Luanda - Ausentes da nossa Vila-Alice por algumas semanas, acompanhamos de longe, muito de longe mesmo, algures no hemisfério norte, o emblemático mês de Agosto a desfilar por entre vários acontecimentos políticos mais ou menos relevantes.

Fonte: Opais

Para nós, o mais importante deles foi o Congresso do MPLA, que acabou por não resolver a grande incógnita que “estamos com ela”, pelo que, por esta razão, vai, certamente, ficar na história como mais um para esquecer.


Não iríamos utilizar a já estafada imagem da montanha que pariu um rato, mas bem que nos apetecia, decepcionados que ficamos com os seus resultados tendo em vista o esclarecimento do futuro deste país.


Este provir, como todos sabemos, agora e até “novas ordens superiores”, passa pelo ano de 2018, embora ainda ninguém se tenha esquecido de uma “ordem” anterior, onde o mesmo signatário também se tinha comprometido com um outro plano de transição, que acabou por ter ido parar ao (seu) cesto dos papéis.

 

De facto estávamos a espera de muito mais deste Congresso, depois de ter sido dada a indicação o ano passado que o CC do maioritário devia deliberar antes mesmo da sua realização sobre a lista dos deputados com que o MPLA vai concorrer às próximas eleições gerais de 2017.


Esta deliberação iria permitir-nos conhecer os nomes dos primeiros dois candidatos da lista e assim esclarecer o “mistério” que prossegue dentro de momentos sobre como será feita a transição.


Pelos vistos o assunto vai continuar embarrado, mantendo-se, contudo, o ano de 2018, como a única referência da transição anunciada, altura em que JES deverá abandonar a “vida política activa”, de acordo com a sua vontade expressa.


Mesmo que não seja o candidato nº 1 da lista do MPLA, mantendo-se como seu Presidente de acordo com o mandato que acaba de receber do Congresso de Agosto, não estamos a ver como é que JES vai deixar a política activa.


Como líder do MPLA e caso o seu partido renove a actual maioria qualificada nas eleições de 2017, JES vai continuar a decidir directamente na vida política activa através da bancada parlamentar.


Como fazemos habitualmente, sempre que a geografia nos afasta demasiado da capital angolana, mesmo permanecendo conectado com a “aldeia global”, preferimos observar em silêncio o que a “casa vai gastando” e ir fazendo algumas anotações.


São elas que nos têm permitido depois, caso a substancia justifique, dizer mais qualquer coisa no âmbito da nossa “magistratura de influência”, onde agora parece estar a despontar uma nova tendência mais agressiva entre os “opinion makers” que, aparentemente, não envergam nenhuma camisola mais partidária, incluindo os jornalistas.


Ao abrigo desta tendência, sentimos que os seus adeptos estão a passar um bocado a fronteira que separa os observadores políticos dos adversários (quase) partidários, tamanha é a “ferocidade” com que formulam as suas avaliações.


Uma das anotações que fizemos desta vez e que justifica dizer mais qualquer coisa cerca de um mês depois do Congresso ter acontecido foi a referencia feita pelo Líder do MPLA na abertura do conclave ao facto de só cometerem erros aqueles que trabalham.


Lembrei-me de imediato dos “asponas”, que são os “assessores de porra nenhuma”, a quem não se permite sequer que trabalhem para não errarem.


Mesmo sendo da mesma família partidária dos seus carrascos, estes “asponas” são empurrados para fora das instituições a que pertencem e onde fizeram a sua carreira profissional, por razões que só podem estar relacionadas com receios vários que são absolutamente inaceitáveis, mas que o actual clima político inspirado nas lógicas da concentração e da exclusão continua a promover.


Lembrei-me igualmente da minha situação na RNA quando antes das últimas eleições em 2011 me vieram comunicar que eu já não podia fazer mais nada naquela estação, porque iria começar uma campanha de mobilização para o registo eleitoral.


O argumento era tão risível que a própria pessoa a quem foi dada a responsabilidade de me comunicar se limitou a encolher os ombros diante da minha perplexidade.


Na altura e para além de participar de quando em vez no programa “Tendências e Debates” eu já só fazia um comentário semanal que tinha o formato de uma revista da imprensa económica que eu mesmo tinha proposto para fazer qualquer coisa de útil para além de ser “aspona”.

Mas a ordem superior era mesmo implacável. Nada é nada.


Em abono da verdade todos trabalhamos ou queremos trabalhar mas nem sempre nos deixam fazê-lo conforme gostaríamos de fazer.


Esta conversa dos que não trabalham é pura treta/trica política com a intenção clara de atingir o adversário/inimigo colocando-o, como dizíamos no tempo do “nosso PREC”*, numa situação absurda para depois o criticar vitoriosamente.


Já fui mais de esquerda quando os “canhotos” eram grosso modo todos os que se identificavam com o marxismo em todas as suas variantes e adaptações, onde esteve incluído o nosso “socialismo esquemático” que o PT liderou.


Hoje devo-me ter deslocado para uma outra direcção, mas mantenho intactos alguns valores fundamentais que estão na origem da minha formação ideológica e que em termos mais práticos estão todos consagrados nos trinta artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos que inspirou Viriato da Cruz a escrever a proclamação “Por um Amplo Movimento Popular de Libertação de Angola” e a divulgá-la no dia 10 de Dezembro de 1956, que é exactamente a data em que a mais famosa declaração internacional conheceu a luz do dia em 1945.


Entre a esquerda e a direita mantenho-me no centro, desde que ele se chame Angola.


Sem ainda ter desistido de ser cidadão do mundo (?!?), hoje sou apenas Angola olhando tanto para a direita como para a esquerda à procura de uma tal terceira via que tarda em ser definida e implementada.


*PREC- Processo Revolucionário Em Cursoooooooo