Cunene - Escrevo este artigo a propósito da fatídica morte do Professor Doutor António Didalelwa, ocorrida no final do mês de Agosto e vislumbrando, por isso, no horizonte as deliberações governativas que imanarão da visão do Presidente do Governo de Angola para a nomeação do novo Governador da Província do Kunene.

Fonte: Club-k.net

António Didalelwa foi, é e será sempre recordado, nos anais da história, como um verdadeiro obreiro-visionário Omuwambo (Kwanhama) que mudou a face do Kunene. A propósito, o D. Dionísio Hisiilenapo, Bispo do Namibe, Omuwambo genuíno, filho legítimo do Kunene com [K] e não com [C], foi profundo, preciso, audível e assertivo na sua alocução de pêsames e de agradecimentos pelos feitos realizados, na Missa de Funeral do Dr. Didalelwa, em Ondjiva. Revejam as suas palavras.


Mas, dizia, nos antanhos tempos, o primeiro Governador Português, da então Angola colonial, quando chegou pela primeira vez ao Kunene, ao ver a organização sociocultural, a disciplina, a bravura, a estatura forte, a firmeza, etc, de Ovawambo (Kwanhamas) e o modo como trajavam (na verdade Ovawambo, trabalhadores na Namíbia e África do Sul, vestiam-se bem, de fato e gravata, cheirosos de bons perfumes, de bicicletas caprichadas e rádios na mão, etc.), teria dito que aos Ovawambo (Kwanhamas) não se lhes dessem mais do que a 4º classe, já que, sem estudos são bem organizados e bravos, com os estudos seriam imbatíveis, indomáveis e criariam revoluções em Angola. Aliás, a primeira revolução anticolonial foi feita pelos Kwanhamas quando, os homens de bicicletas, protestaram contra a política dos impostos em Ondjiva. Revejam a história.


O próprio Hitler, o genocida alemão, depois de um estudo sobre os negros africanos, ansiava, de entre estes, ter nas suas fileiras militares apenas dois grupos: [1] Ovawambo e [2] um do centro de África, porque só nesses dois grupos encontrou valentia, bravura, disciplina, e compostura, etc.


Lógica, colonial de não dar certos níveis de estudos e importantes cargos no Estado e na governação aos Ovawambo (Kwanhamas), continuou firmada por todos os Partidos pós-colonial. Nunca, até aqui, em Angola do MPLA, houve um ministro Omuwambo (Kwanhama), nunca o MPLA escolheu, para seu Bureau Politico, um Omuwambo (Kwanhama). Para o MPLA, os Ovawambo (Kwanhamas) só servem para a Guerra e para Guarda-Costas, por serem bravos, disciplinados, fortes e destemidos. O Kundy Paihama sempre se arrogou de ser Kwanhama e até há bem pouco tempo muitos pensavam mesmo que fosse kwanhama, até o Presidente, e como General, criou os (des)temidos Onças da Montanha, compostos maioritariamente por Ovawambo (Kwanhamas), a unita temia-os. O Pedro Mutindi granjeou respeito e valor arrogando-se ser Kwanhama, até erradamente aquando da sua despromoção de Ministro de Hotelaria e Turismo, teria dito ao Presidente, errada, falsa e hipocritamente que os Kwanhamas não eram governados por mulheres. A história dos reis de Oukwanhama desmentem essa falsidade e erro histórico crasso. A maioria dos efetivos da Unidade da Guarda Presidencial [eram] são do Kunene [Ovawambo]. A maioria dos seguranças pessoais dos chefes, dos generais, dos ministros, dos secretários, dos Edifícios mais importantes em Luanda [Bancos, Parlamento, Ministérios, Procuradoria, vivendas, etc.] são do Kunene [Ovawambo-Kwanhamas], enquanto isso, os familiares desses guardas estão a morrer de sede e fome no Kunene.

Não é por serem "burros, iletrados", como muitos dizem, acerca dos Kwanhamas, que eles são queridos para essas tarefas de segurança, mas porque são valerosos, firmes nas suas decisões e posições, disciplinados, sem hipocrisias [não engolem sapos facilmente, senão vejam a postura honrosa, digna e de verticalidade do General VIETNAM]. Aliás, ninguém confia a sua vida, nem as suas riquezas a um matumbo, se os contratam para seus seguranças pessoais e guarda dos seus bens, é porque bem sabem quem são e qual é o seu valor. Por isso, o trabalho, feito ao longo dos 7 anos, no Kunene, pelo Professor Doutor António Didalelwa, demonstra quem são os Ovawambo [Kwanhamas]. Alias, Ovawambo [Kwanhamas] dão crédito de disciplina, rigor e sentido de Estado na vizinha Namíbia, onde governam honrosamente o país desde a independência. Vejam, por lá, bons exemplos, sobretudo, nas políticas de infraestruturas, na saúde, na educação, nas águas e energia, na segurança social, na distribuição dos rendimentos e na atribuição da pensão social, etc.


Em Angola não há nenhum grupo etnolinguístico com uma organização sociocultural e familiar como a dos Ovawambo [Kwanhamas]. A título de exemplo, visitem uma verdadeira casa tradicional de um Omuwambo para perscrutarem a divisão da casa, o lugar das visitas, a separação de poderes, a atribuição de tarefas, papéis e deveres, com direitos. Lá os porcos e as galinhas não dormitam no mesmo espaço com os humanos e a noção prática de economia, de poupança, o guardar-se os mantimentos [o stock ou almofada económica] para os tempos vindouros, caso não haja abundância, e uma gestão assimilada até pelas crianças.


No Kunene, a partir de 2008, houve cheias, infelizmente o Presidente do Governo de Angola nem vê-lo, por lá, para confortar o povo. A partir de 2012, foi a seca, o Presidente do Governo de Angola nem vê-lo no Kunene para confortar o povo. Na morte do Dr. Didalelwa nem uma palavra da boca do Presidente para confortar a família nem para consolar o povo que lhe deu, por força do bom trabalho do Dr. Didalelwa, 92% de votos em 2012. Há praticamente 15 anos que o Presidente do Governo de Angola não pisa no Kunene.


Contudo, rogamos ao mesmo Presidente do Governo de Angola que tenha em atenção, na próxima nomeação do novo Governador do Kunene, tendo em conta muitos aspetos sensíveis para o harmonioso desenvolvimento da Província do Kunene. Felizmente, no Kunene, apesar de tudo, já tem quadros suficientes e preparados para levarem a bom porto, com visão holística, responsabilidade, rigor, unidade provincial e decência, o desenvolvimento da Província. Na Angola do presente e do futuro, de “governar com e para o povo”, como disse o Presidente no seu discurso no Congresso do MPLA, precisa-se de homens e mulheres humanizados, patriotas, simples e humildes, rigorosos, visionários e com sentido de estado. Já chega de acomodar, nos cargos de governação, gente e generais sem visão, sem formação, sem humanidade, sem humildade, velhos e caducos, como o General Hilário que tanto se fala para o Kunene; mesmo, com todo respeito, que se tenha deles, honra e valor, pelos feitos bélicos à Nação.


Senhor Presidente do Governo de Angola, Engº. José Eduardo dos Santos, dê-nos um Bom Governador que continue [e inovar mais], a desenvolver a martirizada e sofrida Província do Kunene. Um Governador que não olhe só pelos seus interesses pessoais, dos seus amigos e seu grupo etnolinguístico de origem. Um Governador que seja elo de unidade entre os filhos do Kunene, e não só. Um Governador que seja inteligente e diligente, académico e do povo, capaz de ir colher, noutros países, bons exemplos de boas práticas de desenvolvimento e de governação, capaz de implementar boas, credíveis e duráveis infraestruturas. Um Governador que tenha visão e determinação, capaz de fazer ruas, mesmo sem asfalto, nos bairros das cidades da Província, capaz de fazer estradas terraplanagem [o asfalto pode ser caro, para começar] que dê acesso a todos os cantos e recantos da província para circulação de pessoas e bens e fomentar, assim, a diversificação da economia [que vá ver à vizinha Namíbia]. Senhor Presidente, queremos um Governador que ame e forme quadros, futuros da província e da Nação angolana, um Governador à altura dos desafios do nosso tempo, à altura dos grandes homens e mulheres que Kunene tem.

Nicodemos Mbia