Luanda - O Banco Nacional de Angola (BNA) disponibilizou quase 75 milhões de euros em divisas para salários de expatriados, o que tem vindo a aliviar a pressão sobre trabalhadores portugueses, alguns dos quais não faziam transferências há um ano.

Fonte: Lusa

Devido à crise económica, financeira e cambial que Angola atravessa, só de trabalhadores portugueses, segundo o Governo de Lisboa, aguardavam por transferência no final de Julho cerca de 160 milhões de euros em salários. Milhares destes trabalhadores começaram a regressar a Portugal devido à situação económica em Angola.

 

Contudo, só na última semana, entre 5 e 9 de Setembro, o BNA disponibilizou aos bancos comerciais 13,4 milhões de euros especificamente para operações de salários de expatriados. Somam-se mais 13,4 milhões de euros entre 29 de Agosto e 02 de Setembro, e 17,9 milhões de euros entre 15 e 19 de Agosto.

 

O valor máximo destas transferências neste período registou-se entre 8 e 12 de Agosto, com o BNA a entregar aos bancos comerciais 29 milhões de euros para garantir as transferências de salários de expatriados.

 

Valores que não encontram paralelo nos meses anteriores, segundo dados do BNA.

 

Trabalhadores portugueses contactados pela Lusa em Luanda confirmaram que já viram nas últimas semanas desbloqueadas transferências de salários pendentes, algumas por realizar há vários meses.

 

Este cenário tinha já sido traçado pelo secretário de Estado da Internacionalização de Portugal, Jorge Costa Oliveira, que a 20 de julho, após reunir-se com o governador do BNA em Luanda, se mostrou convicto que os vários meses de atraso nas transferências de salários dos trabalhadores expatriados em Angola poderiam começar a ser resolvidos a partir de Agosto.

 

"Fico com a sensação que há intenção de fazer pagamentos a partir de Agosto. Não me pareceu que houvesse capacidade para fazer uma assunção no calendário, porque é necessário fazer o levantamento junto da banca comercial dos montantes em atraso", explicou o governante português, no final da reunião com Valter Filipe.

 

Ressaltou que "até ao fim do ano há a intenção de fazer alguma regularização" dessas transferências por parte de Angola, "de alguma forma ordenada e priorizada" para "satisfazer vários dos pagamentos".

 

"Temos uma especial preocupação em relação à situação que atinge muitos trabalhadores e expatriados portugueses que aqui estão, alguns dos quais têm atrasos nas transferências cambiais de muitos meses e que começam a reflectir-se em termos significativos no orçamento familiar dessas pessoas", admitiu o governante português.

 

Durante a mesma visita a Luanda, Jorge Costa Oliveira anunciou que o Governo português estava a estudar o lançamento, ainda este ano, de uma linha de crédito para permitir regularizar os então 160 milhões de euros de salários que há vários meses os trabalhadores portugueses em Angola não conseguiam repatriar.

 

Garantiu que a linha que está a ser pensada, com o eventual recurso ao Tesouro português, dará prioridade aos salários dos expatriados nacionais por transferir para Portugal "há vários meses", face à escassez de divisas, mas também poderá ser utilizada para garantir pagamentos em atraso a empresas portuguesas em Angola.

 

"Os nossos cálculos preliminares apontam para 160 milhões de euros, só de [salários de] trabalhadores, mas que nós julgamos que deve ser dado tratamento preferencial, uma vez que há aqui problemas gravíssimos de gestão de orçamentos familiares que estão em causa. Até porque em muitos casos são pagamentos em atraso [transferências de divisas dos valores recebidos em moeda nacional] desde Novembro do ano passado", explicou na ocasião o secretário de Estado da Internacionalização.