Luanda - ELOGIO FÚNEBRE AO CAMARADA MANUEL PEDRO PACAVIRA, MEMBRO DO CC DO PARTIDO E DEPUTADO À ASSEMBLEIA NACIONAL, LIDO PELO CDA. DINO MATROSSE

Fonte: Club-k.net/MPLA

AO CAMARADA MANUEL PEDRO PACAVIRA,

MEMBRO DO CC DO PARTIDO E DEPUTADO À ASSEMBLEIA NACIONAL


- 16.09.16 -

 

SUA EXCELÊNCIA JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS, PRESIDENTE DO MPLA E DA REPÚBLICA DE ANGOLA,

CAMARADAS,

Com as almas impregnadas da mais profunda tristeza, encontramo-nos aqui hoje para render a última homenagem àquele que em vida soube assumir, de forma exemplar, os ideais de uma Angola livre, independente, democrática e próspera, - o nosso querido Camarada MANUEL PEDRO PACAVIRA.

 

A nossa presença neste local é justificada pelo sentimento de reverência que consagramos a este grande e digno filho de Angola, que parte deixando o exemplo de uma vida brilhante, com a verdadeira dimensão de homem íntegro, humanista e dedicado ao seu Povo.

 

É uma perda irreparável, que transforma este acto num momento de particular infelicidade, porquanto não mais voltaremos a ter entre nós este patriota de elevada têmpera, figura histórica do nacionalismo angolano, que se bateu incansavelmente pela independência do nosso País, contra O regime colonial português e de quem ainda se esperava, do alto da sua experiência de vida, mais contributos para a nobre causa da consolidação da paz tão duramente conquistada pelos angolanos, progresso e justiça social, valores pelos quais pautara toda a sua vida.

 

O seu percurso de vida, inteiramente, dedicada à nobre missão de fazer de Angola uma Pátria livre e digna de todos os seus filhos, representa uma permanente fonte de inspiração para todos nós e, em particular, para as jovens e futuras gerações, que nele irão, certamente, encontrar lições de um patriotismo exemplar, de uma grande dedicação ao Povo e de entrega total aos ideais da liberdade, do progresso e da fraternidade.

 

Excelências,

Estimados Camaradas,

Minhas Senhoras e meus senhores,

 

Este ilustre filho de Angola, a quem hoje rendemos homenagem, fez parte da plêiade de jovens angolanos, que, pela sua maturidade, perspicácia, sabedoria e coragem se agigantaram, determinando o derrube do sistema colonial português, escrevendo com letras de ouro o seu nome na história e na memória colectiva do povo angolano.

 

O Camarada MANUEL PEDRO PACAVIRA, membro do Comité Central do MPLA e Deputado à Assembleia Nacional, faleceu no dia 12 de Setembro de 2016, em Lisboa, Portugal, por doença, aos 77 anos de idade.

 

Filho de Pedro Manuel Pacavira e de Joana Manuel Faustino, o Camarada MANUEL PEDRO PACAVIRA nasceu no seio de uma família humilde, aos 14 de Outubro de 1939, no Golungo-Alto (Cuanza Norte), onde fez os seus estudos primários na escola da Igreja Metodista e, posteriormente, no Colégio das Beiras, em Luanda, tendo integrado a organização juvenil do Botafogo, no bairro Indígena.

 

Começa, nesta altura, a dar os primeiros passos na mobilização da massa estudantil para a organização de grupos e círculos políticos clandestinos. Torna-se elemento activo do Movimento de Independência Nacional de Angola (MINA), de que foi um dos fundadores e que viria com outros grupos e organizações de patriotas e nacionalistas angolanos a constituir-se em MPLA.

 

Ingressou nas fileiras do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) no momento da sua fundação, em 1956, com alguns jovens seus contemporâneos, nomeadamente Aristides Van-Dúnem, Noé Saúde, Guilherme Tonet, Simão Adão Manuel (Kafuxi), Jaime Madaleno, Adolfo João Pedro, dentre outros.

 

Nos fins da década de 50, o Camarada PACAVIRA, também conhecido por Pacassa, durante a clandestinidade, liga-se a Bernardo Domingos Kiosa, ao Conêgo Manuel Joaquim Mendes das Neves, Adriano João Sebastião, Fernando Coelho da Cruz, que, por seu turno, tinham ligações directas com Amílcar Cabral.

 

Em Janeiro de 1960, acreditado pelo saudoso Presidente Agostinho Neto, desloca-se à Brazzaville, para tentar estabelecer contactos com os camaradas que, no exterior, desenvolviam actividades pró-libertação de Angola, mas que, entretanto, tinham pouca informação sobre iniciativas similares no interior do País.

 

Em Junho deste mesmo ano, algum tempo depois do seu regresso de Brazzaville, é preso, juntamente com o Presidente Dr. Agostinho Neto, o Padre Joaquim Pinto de Andrade e outros camaradas que integravam a primeira Comissão Directiva do MPLA.

 

Em Fevereiro de 1961, juntamente com um grupo de 36 elementos, de entre os quais, os manos Silva e Fernando Coelho da Cruz, é deportado para a Colónia Penal do Bié, a chamada Cadeia Central que a PIDE tinha no centro do País.

 

Em Maio de 1962, é transferido, com este mesmo grupo, para o campo de concentração do Missombo, em construção no então chamado distrito do Cuando-Cubango.

 

Em 1965, é transferido para a Cadeia Central da PIDE, em Luanda. Dois anos mais tarde, é posto em liberdade e seis meses depois volta a ser preso e deportado para Cabo-Verde, na Ilha de S. Tiago, onde permaneceu, até a queda do fascismo em Portugal, isto é, depois de 25 de Abril de 1974.

 

Na Conferência Inter-Regional de Militantes do MPLA, realizada nas chanas do leste, em Setembro de 1974, é eleito membro do Comité Central do MPLA e designado membro integrante da Comissão Directiva de Luanda. Desempenhou as funções de coordenador do Departamento de Organização de Massas, sendo transferido, mais tarde, para o Departamento de Organização de Massas, a nível nacional, onde permaneceu até finais de 1975.

 

Ligado ao DOM-Nacional, foram-lhe incumbidas missões à Nigéria, Ghana, Serra-Leoa, Guiné-Conackry, Índia e Iémen Democrático, em missão de bons ofícios para informação e esclarecimento da situação político-militar prevalecente em Angola, advogando o reconhecimento da República Popular de Angola e do seu Governo.

 

Durante o ano de 1976, desempenhou as funções de director-geral dos Portos e Caminhos-de-Ferro de Angola. Em 1977, passa a desempenhar as funções de coordenador do Departamento de Reconstrução Nacional do MPLA, ao mesmo tempo que era ministro dos Transportes.

 

No 1º Congresso do MPLA, realizado em Dezembro de 1977, é reeleito para o Comité Central, tendo sido depois eleito membro da Comissão Central de Controlo e indicado responsável pelo Sector de Controlo Ideológico e Disciplinar.

 

Em 1978, designado pelo Governo como o Ano da Agricultura, foi nomeado pelo Presidente da República, Dr. António Agostinho Neto, para exercer o cargo de ministro da Agricultura e, em 1979, eleito secretário do Comité Central para o Departamento de Agricultura, Pecuária e Pescas e, posteriormente, secretário para a Esfera Ideológica.

 

Em 1983, beneficia de uma bolsa de estudos para Cuba, onde licenciou-se em Ciências Sociais, na Escola Superior do Partido Comunista Cubano, Nico Lopez.

 

Exerceu as funções de embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Popular de Angola em Cuba, Nicarágua e Itália, sendo posteriormente representante de Angola na Organização das Nações Unidas.

 

Combatente destemido pela Independência Nacional de Angola, o Camarada MANUEL PEDRO PACAVIRA, nacionalista e africanista convicto, desempenhou, igualmente, as funções de governador da província do Cuanza-Norte, durante mais de 10 anos, cargo que acumulou com o de primeiro-secretário do MPLA naquela província.

 

Eleito deputado à Assembleia Nacional, nas eleições de 1992, o camarada PACAVIRA pertencia à 6ª Comissão de Educação, Cultura, Assuntos Religiosos e Comunicação Social, onde deu o seu experiente contributo.

 

Excelências,

Estimados Camaradas,

Minhas senhoras e meus senhores,

 

Estamos a render a última homenagem a um ilustre filho de Angola, um militante da primeira hora, que nunca vacilou diante das dificuldades. Um camarada que está no MPLA desde a sua fundação, sempre dando os mais valiosos contributos. Não é por acaso que, tendo integrado, em 1974, o primeiro Comité Central do MPLA, foi reeleito para este órgão em todos os congressos ordinários.

 

Fruto desta militância consequente e entrega incondicional ao Partido que tinha no coração, foram-Lhe atribuídas as medalhas comemorativas dos 50 anos do MPLA e galardoado com as medalhas “10 de Dezembro”, “17 de Setembro”, “Deolinda Rodrigues” e “Hoji-ya-Henda”, do Sistema de Distinções do MPLA.

 

A nível internacional, recebeu as medalhas do Fundo das Nações Unidas para a Alimentação (FAO), de Amizade Angola-Cuba, atribuída pelo Estado cubano e um louvor do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Itália.

 

Membro do Bureau Político do Comité Central do MPLA até ao VII Congresso Ordinário do Partido, realizado há um mês, o camarada MANUEL PEDRO PACAVIRA era escritor, tendo sido um dos fundadores da União dos Escritores Angolanos.

 

Escreveu várias obras, cujo destaque vai para “Mingota” e “Gentes do Mato”, duas novelas de costumes angolanos, “O 4 de Fevereiro pelos Próprios”, ou seja, ele foi um dos protagonistas de um momento que marcou a viragem definitiva no relacionamento entre colonizados e colonizadores em Angola, “José Eduardo dos Santos – JES, uma vida em prol da Pátria” e, finalmente, em 2014, o “Angola e o Movimento Revolucionário dos Capitães de Abril em Portugal-Memórias (1974-1976”.

 

No Kilombo, em Ndalatando, no Miradouro, no seu escritório privado nas imediações do Largo do Baleizão, em sua casa no bairro Alvalade e depois na Urbanização Nova Vida ou em Roma-Itália, o Tio Paca, como era carinhosamente tratado pelos mais próximos, mostrou-se sempre preocupado com a questão da memória histórica da luta pela emancipação de Angola, da unidade nacional e da educação patriótica das novas gerações de angolanos.

 

É revelador dessa preocupação a dedicatória inserta no último livro, intitulado “Dedico estas memórias ao nosso filho Uatana Feijó Pacavira e aos seus amigos de geração, para os quais o País espera um futuro mais promissor”.

 

Face à sua grande actividade no mundo das letras, o também autor dos livros “Nzinga Mbandi” e “Ndalatando em chamas”, venceu, com reconhecido mérito, o Prémio Nacional de Cultura e Artes, na categoria de Literatura, em 2013.

 

Excelências,

Estimados Camaradas,

Minhas senhoras e meus senhores,

 

Foi-se um combatente, que soube fazer a luta em todas as frentes. Ganhou todas. Deixou a sua marca e o desafio aos da sua geração e não só, para que não negligenciem a memória colectiva dos angolanos, para a qual contribuiu com os seus escritos.

 

No seu modo muito peculiar de ser, soube sempre, de forma sábia e comedida, exercer autoridade sobre os que o rodeavam, tal eram as suas qualidades de liderança.

 

Tio Paca deixa o retrato de um ser humano enorme, de um pai, um conselheiro, um amigo e um patriota a tempo inteiro, de trato fácil e respeitoso, que muito se preocupava com o bem-estar de todos, mais, sobretudo, com a afirmação de Angola, como Estado soberano, igual no concerto das nações.

 

Amante do desporto, mais concretamente o futebol, os seus amigos de infância recordam-no como grande incentivador de pequenos torneios para a prática desta modalidade no bairro onde nasceu e cresceu, cuja população chora o desaparecimento físico de um dos seus melhores filhos.

 

Querido camarada e amigo,

 

Nesta hora de dor e tristeza, queremos manifestar-Te, de forma solene, o testemunho do nosso profundo e sincero reconhecimento, pelo inestimável contributo que deste para a construção do grandioso e indestrutível edifício, que é a nossa querida Angola.

 

Dizemos-te adeus, com a firme convicção de que os nobres ideais que nortearam toda a tua vida estarão sempre presentes nos nossos corações.

 

Com profunda consternação, inclinamo-nos, respeitosamente, perante a tua memória, associando-nos à dor da tua família enlutada, a quem endereçamos as mais sentidas condolências.

 

Adeus, CAMARADA MANUEL PEDRO PACAVIRA!

 

Que a tua alma descanse em Paz!

 

MPLA – COM O POVO, RUMO À VITÓRIA

PAZ, TRABALHO E LIBERDADE

A LUTA CONTINUA

A VITÓRIA É CERTA.

 

Luanda, 16 de Setembro de 2016.

 

O BUREAU POLÍTICO DO COMITÉ CENTRAL DO MPLA