Luanda - A Economist Intelligence Unit considera que a recente remodelação governamental e o anúncio da suspensão da construção da segunda refinaria no Lobito prejudicam a imagem externa de Angola e enviam "mensagens contraditórias aos investidores".

Fonte: Lusa

Em duas notas de análise sobre o anúncio da suspensão da construção da segunda refinaria do Lobito e sobre a substituição do ministro das Finanças pelo presidente do Conselho de Administração da Comissão de Mercado de Capitais (CMC), Augusto Archer Mangueira, a unidade de análise económica da revista britânica diz que as notícias são surpreendentes e que afetam a confiança dos investidores.


"A decisão de suspender os trabalhos nestes dois projetos de bandeira [segunda refinaria do Lobito e estação petrolífera de águas profundas na Barra do Dande] mostram a profundidade das dificuldades financeiras da Sonangol, que durante anos foi o motor da economia angolana", escrevem os analistas da Economist numa nota a que a Lusa teve acesso.

 

"A decisão de suspender os projetos mostra prudência" face aos resultados financeiros da petrolífera angolana no ano passado, em que apresentou uma queda nos lucros de 66%, "mas foi inesperada e, surgindo apenas quatro meses" depois da indiana Engineers India Limited ter ganhado o concurso para o projeto do Lobito, "envia mensagens contraditórias aos investidores e certamente faz pouco para melhorar a fraca reputação de Angola como lugar de negócios".

 

Com a suspensão dos trabalhos na refinaria do Lobito, que a EIU diz ser um projeto com mais de 15 anos, Angola terá de continuar a contar apenas com a Refinaria de Luanda, que foi construída antes da independência, em 1975, e que produz 50 mil barris por dia, satisfazendo apenas um terço do consumo de petróleo interno, apesar de em junho do ano passado ter havido relatos sobre o início da construção de uma nova refinaria no Soho, mas sem data para a conclusão dos trabalhos.

 

Sobre a remodelação governamental, anunciada na semana passada, os analistas da Economist consideram que ela foi "uma surpresa, apesar de não ser inédito o Presidente da República exercer uma gestão vertical da sua equipa ministerial".

 

Archer Mangueira, presidente da CMC, substitui Armando Manuel nas Finanças, cargo que ocupava desde maio de 2013, e torna-se o quarto ministro das Finanças de Angola nos últimos oito anos.

 

"Esta mudança parece refletir uma tentativa de Eduardo dos Santos de exercer a sua autoridade e estancar o descontentamento sobre o desempenho do seu Governo, mas uma mudança de pessoas no Ministério das Finanças não deverá afetar as bases da economia do país", antecipa a EIU.

 

"Angola vai continuar a lutar para gerir os efeitos deletérios do preço baixo do petróleo, que vale mais de 90% das receitas de exportação", sentencia a EIU, concluindo que "o sentimento público negativo deverá persistir, o que será uma fonte de preocupação cada vez maior para as autoridades, dada a proximidade das legislativas", em 2017.