Luanda - A China tornou-se no maior investidor estrangeiro em Angola, liderando exportações e importações, com 200 mil trabalhadores e largas dezenas de empresas instaladas por todo o país, peso que preocupa os empresários locais, pela “concorrência desleal”.

Fonte: Lusa

Em entrevista à agência Lusa, em Luanda, antecipando a realização do Fórum Macau, entre 11 e 12 de outubro, o presidente da Associação Industrial de Angola, José Severino, relativizou os 12 mil milhões de dólares (10,7 mil milhões de euros) de empréstimos que a China concedeu a Angola em 15 anos.

 

“Não me agrada nada estarmos a aumentar as importações, venham elas de onde vierem, sobretudo daquilo que nós podermos produzir no país. Acho que isso é que interessa na perspetiva dos países que se dizem amigos de Angola. Amigos de Angola para estamos cada vez mais dependentes deles não é amizade, é negócio e tem de ser tratado como tal”, começou por crítica o dirigente.

 

Da reparação de estradas, à construção de edifícios públicos, passando por obras de eletrificação, abastecimento de água ou saneamento, dezenas de empreitadas públicas têm sido atribuídas nos últimos meses a empresas chinesas, uma condição da nova linha de crédito de 5,2 mil milhões de dólares (4,6 mil milhões de euros) da China, fechada em 2015.

 

Igualmente perspetivando a presença angolana no Fórum Macau, a secretária de Estado para a Cooperação, Ângela Bragança, explicou que estão em curso negociações com vista à definição de áreas para reforço de cooperação entre os dois países, que continuam precisamente no encontro de Macau.

 

“Penso que há perspetivas muito boas para criar [com a China] a base para a diversificação do país”, disse a governante.

 

O “problema”, assume por sua vez o porta-voz dos industriais angolanos, é que as empresas chinesas praticamente não contribuem para a cadeia de produção angolana, importando tudo o que necessitam ou subcontratando serviços a outras empresas chinesas já instaladas em Angola.

 

“As empresas chinesas não gostam nada de comprar às empresas angolanas. Elas compram entre si e obviamente que isto não nos interessa, estamos a criar uma cadeia de dependência cada vez maior”, aponta.

 

José Severino assume ter garantias do Governo que, através do novo modelo de contratação pública, os contratos com empresas chinesas contam com “obrigação de subcontratação de fornecimentos locais”.

 

“Eles [empresas chinesas] é que transportam a areia, eles é que compram a brita, isto não pode ser. É voltarmos a uma dependência externa, nos não aceitámos a continuação destes procedimentos. Por outro lado têm procedimentos que são ilegais, essas empresas chinesas, na generalidade nem estão legalizadas, não pagam impostos. Isto é concorrência desleal”, afirma o industrial.

 

José Severino fala mesmo em “bagunça”, com empresas angolanas obrigadas ao pagamento de segurança social dos trabalhadores e outros impostos, o que, afirma, não acontece em regra geral com empresas chinesas.

 

“Assim não se consegue competir, mas nem por isso as obras são muito mais baratas, e já nem falo da qualidade. Só pedimos uma ação dos órgãos de soberania a dizer a estes operadores que se têm que pautar pelas regras do país”, concluiu o porta-voz dos industriais angolanos, assumindo o “desgaste” dos empresários.

 

As empresas chinesas destronaram Portugal do primeiro lugar das importações angolanas e foram as que mais compraram e venderam a Angola em 2015, segundo o anuário do comércio externo elaborado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

 

A China foi responsável pela compra de mais de 43 por cento das exportações de Angola, essencialmente petróleo, no valor de 1,705 biliões de kwanzas (9,1 mil milhões de euros), uma quebra, em valor, de praticamente 37%.

 

No plano inverso, a China destronou Portugal da liderança das origens das compras angolanas ao estrangeiro, vendendo 336,8 mil milhões de kwanzas (1,8 mil milhões de euros) em bens e serviços, correspondente a uma quota de 16,9%.