Luanda -Uma excessiva colagem ao poder poderá ter estado na origem do recente afastamento do padre Quintino Kandanji do cargo de director da Rádio Ecclesia. A fazer fé numa notícia posta a circular nesta sexta-feira nas redes sociais, a defecção do responsável da rádio afecta à igreja católica em Angola terá resultado de uma ordem do Vaticano.

*Ilídio Manuel
Fonte: Club-k.net

 Por alegada colagem ao poder

Consta que Quintino Kandanji foi “excomungado” pela hierarquia máxima da igreja católica a pedido dos leigos angolanos, que terão endereçado uma carta, em jeito de abaixo-assinado, ao Papa a denunciar as supostas “ conivências” do prelado com os círculos do poder em Angola.


Além do padre Quintino, Apolónio Graciano, um prelado bastante conhecido pelas suas intervenções pró-governamentais em homílias e actos de cariz político, terá sido igualmente visado pelas críticas dos leigos católicos.


Na missiva endereçada ao Papa, os subscritores anexaram um registo magnético, gravado durante um acto político, em que o padre Apolónio Graciano aparece a enaltecer os feitos do Presidente da República, José Eduardo dos Santos.


Os trabalhadores da Ecclésia, segundo uma fonte local, já foram informados sobre a saída de Quintino Kandanji, assim como da sua substituição temporária pelo padre A. Savita, director de Informação.
A notícia foi-lhes comunicada nesta sexta-feira, durante uma reunião, por Dom José Manuel Imbamba, bispo de Saurimo e porta-voz da Ceast.


A entidade religiosa alegou que a saída de Quintino Kandanji terá sido feita a seu “pedido”, uma justificação que não terá convencido os trabalhadores, já que estes há muito pediam a cabeça do seu director.


Quintino Kandanji, que se encontrava à frente dos destinos da Ecclésia desde Outubro de 2011, teve um consulado marcado por uma série de turbulências, sendo a mais recente ocorrida há cerca de três meses, quando acusou a representação da União Europeia em Angola de supostas interferências políticas na linha editorial da rádio religiosa. Os seus pronunciamentos viriam a ser desmentidos pela hierarquia da própria igreja católica.

O antigo director da rádio Ecclésia é acusado de ter subvertido a linha editorial da Ecclésia, banido programas de crítica social à governação e levado a cabo uma gestão danosa. É igualmente apontado como o responsável pela saída de muitos quadros da rádio e pelo encerramento do jornal Apostolado.

Em 2012 o seu nome figurou numa polémica lista de beneficiários de apartamentos na Centralidade do Kilamba, cujos integrantes foram contemplados com bens materiais por, alegadamente, terem apoiado a campanha eleitoral do MPLA.

Em tempos o portal "Makangola", do jornalista Rafael Marques, havia denunciado que a rádio católica recebia fundos do Governo angolanos, com o objectivo favorecer o partido no poder; fundos esses que seriam alocados por via do Ministério da Comunicação Social.

A rádio Ecclésia confronta-se há vários anos com problemas relativos à extensão do seu sinal ao resto país, mas não tem sido bem-sucedida nos seus intentos, o que já levou o Vaticano a tecer duras críticas às autoridades angolanas.