asfixiam o povo, pois fazendo isso o líder está a dar tiro nos próprios pés. Quer dizer, deve desasfixiar o povo concebendo políticas que têm resultados palpáveis ou concretas. Pois nesta fase que é muito delicado ao líder, deve procurar formas de reconquistar o povo e não o contrário. Pois o povo é o detentor do poder, e a segurança do líder na verdade está nas massas e na sociedade em geral. Por isso se deve fazer cortes noutros sectores, para alocar estas verbas ao sector social, e não cortar no sector social para alocar estas verbas a sectores que o líder "pensa que garantem a sua segurança", e a história recente da África tem inumeráveis provas que mostram claramente que os líderes que em tempo de crise econômica procederam desta forma chegaram a autodestruir-se.


Para o líder não chegar a ponto de autodestruir-se deve colocar a resolução das makas do povo em primeiro lugar, pois a impopularidade e o descontentamento generalizado são elementos a ter-se muito em conta pois elas anunciam o princípio do fim. Mais acontece, mesmo estes elementos estejam tão visíveis na sociedade, e o próprio líder chegar a levantar questões que provam que há este índice elevado de descontentamento e de impopularidade. Ainda surgem vozes que dizem: "é um falso problema". Então se o descontentamento generalizado e a impopularidade são problemas falsos ou não existem, quer dizer, tudo está bem. Quer dizer o servidor público continuará exercendo as suas funções como tem exercido, pois para estes acadêmicos e políticos como a esmagadora maioria da população tem dificuldades em comprar alimentos da cesta básica, o salário que já era kochito ficou agora kochitinho, a zuguera que as vendas não permitem comprar o pão porque o pão foi sequestrado pela senhora crise e necessita de resgate que o cidadão comum deve pagar através de cortes na fatia do orçamento para área social, batem-se palmas e dizem-se vivas, mais elas não têm um reflexo na vida do povo, etc. Estes indicadores para a maior parte de académicos e políticos Angolanos são factores que elevam a popularidade do líder, quer dizer, "tudo tá mbora bom", quer dizer quanto mais o povo aperta o cinto mais popular torna-se o líder? Ou quanto mais o povo aperta o cinto mais impopular torna-se o líder.


O mais agravante é que as declarações destes académicos e políticos são difundidas em orgãos de informação público, e estas inverdades, vão aumentando a impopularidade e o descontentamento chegando num ponto que pode desencadear uma convulsão social, pois os problemas não são resolvidos mais há vozes que publicamente afirmam que tá mbora bom o rumo do país. Mais quem fica afectado directamente é o líder. Em suma aqueles que desejam o bem do líder, eles usam a crítica construtiva visando expor ao líder o país real, e aqueles que não querem o bem do líder então o endeusam distorcendo a realidade e levar o líder a autodestruição.