Luanda - O antigo primeiro-ministro de Angola lamentou que os partidos políticos portugueses apoiem a forma como Angola está a ser dirigida apenas por estarem interessados em defender os negócios de Portugal, em troca da realização de negócios. O deputado do CDS-PP Hélder Amaral concordou com o reparo feito por Marcolino Moco e apela à aproximação cultural entre os dois países.

Fonte: DN/Lusa

O antigo primeiro-ministro angolano criticou, esta terça-feira, os partidos politicos portugueses que apoiam como Angola está a ser dirigida em troca da realização de negócios, dizendo que este é o "terceiro erro" que Portugal comete com os angolanos.

 

"Cometeram erro quando chegaram aqui, obrigaram os nossos antepassados a transformar os jovens em escravos, por isso é que Angola deveria ter 50 milhões de pessoas, mas só tem 20, primeiro erro. Segundo erro não souberam descolonizar, agora estão no terceiro erro, ou quarto ou quinto, em que só quer fazer negócios", lamentou Marcolino Moco

 

O também ex-secretário executivo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) discursava como convidado na sessão de abertura do II congresso ordinário da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), que teve inicio em Luanda e contou com a presença dos partidos portugueses PSD, BE e CDS-PP.

 

Em declarações à imprensa, Marcolino Moco disse que se estava a dirigir directamente a Paulo Portas que defendeu, em Luanda, no congresso ordinário do MPLA que os portugueses "não devem ensinar aos angolanos como devem ser angolanos".

 

"Eu respondi diretamente ao Dr. Paulo Portas, que diz que o problema da repressão em Angola, no fundo mesmo quando afecta luso-angolanos, no caso do Luaty (Beirão, ativista de direitos humanos), é um problema dos angolanos, para eles só interessa os negócios, porque senão os lugares serão ocupados pelos chineses, franceses", disse Marcolino Moco.

 

De acordo com o militante crítico do MPLA, "Portugal não é China", já que tem responsabilidade sobre Angola.

 

"Porque nós temos sangue misturado, os portugueses estão aqui há cinco séculos. Os portugueses nos colonizaram e propiciaram uma descolonização traumática, nós também fomos culpados, a nossa liderança também não foi capaz de se unir para a paz, como fez por exemplo Mandela, temos que também saber nos auto criticar", frisou.

 

Marcolino Moco acusa os partidos políticos portugueses de passividade, por não serem capazes de dizer ao Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, para não "reprimir a juventude".
"Pelo menos que digam nas conversas à porta fechada, pelo menos isso, mas nós sabemos que nem isso eles são capazes de fazer, ficam com a boca fechada, que é para ganhar dinheiro através dos negociantes que eles apoiam, e ainda dizem-no descaradamente, quando há empresários que são ao mesmo tempo ministros aqui em Angola", criticou.

 

A indignação de Marcolino Moco vai também para os negócios supostamente realizados por generais angolanos, com "suspeitas de branqueamento de capitais em Portugal".

 

"E o Dr. Paulo Portas e outros dirigentes portugueses dizem que esses processos devem ser arquivados, porque senão estamos a jurisdicionalizar as relações com Angola, não pode ser isso", disse.

 

O deputado do CDS-PP Hélder Amaral concordou com o reparo feito por Marcolino Moco, de os partidos portugueses estarem interessados apenas em defender os negócios de Portugal.

 

"Concordo com ele, é fundamental, aliás toda a cooperação portuguesa e cooperação que fazemos é uma cooperação de boa governação, de fortalecimento das democracias, é evidente que temos que respeitar o povo soberano e a escolha dos angolanos e não temos de ter nenhuma intenção de dizer aos angolanos como é que eles devem viver", disse Hélder Amaral em declarações à agência Lusa, Hélder Amaral.

 

"Ele foca exatamente isso, ou seja, cada país deve encontrar o seu modelo, concordo absolutamente com o Dr. Marcolino Moco, quando ele diz que temos que encontrar uma democracia africana, que não tem que ser uma democracia parecida com a europeia, mas nos aspetos fundamentais é evidente que tem que ser", acrescentou o deputado do CDS-PP.

 

Hélder Amaral defendeu aquilo que diz ser necessário às boas relações entre os dois países - "uma espécie de "aid and trade."

 

No entanto o deputado do CDS-PP acrescenta que "o aspeto económico é fundamental, mas não pode ser central, não pode ser só isso". Mais importante que as relações económicas é a língua comum, a aproximação cultural entre si, que "ajuda a reforçar aspectos de boa governação, melhorar o pluripartidarismo, a liberdade de imprensa, as liberdades individuais, o respeito pelos direitos humanos", salientou.

 

"Eu acho que fazemos isso, mantendo a proximidade e não pelo afastamento, porque isso faz com que Angola possa eventualmente regredir e tenho a certeza que não vai regredir para um passado que não queremos, por isso concordo, recebi a mensagem acho que ele tem razão", disse o político português.

 

Já o deputado do PSD José Cesário não quis comentar as criticas limitando-se a dizer não ser função do seu partido "fazer negócios".

 

"Nós temos aqui uma presença política, uma presença que traduz solidariedade política, neste caso concreto correspondendo a um convite muito simpático da CASA-CE, para aqui virmos transmitir essa nossa solidariedade. Obviamente os partidos políticos têm o seu papel, os empresários têm outro", avançou.