Luanda - Se tudo não passou de (mais) um “bluff” visando estancar a onda de indignação popular face ao deplorável desempenho do sector, a esta altura, a Inspecção Geral da Administração do Estado (IGAE) já terá concluído e remetido ao chefe do Poder Executivo um relatório sobre a despesa contraída e por pagar pelo Ministério da Saúde em 2015 e nos primeiros meses do ano em curso.

Fonte: Facebook

No dia 23 de Maio, o Inspector Geral do Estado, Joaquim Mande, exarou um despacho dando conta da constituição de uma comissão para, em obediência a uma indicação do Presidente da República, vasculhar as contas do Ministério da Saúde referentes aos exercícios económicos do ano passado e princípios deste.


Joaquim Mande recebeu instruções para inspeccionar as contas do Ministério da Saúde, pouco tempo depois de o Presidente da República haver exonerado José Van-Dúnem, que dirigiu a pasta por mais de 10 anos.
José Van-Dúnem foi afastado do cargo em meio a uma vaga de febre amarela e de malária que causaram muitas centenas de mortos em Angola e chegaram aos portões de alguns países vizinhos.


A violenta vaga de febre amarela e o surto de malária que lhe acompanhou deixaram à mostra que o sistema público de saúde está completamente falido. Em quase todos os hospitais públicos e, especialmente, no Hospital Pediátrico de Luanda, não havia o mínimo para salvar vidas.


No despacho, o Inspector Geral do Estado atribui, ainda, à comissão que criou a incumbência de proceder ao “levantamento do paradigma da aquisição de medicamentos” verificar o mecanismo da sua distribuição, bem como identificar os seus fornecedores e respectiva situação fiscal.


Formada por técnicos da IGAE e do Ministério das Finanças, à comissão foi fixado o prazo de 45 dias, contados a partir de 13 de Junho, para concluir a empreitada.


Se não encontrou obstáculos intransponíveis pela frente, a comissão concluiu a tarefa no final de Julho.
A questão agora é: a opinião pública merece ou não ser informada do resultado da inspecção mandada fazer pelo chefe do Poder Executivo?


Aquela diligência mandada fazer pelo Presidente da República atirou para cima de José Van-Dúnem a suspeita de haver se aboletado fartamente de dinheiro público. Então merecemos ou não ter certezas sobre se o antigo ministro da Saúde é inocente ou lambuzou-se mesmo?


Em qualquer país decente, José Van-Dúnem não ousaria pôr a cabeça na rua enquanto não visse esclarecida a suspeita que rodeiam os seus actos à testa do Ministério da Saúde.


Mas a sua recente recondução ao Comité Central do MPLA sugere que José Van-Dúnem aparentemente não se envergonha de nada. Os sorrisos que andou a espalhar pelos corredores do 7. Congresso do MPLA podem levar a pensar que em se tratando de “vandunagem”, não ha problema que não possa ser resolvido em família.

E nós, angolanos, mais uma vez vemos como o Presidente da República lida com as questões de interesse público.

Pobre de nós!


José Van-Dúnem não foi o primeiro ministro exonerado que depois teve a IGAE à perna. Mas é o primeiro que viu a IGAE a tornar público o procedimento que lhe foi ordenado pelo Presidente da República. Se houve interesse em publicitar o procedimento é legítimo que a opinião pública esperasse ser informada da sua conclusão. Por que razão o Presidente da República guarda exclusivamente para si essa informação?