Lisboa - Um sobrinho de Manuel Vicente aparece como administrador de seis contas offshores, três das quais ligadas a negócios privados de distribuição de petróleo e gás da Sonangol. De acordo com o semanário Expresso, Fernando Osvaldo dos Santos é mencionado nas Bahamas Leaks, a fuga de informação revelada no mês passado pelo jornal alemão Süddeustsche Zeitung.

Fonte: Süddeustsche Zeitung
Das seis offshores em que Osvaldo dos Santos é referido, pelo menos três são donas de navios petroleiros – a Gazela Shipping Limited Company, Gunga Shipping Limited Company e Oryx Shipping Limited Company. As outras três são Kalandula Shipping Limited Company, Acacia Shipping Limited Company e Maboque Shipping Limited Company, mas não há provas de que estas tenham navios petroleiros a prestar serviço à Sonangol.

Além da semelhança no nome, as empresas têm também em comum o facto de os seus administradores terem sido nomeados no mesmo dia, em 2013. O sobrinho de Manuel Vicente divide as funções nas offshores com os portugueses Joaquim Valente Ferreira e João Vasconcelos.

Relação com Macau

O semanário Expresso revelou ainda na última edição a relação entre aqueles administradores e uma empresa sediada em Macau, a Ghouse Investments, SA, que chegou a assumir o contrato de compra e venda do navio Avenca, no valor de USD 34 milhões, pela Oryx Shipping Limited Company – uma das offshores que tem Osvaldo dos Santos como administrador.

A Ghouse, com escritórios em Luanda e Lisboa, é detentora da imobiliária portuguesa Chihouse, onde o sobrinho de Manuel Vicente é administrador e Joaquim Valente Ferreira é presidente. Não se sabe ao certo quem são os accionistas da Ghouse. A informação pública revela apenas que a empresa começou as suas actividades em 2008 com a aquisição do petroleiro MT Lucala. Três anos depois comprou um edifício na capital portuguesa e em 2013 um lote de quatro petroleiros.

Ainda sobre as Bahamas Leaks

Além do familiar do Vice-Presidente da República, a fuga de informação Bahamas Leaks menciona pelo menos mais dois angolanos com contas offshores ligadas às actividades da Sonangol.

Documentos anteriores a 10 de Junho de 2010 mostram Baptista Muhongo Sumbe, o então administrador-executivo da Sonangol Shipping, uma subholding da estatal, e Jaime Cohen como administradores de três offshores nas Bahamas – a Welwitschia Shipping Company, Imbondeiro Shipping Company e Pitanga Shipping Company, donas de navios com os mesmos nomes (Welwitschia, Imbondeiro e Pitanga).

Também o antigo superintendente para a área de navegação da Sonangol, Catarino Fontes Pereira, aparece nos papéis, mas a sua nacionalidade não foi comprovada. Os três dividiam funções com Joaquim Valente Ferreira e com o empresário italiano Gian Angelo Perrucci, referenciado nos Papéis do Panamá pela sua ligação com o ex-vice-presidente da Nigéria Atiku Abubakar.

De referir que, os navios Welwitschia, Imbondeiro e Pitanga, bem como os navios-tanques Mucua e Loengo, fazem parte da “frota participada” da Ghouse Investiments e da Sonangol Shipping.

Contexto

Em Abril, o enteado do vice-presidente Manuel Vicente, Mirco de Jesus Martins, foi referido no escândalo dos Papéis do Panamá (ou Panama Papers) como testa-de-ferro em várias empresas offshores das Ilhas Virges Britânicas ligadas a políticos angolanos. O próprio Manuel Vicente aparece como titular de offshores neste escândalo mais recente, Bahamas Leaks, mas terminou a sua ligação a essas contas quando abandonou o cargo de director-executivo da Sonangol, em 2012.

Actualmente, o Ministério Público português está a investigar o vice-presidente por suspeitas de ter corrompido um procurador alegadamente para arquivar um processo de branqueamento de capitais, no qual era referido.